Precisamos Falar sobre o Kevin, Lynne Ramsay









(Essa resenha contém spoilers bem conhecidos, mas ainda sim, spoilers)

Para mim, esse filme já vinha acompanhado pela capa horrenda da primeira edição do livro no Brasil. Aquela foto da capa com o garoto e uma cabeça muito estranha de algo que eu não consigo decifrar até hoje me impede até hoje de comprar o livro. E eu sou uma dessas pessoas chatas que não gosta de livros com a capa dos filmes – ou das capas dos livros do Nicholas Sparks. Desculpa.

O que isso significa? Não muito, só o fato de eu tinha plena consciência que o filme seria completamente perturbador do começo ao fim. E até que foi, embora meus sentimentos possam ser resumidos a: era melhor ter matado a criança e ir presa de uma vez. Gostaria muito de ser uma pessoa melhor e dizer que o garoto deveria ter acompanhamento e tratamento, bem como a mãe, e que todo o desfecho poderia ser evitado. Gostaria, mas ainda não sou. E não sou exatamente fã de crianças. Mesmo assim, adoro a Celia.

Eva e Franklin são atingidos por uma gravidez indesejada. Tudo ia maravilhosamente bem, até a descoberta da gravidez. Eva realmente não queria o filho, mas Franklin até que fica bem feliz. De repente, a vida se torna uma preparação para a chegada da criança. Tudo no filme é dramatizado e ele não acontece sempre na linha do tempo correta dos acontecimentos. Assim, vemos Eva, no começo do filme, no futuro, lidando com o resultado de tudo que será apresentado adiante.

Apesar dessa falta de “amor” pelo que cresce dentro dela, Eva tem o filho, que a rejeita já no hospital. Aparentemente, Kevin passa a vida toda amando só o pai e destruindo absolutamente tudo que gera uma ponta de felicidade a Eva. A mãe, perturbada, chega a quebrar o braço da criança por conta de suas travessuras. Não que o intuito tenha sido de fato quebrar o braço de Kevin, mas é isso que acontece.

Para os outros, Kevin é sempre a criança mais fofa e adorável que existe, enquanto com a mãe ele é a criatura mais detestável que eu já vi. Aquela pessoa que consegue ser completamente diferente em público, como aquele companheiro agressor que é a pessoa mais cavalheira em público, sempre elogiada por todos os seus amigos, com o perdão da comparação cretina. A criança é mestre em enganar o pai e até a irmãzinha, Celia, que é a paixão de Eva.

É difícil saber o que se passa na mente de Kevin, mas é um tanto difícil de engolir que seja apenas o ódio fruto da falta de amor da mãe, já que o pai é amoroso com ele. É importante dizer que Eva sempre contou ao marido o que acontecia, mas ele, por sua vez, jamais acreditou. Era tudo sempre fruto da imaginação dela, já que Kevin era uma criança adorável. 

Tão adorável... Franklin foi outro personagem que me despertou sentimentos horríveis. Se não fosse tão cego, poderia ter apoiado qualquer busca por ajuda. Precisavam conversar realmente sobre o Kevin, mas nunca o fizeram. Eva era sempre a neurótica que odiava o próprio filho, embora tentasse várias vezes se aproximar e cuidar dele.

Os interesses de Kevin sempre foram peculiares. Até a escolha das roupas e esporte, o arco-e-flecha, foi pensada. As roupas são sempre menores que ele. Uma criança desesperada por atenção, do começo ao fim. Sempre buscando uma plateia, mesmo que sejam espectadores do telejornal. Chega a dizer que caso ele se comportasse bem, a mãe deixaria de prestar atenção. Quanto ao perigo do arco e flecha, nem preciso dizer nada. O pai, Franklin, não podia apoiar mais o gosto do garoto, inclusive comprando o arco que possibilitaria toda a violência do garoto. A mãe vive um inferno, sempre preocupada com a filha e consigo mesma. Além de encontrar todos os animais de Celia mortos misteriosamente. Franklin até tenta culpar Eva pelo episódio que faz Celia perder um olho.

Esses três personagens são doentios de várias maneiras. No filme, acompanhamos cenas do dia-a-dia da família, o que imagino que seja bem diferente da descrição do livro. Alguns dizem que Eva permanece viva pelo amor, mas eu tenho outra visão. Eva sobrevive para passar o resto de sua vida se culpando e sendo culpada por todos ao seu redor, sendo que a pouca escolha que teve, seu marido se negou a dar a ela: a escolha de procurar ajuda. Vive para ser sempre humilhada, não ter nenhum outro ser humano em quem se apoiar e ter dificuldade para conseguir um emprego. Para sempre lembrarem a ela do que seu filho fez, alguém que saiu dela e, portanto, ela fez. Kevin a deixa viva por ódio, não por amor. A deixa viva para que ela seja quase obrigada a visita-lo na prisão, sabendo que ninguém mais o faria.

Por fim, Kevin é um personagem que vai deixa-lo perturbado ao longo da história, de muitas maneiras diferentes. Logo que terminei o filme, lembro-me de dizer: “Essa história deveria ser patenteada como contraceptivo”.

1 comentários:

  1. Nossa! O livro parece ser totalmente perturbador, eu já havia tentado assistir ao filme no Netflix mas achei super confuso. Irei assistir e, assim que eu puder, lerei o livro!
    Ótima resenha.
    www.escritarelativa.com.br

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