O Fim da Infância, Arthur C. Clarke


Minhas palavras nesta resenha continuarão a ser insuficientes para descrever com precisão o fenômeno existente dentro das páginas desse livro e a largura dessa experiência literária que Arthur C. Clarke nos deu quando escreveu “O Fim da Infância”. Essa é uma novela de ficção científica que explora a complexa relação entre começos e fins, e o imensurável processo de evolução. Clarke, porém, tentou ferozmente capturar a essência desse conceito ousado em sua história e sinto-me no dever de tentar fazer o mesmo aqui.

Eu li este livro, primeiramente, há quatro anos, onde fui capturado pela sua sinopse. Foi este livro, em particular, que impulsionou minha busca por outras obras-primas clássicas da ficção científica. Tenho hoje, ao total, três edições. Minha fascinação por este livro veio logo nas primeiras páginas e, ao termina-lo, senti como se tivesse atravessado um novo horizonte. 

Tenho o costume de sempre ler as orelhas e a introdução de qualquer livro antes de começar a ler a história propriamente dita e, por esse motivo, acabei coletando alguns spoilers. Bom, era o que eu achava antes de começar a lê-lo. Na verdade, o enredo era muito maior do que os spoilers e não comprometeu em nada minha leitura. Por isso, contarei aqui apenas o indispensável. Certo dia, na Terra, enormes naves alienígenas pairam sobre diversas cidades, porém, invés de invadir, como se pressupôs, os “senhores” propuseram uma oferta de paz continua e duradoura aos humanos. Contudo deveriam parar suas atividades científicas, especialmente a exploração do espaço, pois “as estrelas não são para os homens”. Este é o plot inicial desta história que se desenvolve brilhantemente. Há um forte suspense no ar, pois até a última página do livro não se sabe quais as motivações dos alienígenas. E quando eu digo última página, estou falando literalmente. O enredo é entregue de maneira sutil, o desenvolvimento dos plots principais e secundários são harmoniosos, junto com a escrita clara e objetiva de Clarke. Você dificilmente conseguirá largar esse livro por muito tempo.

Passei a considerar “O Fim da Infância” como uma das histórias mais bonitas que já li; “bonito” não como abstração, mas como uma expressão de satisfação espiritual que essa história me causou. O vazio deixado por ela ao fim da leitura foi preenchido com uma nova maneira de enxergar o universo e o meu papel nele. Não sei se posso considerar este livro como a obra-prima de Clarke, mas digo que a intensa experiência que esta obra me causou foi a mesma que Watchmen, por exemplo. Em pouco mais de 250 páginas, fui transportado para um mundo de grandes possibilidades, o que é um contraponto em um gênero como a ficção científica. A história de Clarke não é bonita por revelar um mundo de grande paz induzida, mas por servir como advertência para as ações humanas; a autodestruição iminente ao qual a sociedade insiste em andar a favor. 

“O Fim da Infância”, apesar de seu título enganador, sinistro, é sobre um futuro de inevitável transcendência. Os seres humanos evoluirão, mesmo que isso acabe com os capítulos de grandeza da humanidade. É também uma mensagem sobre não temer a própria mortalidade, pois cada final é, na verdade, também um início.

O suspense desse livro é intenso, porém há momentos em que se acha que nada mais surpreendente irá acontecer. Ao pensar isso, tenha certeza de que Clarke está pregando uma peça em você. Ao chegar no final, já sem fôlego, pensei que não poderia ser surpreendido e fui. Muito. Talvez um dos finais mais aterradores e inesperados que já li.
Desde os momentos finais iluminados desse livro que me pegou de surpresa, tudo o que eu podia fazer era fechar meus olhos e imaginar se esse final nunca poderia acontecer de fato. Existe um senso de totalidade, balanço e equilíbrio quando a história atinge seu clímax. Foi aí que percebi e entendi o título do livro e como Clarke teceu os conceitos de paternalidade e infância com uma interpretação perspicaz e comovente. Espero que você perceba também. 

“O Fim da Infância” permite que seus leitores experienciem não apenas cientificamente, mas filosoficamente o que, exatamente, acontece quando a “criança” sobrevive aos seus “pais”; como gerações passadas precisam cair para existir o futuro. Eu refleti sobre a forma como os meus pais me criaram, isso me fez pensar se eles não me veem realmente como uma extensão de seus genes, mas como a morte de sua própria existência e relevância - e deve ser tão terrível que nós simplesmente não reconhecemos. Portanto, é notável pensar que a minha sobrevivência significa que suas vidas, em última análise, não foram em vão. E o que parecia ser o fim, na verdade, era apenas o começo.

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2 comentários:

  1. Será que ainda se encontra a venda essa edição? Adoro os livros do Arthur Clark e do Isaac Asmov.

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  2. Será que ainda se encontra a venda essa edição? Adoro os livros do Arthur Clark e do Isaac Asmov.

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