Sobre a Escrita, Stephen King



Fui conhecer Stephen King de verdade quando descobri sobre sua série de livros, A Torre Negra. Recordo-me de ter ido procurar uma certa palavra em inglês no Google Tradutor ("gunslinger") e, quando recebi a tradução, acabei cometendo o engano de colocar a palavra traduzida na barra de pesquisa do Google. O resultado disso foi meu primeiro encontro com O Pistoleiro, primeiro volume da série de livros citada acima. Depois que li as primeiras palavras do livro, antes de mesmo de comprá-lo, eu sabia que o King havia me ganhado. Isso foi no final de 2010. Hoje, tenho mais de 30 livros dele em minha coleção, incluindo edições brasileiras e importadas, e uma tatuagem no pulso esquerdo em homenagem ao Ka, símbolo de grande poder na Torre Negra.

Para quem não sabe, Stephen King é o autor de mais de 60 romances. Considerando que sua carreira de escritor começou com o lançamento de Carrie nos anos 70, são cerca de 40 anos de carreira, o que sugere mais de um livro escrito e publicado por ano. Isso sem considerar os contos que ele lança e que acabam sendo reunidos, uma hora ou outra, em coletâneas como Quatro Estações e, o mais recente trabalho dele publicado no Brasil, Escuridão Total Sem Estrelas. Isso é muita coisa. Muita mesmo. Então, quem melhor para escrever um livro falando sobre a arte de escrever do que um autor prolífico e de sucesso como ele?

Com essa minha adoração de certa forma exagerada em relação ao Mestre do Terror (título correto, mas que não se aplica à sua carreira inteira) e meu amor pela escrita - apesar de estar escrevendo cada vez menos nos últimos meses -, era apenas uma questão de tempo até que Sobre a Escrita - A Arte em Memórias chegasse às minhas mãos. Quando o livro finalmente chegou, eu ainda dei uma enrolada, mas acabei lendo-o e amando-o intensamente.

Sobre a Escrita é dividido em três partes: Currículo, Caixa de Ferramentas e Sobre a Escrita. Na primeira parte, o autor fala sobre sua vida e as decisões e acontecimentos que o transformaram em quem ele é hoje, servindo como um curriculum, um cartão de visitas, um "foi assim que tudo aconteceu e é por causa disso tudo que sou assim e escrevo da maneira que escrevo". É nessa parte que ele conta suas memórias de infância, sua associação (quase) nada produtiva com seu irmão mais velho, Dave, suas primeiras cartas de rejeição, a primeira vez que viu sua esposa de longos anos, Tabitha, seus anos na faculdade e a dificuldade que era ser professor de inglês, trabalhar numa lavanderia e ainda escrever - não só porque ele gostava de escrever, mas porque ele precisava do dinheiro para sustentar sua família. Com uma pequena autobiografia que nos mostra o homem por trás de suas obras, Stephen abre fabulosamente seu pequeno livro de como escrever.

Na segunda parte, Caixa de Ferramentas, Stephen faz uma comparação de uma caixa de ferramentas gigantesca que seu tio tinha, e que era passada de geração em geração, com as ferramentas que um escritor deve ter ao escrever. Ele divide a caixa em três níveis. O primeiro é o seu conhecimento gramático e vocabular. Stephen diz que você não precisa ter um vocabulário digno de um dicionário para ser um bom escritor e que, na maioria das vezes, a primeira palavra que surge em sua mente é a palavra correta. Em relação a gramática, Stephen abomina dois usos literários: o da voz passiva ("rochas explodem, Jane transmite, montanhas flutuam e ameixas deificam") e o uso de advérbios ("Acredito que a estrada do inferno esteja pavimentada com advérbios"), além de descrever outros pontos gramaticais importantes para um autor novato. Os "elementos de estilo" preenchem o segundo nível da caixa de ferramentas, fazendo referencia ao livro "The Elements of Style", de William Strunk Jr. e E. B. White", obra que Stephen cita inúmeras vezes ao longo de Sobre a Escrita. E o último nível, o terceiro, é bem simples: colocar a mão na massa e usar suas ferramentas para escrever.

Na terceira e última parte do livro,Sobre a Escrita, Stephen finalmente chega ao ponto: se até agora ele estava falando de métodos de preparação para escrever, agora ele descreve o ato em si e do que é necessário uma vez que você achou seu lugar especial, tirou todas as distrações de perto de você (feche a janela, desligue a televisão, corte a internet) e finalmente se sentou para escrever. Nessa parte, Stephen analisa tudo o que é importante na hora de escrever ficção. Ele fala sobre o diálogo, como descrever, o que é importante num livro, o não uso de enredos, construção de personagens, temas literários e muitos outros pontos necessários para a criação de uma boa história.

Terminando essas três partes, há algumas coisas a mais, como um relato de seu acidente em 1999, que quase o matou, duas listas de livros que ele recomenda a leitura e uma análise mais aprofundada de tudo que ele disse previamente, fazendo uma revisão de um texto dele mesmo.

Algumas pessoas podem achar que Sobre a Escrita se trata de pura retórica, como uma espécie de manual para o bom escritor, usando de jargões e expressões técnicas que só poderão ser entendidas por um grupo ínfimo da população, mas essa concepção adiantada, esse preconceito, estaria errada: Stephen fala de tudo e faz de tudo no livro, menos deixar o leitor entediado. Caminhar pela mente do Mestre do Terror é fascinante e inspirador, e as dicas dadas ao longo da autobiografia/aula, além de valiosas, são dadas de forma descontraída e objetiva, fazendo com que o leitor continue virando as páginas apesar de não existir nenhum mistério ou assassinato a ser resolvido no final.

Sobre a escrita com certeza entra no meu rol de livros favoritos por inúmeras razões além das descritas acima. Utilizando-se de uma voz sincera e descontraída, Stephen King, o Mestre do Terror, nos faz rir de suas façanhas infantis, emocionar com as passagens que relatam seu relacionamento com Taby, entender um pouco mais do homem por trás de tantas obras de sucesso e ainda nos dá dicas de como escrevermos e desenvolvermos aquelas ideias que ficam vagando pelos confins e afins de nossas mentes, esperando um momento para se libertarem e viverem. Stephen faz tudo isso em menos de 300 páginas e da única maneira de escrever um livro: uma palavra de cada vez.

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