Manson, Jeff Guinn


Você, mesmo que não saiba quem foi Charles Manson, já deve ter ouvido esse nome. E não num contexto bom. Filho de uma prostituta alcoólatra, Manson foi o líder de uma comunidade conhecida como “Família Manson”, que se situava em Los Angeles. Herdou o sobrenome de um caso amoroso de sua mãe posterior a seu nascimento. Durante as frequentes prisões de sua mãe, enquanto era criança, Charles Manson ficava com seu tio, que o espancava. Chegou a ser vendido pela mãe em um bar em troca de álcool, período no qual começou sua vida de crimes. Passou a adolescência entrando e saindo de reformatórios, situação que continuou durante sua vida adulta pelos mais diversos tipos de delitos. Aos 33, começou a ter contato com hippies, onde começou a recrutar os membros da falada “família”. Seus seguidores eram jovens de famílias ricas de todo o país, no máximo exemplo do que conhecemos por “rebeldes sem causa”. Seu carisma inegável, sua oratória meticulosa e o uso de drogas fizeram a maior parte do trabalho. A comunidade viveu fora dos holofotes da mídia¹ até o ponto que ratificou a fama posteriormente obtida.

Em 1969, cinco integrantes da seita de Manson invadiram uma festa na casa do cineasta Roman Polanski e mataram cinco pessoas, sendo uma delas a esposa do cineasta, Sharon Tate, que estava grávida na época. Esses não foram os únicos assassinatos cometidos pelo grupo, que rondou o bairro por duas noites. A polícia relatou, na época, grandes quantidades de drogas encontradas nas cenas dos crimes e a expressão “requintes de crueldade” foi amplamente utilizada nos relatórios policiais.


Essa minha tentativa de resumir a vida de Charles Manson e a negatividade em volta dela não chega aos pés do brilhante trabalho feito por Jeff Guinn. Numa obra que considero um dos dois² mais perfeitos e completos estudos sobre o caso, Guinn traz uma ambientação social perfeita e envolve o leitor numa época que, mesmo fora de sua realidade, se torna tão vívida que é quase táctil. Isso é vital em qualquer obra que se proponha a apresentar ao leitor casos reais ocorridos há muito tempo, o que Jeff Guinn realiza com maestria. Pausar a leitura provoca uma ruptura tão abrupta com o cenário que, mesmo que soe estranho, e soará, deixa um sentimento saudoso.

A obra é trazida pela editora Darkside em uma lindíssima edição (e qual da Darkside não é?!) de capa dura com uma imagem que considero perturbadora: um jovem Manson sorridente. Independente da ideologia sociológica aceita por cada um, podemos afirmar que Charles Manson foi uma vítima da vida que levou, da mais violenta maneira. Longe de mim defende-lo, mas a construção do monstro em que se tornou pode ser atribuída a diversos abusos, violências e ausência de qualquer compaixão. Sendo adepto da Tábula-rasa ou não, tendo ali nascido algo ruim ou criado, certamente o rumo que a geração da época poderia tomar foi temido por conta da facilidade com que jovens foram recrutados para a seita. Guinn traz esse temor e o incute no leitor, fazendo com que os crimes e a seita pareçam coisas extremamente doentias de se observar, assim como de fato foram. Eu usei o verbo no passado, mas vale lembrar que Manson ainda possui um grupo de fãs, grande demais para os limites da normalidade, e acabou de se casar com uma moça de 26 anos, hippie, que se nomeia “Star”.

1- Em parte, a comunidade já estava sendo notada mesmo antes dos crimes mas em um nível muito menor
2- Outro que também merece destaque é o Helter Skelter de Vicent Bugliosi e Curt Gentry

2 comentários:

  1. Meus parabéns, conseguiu me prender até a última palavra.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Valeu, cara! Espero que goste do livro também. É realmente muito bacana!

      Excluir

 

BLOG HORRORSHOW - CRIADO E DESENVOLVIDO POR ARTHUR LINS - TODOS OS DIREITOS RESERVADOS © 2015