Meia Noite em Paris, Woody Allen

Recordo-me de estar assistindo a entrega do Oscar em 2012 quando ouvi falar de Meia Noite em Paris pela primeira vez. Naquela época, eu mal assistia as premiações cinematográficas; às vezes passava pelo canal certo na hora certa e torcia para qualquer filme aleatório que, para mim, tinha maiores chances de ganhar o tal prêmio. Nessa mesma premiação que vi, a obra ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Original, e lembro até de ter escrito o nome atrás de uma folha qualquer para não esquecer, porque havia ficado curioso em relação a ele. Acabei guardando a folha e me esqueci do filme por um tempo. Alguns meses se passaram até que a achei entre minhas coisas e fiquei com vontade de assistir o tal filme. Fui atrás dele com enorme tentação (apesar de não ser fã do ator principal, Owen Wilson) e, com toda a certeza, não me arrependi. Além de ter superado minhas expectativas, Meia Noite em Paris se tornou, a partir daquele momento, um dos meus filmes favoritos.

A história se foca em Gil Pender, roteirista de Hollywood que está em viagem por Paris com sua noiva, Inez, e os pais conservadores dela, John e Helen. Gil está trabalhando em seu primeiro livro, sobre uma "loja de nostalgia", onde vendem coisas antigas, e pensando em desistir da carreira de roteirista para se dedicar totalmente a escrita de romances e morar em Paris. Já Inez considera seu sonho de ser escritor como apenas uma loucura passageira, dizendo que ele deveria continuar escrevendo roteiros, pois, por mais que sejam medíocres (numa época em que quase todos os filmes são mais do mesmo), ainda dão mais dinheiro do que a ousadia de escrever um livro simplesmente pela arte, além de querer se mudar para Malibu depois do casamento.

Em uma de suas saídas, Inez reencontra um antigo amigo de faculdade dela, Paul, e sua esposa, Carol. Paul é pedante e chamado pelo próprio Gil de pseudo intelectual, o que fica mais evidente depois de discutir com a guia turística sobre quem estava certo ou errado. Por Gil não ir com a cara dele, depois de um encontro dos casais numa degustação de vinhos, ele decide caminhar por Paris enquanto Inez, Paul e Carol vão dançar. Perdido e um pouco embriagado, Gil acaba sentando numa escadaria quando o badalar de um sino nas proximidades notifica que deu meia noite. Sem nada para fazer, Gil observa o trânsito até que aparece um Peugeot antigo, dos anos 20, com seus passageiros convidando-o para entrar no carro junto com eles. Gil, surpreso, não sabe bem o que fazer, mas decide por entrar no carro e ser levado para certa festa.



Na festa, a estranheza toma ainda mais controle de Gil. Com Cole Porter tocando e todas as pessoas vestidas como se estivessem nos anos 20, ele acredita que tudo aquilo seja uma pegadinha, principalmente quando se encontra com F. Scott Fitzgerald e sua esposa, Zelda, perguntando-se se tudo aquilo é real ou não. Ele acaba saindo da festa com os Fitzgerald e acaba se encontrando, ainda, com Ernest Hemingway, Gertrude Stein, que promete ler seu livro e dar opinião, e até mesmo Pablo Picasso. É quando percebe que, de fato, de alguma maneira, havia voltado para os anos 20 de Paris, considerado por ele mesmo como a Época de Ouro, onde os maiores artistas estavam reunidos em prol da cultura. Entretanto, ao sair sozinho com a intenção de buscar o manuscrito para Gertrude avaliá-lo, ele logo retorna para 2010. Sem saber o que fazer, ele vaga por Paris em busca de seu hotel, agora embrigado não pela bebida, mas por ter se encontrado com seus maiores ídolos.

Então, Gil volta todas as noites para o mesmo lugar onde subiu no Peugeot antigo, sempre a meia noite, em busca de outros artistas e para poder viver a época que sempre considerou a melhor de todas. Além dos já citados artistas acima, Gil ainda se depara com Salvador Dali ("rinocerontes!"), Luis Buñuel, T. S. Eliot ("vou revelar-te o que é o medo num punhado de pó"), e muitos outros, além de uma adorável francesa chamada Adriana, por quem ele acaba se apaixonado.



Brincando com o conceito de viagem no tempo e sem dar nenhuma explicação científica do porquê dessas viagens e nem do como, Woody Allen conta, em menos de 90 minutos, uma história que não só mostra gênios do passado de maneira brilhante e muitas vezes cômica, mas que também é trabalhada em cima do conceito "eu nasci na época errada". Cheio de críticas ao desenvolvimento cultural humano, à ilusão de que as coisas são piores e mais rápidas agora do que no passado e até mesmo a Hollywood, Meia Noite em Paris não é apenas mais um filme de comédia, e sim uma obra de arte com várias camadas.

Partindo de seu roteiro realmente merecedor tanto do Oscar quanto do Globo de Ouro, o filme só impressiona. Sua fotografia é linda de se ver, capturando nuances de Paris nos mais variados climas e horários. E o melhor é que em nenhum momento, além da cena de abertura, há algum foco aos monumentos e pontos turísticos mais famosos da cidade, como o Arco do Triunfo, o Museu do Louvre e a Torre Eiffel; o importante era toda a Paris, e não apenas aquilo que vai no cartão postal ou o que a maioria dos turistas acaba visitando. Já sua trilha sonora completa muitíssimo bem o que é passado pela fotografia. Partindo de músicas originalmente francesas, ou que seguem seu estilo, tendo, inclusive, uma música brasileira no meio (Recado, de Djalma Ferreira e Luiz Antônio), a trilha é adorável de se escutar e não cansa, mesmo com um ou outra faixa se repetindo por boa parte do filme.

No final, Meia Noite em Paris é um filme que entretém e questiona valores e crenças que normalmente não questionamos. Com um elenco rico contendo Marion Cotillard, Adrien Brody e Kathy Bates, além de muitos outros, uma fotografia e trilha sonora sensacionais e um roteiro criativo, Meia Noite em Paris entra não só no rol dos meus filmes favoritos, mas também no dos melhores trabalhos de Woody Allen.

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