Escuridão Total Sem Estrelas, Stephen King


Você pega o livro e ele faz jus ao título já na capa. É assim com a edição nacional de Escuridão Total Sem Estrelas, de Stephen King. O livro é escuro: capa, lombada e lateral das folhas preto. É um livro de contos, contendo quatro deles, onde um tema permeia todos eles embora não explícito. As histórias são diferentes entre si, mas todas têm em comum o lado mais obscuro do ser humano. A escuridão do título se refere à esse lado que, no decorrer da leitura, prova-se capaz de estar em qualquer pessoa. Em cada um deles você apreciará o que uma pessoa consegue ter ou ser de pior, e será incrível. Como são apenas quatro, eu falarei de cada um separadamente.

1922
Esse conto começa com uma confissão. Wilfred, um agricultor apaixonado pelo seu estilo de vida, conta diretamente ao leitor que, com a ajuda do seu filho Hank de 14 anos, matou sua esposa Arlette e escondeu o seu corpo em um poço atrás de sua fazenda. O motivo? Arlette queria vender sua parte das terras para se mudar para a cidade. Começa então uma jornada destrutiva onde os dois culpados, embora Wilfred abstenha o filho de culpa alegando que ele foi persuadido, tentam, ironicamente dado o começo do conto, esconder o crime. Um deles começa a se corroer de culpa enquanto outro se corrói de ódio de Arlette, e alternam essas posições no decorrer da trama. A culpa por parte do pai aumenta à medida que ele percebe que a morte de Arlette causou muito mais dano que ele imaginava. A história acompanha toda a confissão, embora nos esqueçamos dela de vez em quando, até rumar a um desfecho que não é surpreendente, mas cabível, que encerra a história de uma maneira tão definitiva que não deixa nada a ser questionado depois.

O Gigante do Volante
Uma escritora de livros policiais é convidada para uma palestra em uma livraria. Se aproveitando de um atalho no caminho de volta para casa, ela é estuprada e deixada para morrer em um canto da estrada. Definindo ali um marco na sua vida, mesmo que negativo, ela se torna outra pessoa, movida por um ódio cujo único objetivo passa a ser se vingar do culpado. Ao iniciar sua busca por ele, ela se dá conta de que há muito mais por trás do que parecia ser apenas um crime isolado eventual. Repleto daqueles pequenos detalhes que se encaixam perfeitamente ao longo de toda narrativa, esse é um conto mais cativante que o primeiro e induz no leitor um sentimento de avidez pela tão esperada vingança da protagonista. A narrativa desse não é empolgante, apesar de ter muitos momentos de ação, mas o suspense faz muito bem o trabalho de deixar o leitor sentado na beira da cadeira temendo virar a página.

Uma Extensão Justa
No melhor conto do livro, somos apresentados à Streeter, um homem com câncer em estágio terminal. Numa de suas viagens, ele conhece um vendedor com sua barraca vazia. Descobre que ele vende “extensões”. De vida, de crédito ou de pênis, se quiser que algo fique maior, fale com Obadi. O leitor não precisa ser Robert Langdom para saber de quem se trata. Alertado de que o mal retirado de si deverá ser passado adiante, as consequências de pedir a extensão que se deseja podem ser catastróficas. O que há de impressionante são as tais consequências. Principalmente em quem elas são infligidas. Essa história tem o personagem com personalidade mais adequada ao título do livro e ler suas reações diante do que ocorre ao longo da história é assustador e empolgante. De uma maneira doentia, claro, mas empolgante. Vale ressaltar também que é nesse conto que aparece aquelas referências que King faz às suas outras obras. Uma Extensão Justa toma lugar na cidade de Derry, lar de Pennywise, o palhaço dançante de It. 

Um Bom Casamento
Darcy e Bob são casados há 27 anos. São felizes e tudo está bem. Sabem da rotina do parceiro, dos seus medos, anseios e manias. Finalizam as frases um do outro e têm dois filhos bem criados. Enfim, Darcy e Bob se conhecem. Pelo menos era o que Darcy achava. Bob é contador e viaja frequentemente a trabalho visitando lojas para sustentar outro hobby seu: coleção de moedas antigas. Numa dessas viagens, procurando pilhas para um controle remoto, Darcy encontra na garagem uma caixa que muda toda sua vida. A caixa, que dera a Bob há uns anos, continha 3 cartões plásticos que revelam que seu marido, seu bom marido de seu bom casamento, pode ser na verdade alguém cruel, sádico e um serial killer. Sofrendo pelas suposições que faz imediatamente, Darcy tenta lidar com a ideia de como mentir para a pessoa que mais a conhece na vida, ao passo que tenta descobrir sobre a pessoa que pensa conhecer há 27 anos. O conto mais tenso do livro, com uma atmosfera e diálogos simples que, justamente por essa simplicidade, enervam o mais calmo dos leitores.

O ritmo de narrativa de Stephen King, já bem conhecido por nós, é revelado em algumas faces distintas nesse livro. Temos sua escrita de ação, de suspense e de terror. Todos os contos são, embora bem diferentes entre si, conectados por um mesmo tema e, ainda assim, esse tema é tratado de formas distintas. É um ótimo livro do rei, embora não o melhor de contos, mas definitivamente merece um lugar na estante. A edição bem bacana da Suma de Letras atrai o leitor a pegar o livro, o conteúdo o mantém preso até o final. Fantástico! (eu diria “brilhante” mas prefiro manter o misticismo do título)

1 comentários:

  1. Relação de amor e ódio com quem fez essa maravilhosa resenha. Amor pois parece que as palavras são escolhidas à dedo criando uma harmonia impecável. Ódio pois vou ter de comprar esse livro e ficar mais pobre.

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