Almaços (9th Pub)



Ele havia entrado na padaria para comprar um maço de cigarros, mesmo sabendo que ela não vendia e que nem tinha dinheiro para comprá-lo.
─ Por favor ─ disse ele para a vendedora do balcão, ─ um maço de cigarros.
─ Senhor, não vendemos cigarros ─ respondeu a mulher atrás do balcão.
─ Mesmo assim, eu gostaria de comprar um maço de cigarros.
─ Isso é uma padaria, não vendemos cigarros.
─ Vendem sim que eu sei. Vamos, por quanto você me venderia?
─ Senhor ─ suspirou a mulher, ─ não temos cigarros aqui. Compreende?
─ Não?
─ De maneira alguma.
─ Que absurdo! Todos os lugares deveriam ter cigarros.
─ E por que você diz isso?
Ele olhou para trás, em direção a rua, colocou as duas mãos no bolso e tirou um papel amassado de um deles.
─ Por favor ─ disse ele. ─ Leia o que está escrito nesse papel.
A mulher pegou o papel, com receio, desamassou-o o suficiente para conseguir entender o que estava escrito e portou-se a dizer em voz alta:
─ Aqui, na rua, eu vi uma delicada mulher, linda como o brilho de uma lua cheia, andar. Eu, estonteado pela beleza singular e rara dela, a persegui como um sonho de verão. Ela nunca olhou para mim, mas eu sempre tive a oportunidade de vê-la, de ver aqueles olhos de cor azul como o céu e com tantos pecados quanto possíveis. A persegui por 26 dias, contando os domingos, até o dia que me atrevi a lhe falar. Ela possuía uma voz de seda, delicada e suave, pronta para esmagar meu coração com veludo. Ela retirou um cigarro de sua bolsa, o acendeu vagarosamente e me ofereceu um. Aceitei sem pensar duas vezes, embora eu não fumasse. Ela me disse que todos deveriam fumar. Perguntei para ela, por que, e só o que eu vi foram os dois olhos dela virando para mim, com um ar angelical, e o som de uma risada leve, de outro mundo. Ela respondeu com a seguintes palavras: “Quando o amor não serve de vício, porque mata e esmaga, o cigarro é um excelente apaziguador de corações”. Perguntei-lhe, “por que então não a bebida?”, e ela me respondeu “bebida? Ela vícia, e mata, e te faz perder o ─ a mulher deu uma pausa, olhou para ele, que fez sinal para continuar ─ E ela continuou: “deveria haver cigarros em todos os lugares”. Novamente, lhe perguntei “por quê?”. Sua resposta, que nunca esquecerei: “Quando a vida dá uma trégua, é hora de fumar. É hora de matar a dor, de esquecer a dor. O mundo precisa de cigarros. O mundo precisa de amor.
─ Ótima leitura ─ disse ele. ─ Pode parar aí mesmo. Deixe-me te perguntar, você fuma?
A mulher, esbabacada pelo o que havia lido, demorou a responder.
─ Sim. 
─ Você ama?
─ Sim.
─ Com que frequência?
─ Como assim?
─ Quando você se toca que está amando?
─ Eu.. não sei.
─ Entendo. Então, você tem cigarros, não é?
─ Tenho?
─ Poderia me dar um?
─ Claro.
A mulher se afastou, pegou um cigarro e deu-o para ele.
─ Muito obrigado.
─ Sabe, você poderia ter ido na loja do lado, lá eles vendem maços de cigarro.
─ Eu sei. É que eu não tinha dinheiro e precisava amar um pouco.

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