Tuareg, Alberto Vázquez-Figueroa



"- Não leva mais que isso? – perguntou.
- É tudo que tenho.
- Não é muito para quem foi presidente de um país. – Fez um sinal com a mão, apontando para o interior do prédio. – Vá até a cozinha e traga provisões e todos os recipientes para levar água que encontrar. A água será nosso problema nessa viagem.
- No deserto a água sempre é o problema. Não é verdade?
- Sim, mas para onde vamos, é problema maior que em nenhum outro lugar do mundo.
- E para onde vamos, se é que posso saber?
- Pra onde ninguém possa nos seguir: para a “grande terra vazia” de Tikdabra. "

Tuareg é a obra prima de Vázquez-Figueroa. O texto possui um ritmo rápido, vibrante e tenso que culmina em um final inesperado e que divide opiniões de forma extrema - ou você ama o final de Tuareg (o meu caso) ou você o odeia. Dificilmente haverá um meio termo no desfecho dessa obra e dificilmente o leitor não será capturado logo nas primeiras páginas.

Logo no início da obra nos são apresentados os tuareg, homens duros, muitíssimo orgulhosos, guerreiros e curiosamente de visões igualitárias entre homens e mulheres. Diferentemente do que se imagina sobre tribos do deserto, as mulheres se decidem quando e com quem querem se casar. Gacel, um tuareg especialmente talentoso e honrado, casado com uma mulher especialmente corajosa e guerreira se vê no meio de um conflito político de proporções muito maiores do que ele gostaria.

Tudo começa porque Gacel é um homem fiel às tradições. Ele possui um código de honra milenar que exige a hospitalidade para com visitantes. Ao acolher um viajante desconhecido, Gacel acaba parte essencial de um conflito político que o leva a atravessar o deserto, a enfrentar o governo vigente e a usar de todos os seus conhecimentos sobre o deserto, que por sua vez foi o grande responsável pela formação e endurecimento de Gacel na sua jornada de tuareg.

A obra é uma verdadeira viagem ao mundo dos filhos do deserto. Os tuareg são um povo antiquíssimo e enfrentam diariamente as piores condições climáticas para viver, do calor escaldante do dia ensolarado ao frio cortante das noites longas. Vázquez-Figueroa, nos concede a oportunidade de mergulhar neste mundo fascinante e repleto de costumes antigos e uma moralidade extremamente elegante, especialmente se considerarmos as possíveis postulações morais que um sujeito que cresce nas condições árduas do deserto poderia desenvolver.

“À porta de sua tenda, a maior e mais confortável do acampamento, ele se detinha uns instantes para escutar. Se o vento não tinha ainda começado a chorar, o silêncio chegava a ser tão denso que machucava os ouvidos. Gacel Sayah amava esse silêncio”.

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