The Hunting Ground, Kirby Dick



The Hunting Ground, sem tradução oficial mas “O terreno de caça” em tradução livre e ruim, é um documentário de 2014 sobre a realidade dos abusos sexuais nas universidades dos Estados Unidos. Está disponível no Netflix e recomendo a todas as pessoas do mundo. Deixo aqui o AVISO DE GATILHO, é pesado e pode tocar em muitas feridas.

O documentário traz em sua trilha sonora a música “‘Til it happens to you”, interpretada por Lady Gaga, que é uma música pesada e intensa, o que ajudou a disseminar a película. Mesmo que você seja uma pessoa razoavelmente desprovida de sentimentos, é impossível não sentir tristeza e ódio nessas duas horas e meia de agonia. Talvez até seja possível, mas então eu tenho uma notícia para você: você é uma péssima pessoa.

Como característica do gênero do filme, nos são apresentados uma série de dados estatísticos REAIS (vou enfatizar de novo: REAIS) e com fontes sobre os abusos sexuais e a punição recebida pelos estupradores. Bom... assim como no Brasil, a culpa continua sendo jogada na mulher, ou seja, NA VÍTIMA.

É triste saber que mesmo em um país que é um pouco mais evoluído na questão do machismo, cerca de 20% (VINTE por cento) das universitárias são estupradas. E, assim como por aqui, adivinha o que acontece com os estupradores? Isso mesmo, NADA. São raríssimos os casos em que essas pessoas pagam minimamente pelo que fizeram, enquanto essas mulheres pagarão pelo resto da vida.

E olha só que surpresa: elas não necessariamente possuem qualquer característica em comum, seja física, religiosa, de personalidade... São pessoas de várias idades, etnias, crenças, passados, introvertidas ou extrovertidas. E mesmo assim, a culpa é sempre delas, de alguma forma. São silenciadas pelos superiores dentro e fora da universidade. Eu vou excluir nesse momento a cultura do estupro, o machismo, a culpabilização da vítima, porque quero falar sobre outra questão apontada no documentário e porque acredito que essas questões precisam ser discutidas bem mais profundamente.

Dinheiro. Isso mesmo. Como sabemos, nos Estados Unidos as boas universidades são caríssimas, e muitas famílias começam as poupanças para pagar a faculdade desde que a criança nasce. Além do dinheiro, existe a oportunidade de você entrar com boas notas e uma aptidão fantástica para algum esporte, pois as universidades competem entre si em várias modalidades e muitos atletas universitários se tornam atletas profissionais e até olímpicos. A maior parte dos estupros é cometida por atletas. E então, como punir alguém que está “acima” na “cadeia alimentar” da universidade?

Além do problema com os atletas, 60% das doações acima de 1 milhão de dólares (apenas) são feitas por ex-alunos de fraternidades, muito comuns nos EUA, seriam o equivalente a umas 3 ou 4 repúblicas grandes juntas aqui no Brasil, que se veem como famílias e que também estão conectadas à maioria dos estupros – considere que boa parte dos atletas vivem em fraternidades.

O documentário é filmado de forma fantástica, com depoimentos de vítimas e suas famílias, profissionais de saúde mental, administradores do alto escalão de grandes universidades e etc. Os dados apresentados são de diversos tipos, mas os que mais me chocaram foram as relações entre a quantidade de abusos e a quantidade de punições aplicadas, mesmo que uma mera suspensão curta da universidade.

Recomendo a todos, em especial aos que hoje frequentam universidades, trabalham nelas ou possuem amigos e/ou familiares nesse ambiente. Nossa realidade não é tão diferente da do país do Tio Sam. É lamentável que instituições de ensino superior se posicionem de maneira a coibir as vítimas e acobertar os agressores. Conheça Annie e Andrea, duas estudantes que foram estupradas em suas faculdades, se uniram para investigar e dar visibilidade a esses casos, para ajudar a proteger outras universitárias que não são culpadas de nada, exceto de nascerem com um útero.

3 comentários:

 

BLOG HORRORSHOW - CRIADO E DESENVOLVIDO POR ARTHUR LINS - TODOS OS DIREITOS RESERVADOS © 2015