The Archandroid, Janelle Monáe

Dois anos após fazer a crítica musical render-se ao seu excelente EP debutMetropolis: The Chaise Suite I”, Janelle Monaé retorna em 2012 arrebatando o universo musical com mais dois capítulos de seu argumento no álbum “The Archandroid”. Além de um disco excelente, o álbum propõe uma experiencia musical vasta, rica e profunda. Um misto de estilos que se conectam de uma maneira extraordinária, cujas influências vão desde de Fritz Lang a Philip K. Dick, de Michael Jackson a David Bowie. Uma coleção fantástica de sentimentos que resultou num álbum bem trabalhado, conciso e cativante.

Continuando o enredo iniciado em “Metropolis: The Chaise Suite I”, acompanhamos a história de Cindi Mayweather, uma androide messiânica que viaja no tempo para salvar os cidadãos de Metrópolis das garras de uma sociedade secreta que suprime a liberdade e o amor. “The Archandroid” apresenta os dois capítulos seguintes num ritmo hipnotizante e teatral. A primeira faixa do álbum é uma peça clássica que nos remete aos antigos filmes mudos, apresentando aos espectadores uma espécie de introdução ao capítulo que seguirá. Assim que acaba, mergulhamos na forte correnteza da Janelle Monáe em “Dance or Die” e somos guiados através de um grande ecletismo musical pelo álbum. Monáe se propôs a remontar e reconstruir, a desmontar e desconstruir uma gama de estilos e, o que poderia facilmente dar errado, se tornou um acerto impressionante para uma “novata” no mundo da música. O clima steampunk permeia todo o álbum, influenciado principalmente pelo resgaste ao espírito vitoriano, às peças da Broadway e ao retrofuturismo. O próprio encarte do álbum é uma releitura do clássico “Metropolis” do alemão Fritz Lang.



O primeiro capítulo apresentado em “The Archandroid” trata sobre guerra e amor numa profusão de ritmos elétricos; o soul e o RnB se fazem presentes em toda sua extensão. Já o segundo capítulo possui uma alma mais melancólica, resgatando o decadência social do inicio do século XX, cheio de baladas poderosas que nos levam imediatamente aos espetáculos "broadianos". A voz da Monáe é um espetáculo à parte, ouso dizer que é uma das melhores vozes da música atual, cujo tom está sempre limpo, agradável e suave, mas que também pode adquirir agressividade sem perder a graciosidade. Uma voz rara que não deve nenhum poucos às divas do soul.

Inspirada pela citação “o mediador entre a cabeça e as mãos deve ser o coração”, Monáe diz em entrevista que Cindi é a mediadora entre os que têm e os que não têm, numa clara alusão à guerra entre opressores e oprimidos presente em seus versos. O conceito proposto na sua obra é uma grande alegoria sobre a luta de classes, sobretudo a luta dos oprimidos, onde as próprias influências musicais da Monáe para o disco traduzem seu conceito. Os estilos musicais apropriados pela artista são oriundos de lutas sociais, sobretudo a racial. E numa ode à liberdade e ao amor, somos gratamente presenteados com um trabalho bem construído, que nunca peca em ritmo, enredo e coesão. Mas, além disso, podemos esquecer facilmente todo seu conceito e apenas nos concentrarmos na música propriamente dita e, ainda assim, não perder o entusiasmo. “The Archandroid” é magnético, envolvente e elétrico. Um dos melhores álbuns de 2010 (se não o melhor), que provavelmente se manterá atemporal enquanto seu conceito for um reflexo da realidade.

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