O Doador de Memórias, Phillip Noyce


Baseado no livro homônimo de Lois Lowry, ou “The Giver” no título original, O Doador de Memórias tinha tudo para ser um filme psicológico fantástico. O nome não mostra muito a respeito do enredo, então, se não leu nada antes de assistir, você pode se surpreender.

Jonas, o protagonista e herói, é um garoto normal em seu mundo utópico. Todas as pessoas são consideradas iguais, com papéis importantes na sociedade, se vestem de maneiras iguais e possuem regras rígidas que muitas vezes não parecem regras. Um mundo sem mentiras, sem imprecisão de linguagem. Todos se locomovem por bicicletas, estudam juntos, nascem juntos, crescem juntos. Todos os indivíduos tomam uma injeção pela manhã, para que não fiquem doentes. A sociedade se reúne para alguns eventos importantes, como a cerimônia de escolha de carreira, para os adolescentes, e a cerimônia de liberação para outro lugar (“release to elsewhere”), para os idosos – ou no fim de sua fase produtiva.

O objetivo de vida é manter a sociedade funcionando e ser enviado para esse “outro lugar”. O problema é que ninguém sabe o que é o outro lugar. Também não sabem o que são alguns sentimentos, como o amor e o ódio, nem mesmo música, dança, animais ou cores. A princípio, pensei em duas opções: ou meu netflix estava com algum problema e sem cor, ou o filme era antigo e preto e branco mesmo. Claramente eu estava errada.

Jonas e Fiona são grandes amigos, mas ele está com medo do dia em que descobrirá seu destino profissional, já que não encontra algo que goste e seja apto, diferente de Fiona, que lida muito bem com bebês, como o pai de Jonas. Isso é até relacionável com a fase do vestibular no nosso mundo, com a diferença de que Jonas não escolherá sua profissão. No dia da cerimônia, a chefe dos anciãos (o equivalente a uma presidenta) pula seu nome, todos são chamados até que ele fica sozinho no palco.

Jonas será o novo “Receptor” (“receiver”), posição de muita honra, a pessoa encarregada de conhecer todo o passado do mundo, guardar todas as memórias da sociedade. O Doador está ficando velho e precisa de um substituto. O problema é que essas memórias não são simples memórias. A primeira coisa que Jonas deve fazer é parar de tomar suas injeções, enganando o sistema com uma maçã, que logo ele descobrirá que é vermelha. Assim, ele passa a viver novas sensações e inclusive perceber o previsível romance com Fiona.

O resto é a parte intrigante da história. O que me incomoda na maneira que o filme foi feito é que se deu muito espaço para a explicação da sociedade e da vida de Jonas e tudo o que aconteceu depois de se tornar o Receptor acontece muito rápido. É quase como se o Pink e o Cérebro tivessem conseguido dominar o mundo em uma noite, magicamente tudo muda na cabeça de um adolescente que sempre foi indeciso sobre tudo.

Outra falha do filme, na minha opinião, é mostrar a relação de Fiona desde o começo como se fosse um romance, o que só passa a acontecer depois que ele deixa de tomar suas injeções. É aquele mesmo romance inconsequente, óbvio e forçado de sempre entre os protagonistas. A história do doador com o receptor anterior também poderia ter sido mais explorada do que foi.

Os atores foram muito bem escolhidos, e até Meryl Streep impressiona como anciã – o que na verdade já era de se esperar. Além dela, gostei muito da escolha da mãe de Jonas, interpretada por Kate Holmes, e de Fiona, muito parecida com a anterior. Freud se deliciaria com essa escolha de atrizes.

É difícil assistir ao filme e não compará-lo com histórias como 1984 e Admirável Mundo Novo, clássicos extremamente famosos e já abordados aqui. Acredito que na complexidade deixe muito a desejar em comparação a estes dois livros, mas não deixa de ter seu mérito. Encontrei duas cópias em inglês muito antigas (uma com a capa solta) em um bazar na minha cidade, mas não tive coragem de comprar por saber que meu nariz não me deixaria ler. É um livro pequeno e de poucas páginas. Espero encontra-lo em algum outro momento... ou em algum outro lugar.

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