Estrela tem culpa de quê?


Seguindo a tradição evolutiva dos meios de comunicação, a internet proveu um meio de pessoas se encontrarem virtualmente e engajarem em debates sobre os mais diversos assuntos. A distância geográfica agora é um mero detalhe e as interações feitas através da tela do dispositivo de sua preferência são quase que suficientes. As redes sociais cumpriram um papel importante sendo o meio mais fácil de promover tais encontros, inclusive, facilitando o acesso às pessoas com mesmo gosto que você. Um desses usos (e o meu mais frequente) é para falar sobre livros, filmes, séries etc. Através daquela rede social azul escuro frequento grupos onde tais assuntos são debatidos e, em todos eles, imperou um assunto meio chato há algum tempo: as modinhas. A palavra “modinha” é usada para se referir a algo que está fazendo muito sucesso atualmente e, sabe-se lá o porquê, é alvo de inúmeras críticas, como se fazer sucesso fosse algo altamente condenável. Algo como uma grande entidade hipster virtual. E em cada tópico falando de modinhas, um nome sempre era citado negativamente: John Green. Eu vim defender o João dos Verdes. Sabe por quê? Porque ele é um ótimo autor. Eu explico.

John Green é um autor americano dono de vários sucessos literários como “Quem é você, Alasca?” e, seu mais famoso, “A Culpa é das Estrelas”. Seus livros têm uma temática adolescente constante e envolvem os relacionamentos entre os adolescentes. Seu maior sucesso, A Culpa é das Estrelas, foi o que lhe deu mais notoriedade mundial e se tornou sua primeira adaptação cinematográfica. A história fala, em resumo, de dois pacientes com câncer que se apaixonam. Desde então têm chovido críticas ao John Green e, por pura diversão, eu resolvi compilar as mais frequentes e desmenti-las. Por que? Porque são infundadas. E falsas. E talvez eu não tenha emprego, portanto nada para fazer.

“Não é literatura de verdade.”

Eita, calma, cadeira permanente da ABL. Segundo o dicionário, um dos significados da palavra “literatura” é “Escritos narrativos, históricos, críticos, de eloquência, de fantasia, de poesia, etc.” então, caso um dicionário possa ser citado como fonte confiável de informação para quem diz isso, John Green faz literatura sim. O livro existe, então é de verdade. Onde está o problema? Achei! O problema está em confundir opinião com fato, mas vamos seguir adiante.

“Ele só fala de câncer”

Outra mentira. E das grandes! Talvez pelo sucesso mundial ter se dado através da história que mais lida com câncer, mas Green não escreve apenas sobre o assunto não. “A Culpa é das Estrelas” trata do assunto bastante e “Quem é você, Alasca?” faz menção, embora a personagem que quer ter a doença, não a tenha. Cadê câncer em “Cidades de Papel”? Em “Deixe a Neve Cair”? Vários autores têm livros sobre câncer, mas nenhum recebe a perseguição que John Green recebe. O único assunto que vejo ser comum em todas as histórias dele é a autoestima. Seja em personagens que tem pouca, seja em quem a tenha demais. Outra coisa comum é o aspecto “nerd” do protagonista. Não exatamente “nerd”, mas sempre há um gosto pela literatura, jogos ou um comportamento inibido característico desse grupo.

“Ele usa a doença para vender livros”

Que? Como? Até onde sei, Green não participa de nenhum time de pesquisa de laboratório oncológico para ganhar dinheiro com câncer, mas se podemos julgar ele pelo assunto do livro que o fez ter fama, devemos dizer que Rowling ganha grana com bruxaria? Collins ganha dinheiro matando crianças? John Green apenas fez uso de um tema – adolescentes com câncer – para um livro e parece estar fadado a ser criticado por essa escolha. É ignorância acreditar que ele tenha utilizado de um assunto que provoca dor em milhares de famílias para obter fama e, se obteve, certamente não foi apenas pela doença. Um livro ruim sobre câncer continua sendo um livro ruim. As pessoas não vão comprar porque fala de câncer apenas. Esses são os livros de medicina e, geralmente, não vão para o cinema. Sendo assim, existe algo de bom sim nos livros dele. Talvez você não tenha achado. Não significa que não exista.

“Os livros dele são muito chatos”

Opinião não é fato. Próximoooo...

“Quem é John Green perto de (insira nome de qualquer autor aqui)?” (pergunta às vezes acompanhada de uma fila de pão que até hoje não achei).

Bem, perto de (insira nome de qualquer autor aqui), John Green continua sendo John Green. Comparar autores é algo burro. Isso mesmo: burro. Obras diferentes, assuntos diferentes, públicos diferentes... Então por que uma comparação equivalente? Saiba que Green é um autor premiado e, antes que digam que os fãs dele não entendem de literatura para julgar (vocês adoram esse argumento), os prêmios dele não são de categoria que envolve voto popular. A crítica especializada já deu ao João Verde o Printz Medal, Printz Honor da American Library Association e um Edgar Award. Ele ainda foi duas vezes finalista do prêmio literário do NYT. Então cuidado ao forçar comparações porque às vezes, ele pode até ser mais premiado ou mais vendido que o autor que você está tentando sobrepor. Na dúvida pare com as comparações como um todo. Aliás, na fila do pão John Green continua sendo o mesmo ok?! Ele só deve estar com fome.

Não há como negar o sucesso do autor. Não há como negar também que, assim como Harry Potter foi para mim, Green seja a porta de entrada para a leitura de muitas crianças. Talvez seja o alívio de muitos adolescentes que se sentem reprimidos ou de muitos adultos nostálgicos. A crítica especializada facebookiana deveria dar um tempo de tentar arranjar o que reclamar do autor porque: 1) ele é bom sim, ou não teria vendido tantos livros, feito tanto sucesso e se tornado o livro preferido de muita gente; 2) suas histórias são boas ou não teriam obtido duas adaptações para o cinema com grandes bilheterias e com outras duas em andamento e; 3) as pessoas que, de fato, leram seus livros, em sua maioria, gostaram e leram os demais. Leram de novo.

O que me irrita um pouco nesse comportamento é a segregação que vem acompanhada. É tão estúpida quanto incoerente. Nos grupos de discussão que citei, as pessoas que gostam de livros que são taxados de modinhas ou considerados ruins pela maioria (que nem deve ter lido) são percebidos como ignorantes, para dizer o mínimo. Alguns autores são taxados de “leitura inteligente” enquanto outros são “modinhas”, sendo esse último grupo o mais criticado e debochado pelos que se dizem leitores do primeiro. Que tal ler algum livro do John Green e erradicar esses preconceitos de uma vez? Caso não queira, que tal deixar quem gosta de lê-los em paz? Volta lá para o Ulysses que você diz ler. Isso é, se a cabeça fechada que faz tais “críticas” for capaz de entender a grandiosidade que é. Quase infinita, mas como eu sei que você sabe: “alguns infinitos são maiores que outros”. Vamos conviver em paz, ok? Ok.

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