Dublê de Anjo (The Fall), Tarsem Singh



A tradução é um pecado, eu sei. O título original é coerente com o filme, porém a tradução inventa essas coisas que, sinceramente, não sei para que servem. O filme, por sua vez, é simplesmente genial, possui uma das fotografias mais bonitas que já vi e uma história marcada pela simplicidade do afeto e pela complexidade do desespero da perda. 

Roy Walker é um dublê de filmes estilo bang-bang (me recuso a aceitar o termo novo para este estilo, bang-bang é muito mais sincero e verdadeiro) que se encontra paralisado num hospital após sofrer um acidente numa filmagem. No mesmo hospital, temos uma garotinha cheia de vivacidade, com uma mente afiada e vontade inabalável, chamada Alexandria. Numa interpretação dualista do filme, Roy representa o sofrimento e Alexandria a cura, e é justamente nessa dualidade que se desenrola a trajetória pessoal dos personagens. 

“Dublê de Anjo” é uma verdadeira obra de arte, daquelas que ficam na memória por muito tempo. É impossível não se sensibilizar com o relacionamento de auxilio mútuo que acontece de forma natural, apesar de ser improvável entre os personagens. Alexandria é uma menina pobre que foi parar no hospital por ter caído de um pé de laranja, mas não pense que isso foi simplesmente um acidente infantil. Ela era, na verdade, operária, coletora de frutas, assim como toda a família. Este é mais um dos opostos que encontramos entre os personagens. 

O filme é dirigido pelo indiano Tarsem Singh, conhecido por ser um grande manipulador de imagens, cuja maestria está em usar a fotografia totalmente a seu favor, seja de um jeito positivo ou negativo. Essa habilidade aparece especialmente quando o depressivo Roy começa a contar histórias inventadas espontaneamente durante as escapadas que Alexandria promove, fugindo de sua ala para a de Roy. Em cada um desses encontros, Alexandria pede a continuidade da história, que às vezes muda, às vezes permanece do ponto em que parou, mas sempre ocorrem de modo a agradar a menina entediada e em busca de diversão.

Pesquisando sobre o filme, descobri que Tarsem fez uma longa investigação em mais de vinte países para conseguir as imagens e os locais perfeitos para concretizar este projeto. Foram quatro anos de viagens e decisões sobre os melhores locais para produzir um efeito que só pode ser compreendido assistindo ao filme. Infelizmente, o público não foi alcançado como se esperava, o que aconteceu foi que muitos simplesmente ignoraram a obra. Mas aqui entre nós, isso só torna a experiência daqueles que o assistiram ainda mais prazerosa, afinal, é um privilégio acompanhar a trama e seu final sensível e coerente.

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