O Grande Hotel Budapeste, Wes Anderson

Na primeira vez que vi o trailer de O Grande Hotel Budapeste, sem saber o nome do filme e nem o diretor, eu logo percebi que seria mais uma obra fantástica de Wes Anderson, responsável por um dos meus filmes favoritos, Moonrise Kingdom. É impossível não perceber as técnicas dele ainda no trailer. Os cortes de câmera, as continuidades, as paletas de cor em cada cena. A excentricidade dos eventos e do cenário. Grande Hotel era Wes Anderson e eu não poderia perder esse filme. Porém, eu o perdi enquanto ainda passava nos cinemas e só tive a chance de vê-lo em casa, no conforto de meu sofá. Não importando onde eu o tenha visto, foram ótimos 90 minutos da minha vida gastos com este longa.

Na fronteira europeia mais ocidental, a ex-república do Zubrowka, já trono de um império, é o cenário do filme. Logo no começo temos uma mulher carregando um livro e adentrando um cemitério, dirigindo-se a um monumento em memória a um autor, cuja base está lotada de chaves. Ela deposita uma chave ali também, pega o livro e o abre. O nome do livro é O Grande Hotel Budapeste. Depois disso, somos levados a 1985, onde o autor do monumento, o mesmo do livro aberto pela mulher, divaga sobre sua própria criação, nos levando mais ainda pro passado, quando conhecemos sua versão jovem visitando o verdadeiro Hotel Budapeste, localizado na cidade de Nebelsbad. Lá, vemos a diferença entre o que era o hotel ainda mais no passado, antes da guerra, e como estava durante a visita do autor. As cores sumiram e o hotel entrou em decadência total. Aqueles que ainda tinham uma estadia no Hotel eram aqueles que não tinham mais nada a perder, e isso gerava um clima de solidão e desolação no prédio.

Sem querer, durante essa mesma estadia do autor no Budapeste, ele acaba por encontrar o dono do hotel, o Sr. Zero Moustafa, milionário que, apesar de ter morado em castelos e ter de tudo de bom e do melhor, continua sendo dono daquele prédio maltrapilho. Curioso, o tal autor acaba aceitando um convite de Zero para um jantar onde ele explicaria como se apoderara do hotel. No jantar, somos levados ainda mais ao passado, à década de 30, para ser mais exato, que seria a espinha dorsal do livro que a mulher havia aberto logo no começo do filme.



Zero conta suas memórias daquela época em que acabara de ser contratado como lobby boy (mensageiro) do hotel e estava a cargo do sensacional concierge Monsieur Gustave H., metrossexual, exagerado poeta e amante de velhinhas ricas (no sentido que você está pensando mesmo). Durante seus primeiros meses como lobby boy, uma rica senhora frequentadora do Hotel por 19 anos seguidos, Madame Céline Villeneuve Desgoffe und Taxis, também conhecida como Madame D, falece sob circunstâncias misteriosas, levando Gustave a correr para seu funeral, levando consigo Zero. Chegando ao castelo de Madame D, ele se depara com dezenas de parentes da falecida numa sala onde o testamento dela seria lido. Durante a leitura, Gustave ganha de herança um famosíssimo quadro chamado Garoto com Maçã, o que deixa os filhos de Madame D. alvoroçados devido a qualidade e o alto preço da obra. Gustave, sabendo que não o deixariam ficar com quadro, o rouba com a ajuda de Zero e dos funcionários do castelo e volta para o Budapeste, sem saber que a verdadeira causas mortis de Madame D. colocaria em risco sua própria vida.



Seguindo o padrão de todos os filmes de Wes Anderson, O Grande Hotel Budapeste possui uma trilha sonora sutil e muito leve que combina com cada situação, ação e desenrolar de cenas. Como eu já havia dito, as técnicas de filmagem que não se utilizam de cortes para a mudança de conteúdo apresentado na tela, como o travelling, deixando as cenas mais naturais e fluídas, são frequentes e delatadoras de quem seria o usuário das mesmas. Unido a essas técnicas, as paletas de cores são sempre frequentes, sendo utilizadas mais, neste filme, o rosa, o roxo e o creme, em suas várias tonalidades, algo que dá para perceber na primeira vez que vemos como era o Budapeste antes da guerra. Com todos estes elementos, em um pouco mais de 90 minutos, ri mais do que em muitos outros filmes autodeclarados comédias, que abusam das piadas sem graça ou com enorme conotação sexual e preconceituosa.

Misturando um humor excêntrico, intrínseco a seu criador e que caminha tranquilamente pelo filme, com cenas de ação e um assassinato facilmente solucionado pela audiência, Wes Anderson cria em O Grande Hotel Budapeste um dos melhores filmes de 2014 e merecedor de muitos dos prêmios que recebeu, como o Globo de Ouro de Melhor Filme de Comédia, e dos que ainda está concorrendo, como os de Melhor Roteiro Original, de Melhor Diretor e de Melhor Filme no Oscar. Certamente, estarei na torcida.

0 comentários:

Postar um comentário

 

BLOG HORRORSHOW - CRIADO E DESENVOLVIDO POR ARTHUR LINS - TODOS OS DIREITOS RESERVADOS © 2015