Amy, Asif Kapadia




O documentário sobre a vida de Amy Winehouse – aquela cantora de voz única que todo mundo julgou apenas como uma bêbada drogada – está causando muita conversa mundo afora. Comigo, é claro, não poderia ser diferente. Admiradora da música depressiva do álbum “Back to Black”, encarei as duas horas que contam a história emocionante de sua vida. E quando digo emocionante, quero dizer que senti muitas coisas mesmo.


Somos apresentados a uma Amy jovem, adolescente, cantando parabéns, já mostrando sua voz única e seu estilo memorável. Ela parece uma adolescente comum e feliz. Diz que fumava maconha e bebia, muito diferente do que aconteceu depois. Assim, o espectador já começa a se perguntar como ela se tornou a pessoa que morreu de overdose anos depois.

Sua carreira começa por acaso e leva pouco tempo para atingir o país todo. O primeiro problema que eu vejo é que Amy diz várias vezes que não quer ser famosa, que não gostaria de ser seguida. Que enlouqueceria e se mataria. E ninguém deu o mínimo de atenção, nem sua família, nem seus amigos, nem seu empresário.

Amy é uma garota que compõe para aliviar os sentimentos da sua alma. Admira Jazz e conhece muito bem o estilo, muito mais que outros músicos da área. Diz que começou a compor para se desafiar, já que nada do que ouvia na época a agradava e a representava. Seu pai foi ausente mesmo quando ainda não tinha deixado sua mãe, já que tinha outra família secreta; mesmo assim, ela o idolatrou até o último segundo.

A música “Rehab” realmente descreve o que aconteceu. Ela precisava ir para a reabilitação e tinha concordado em ir tranquilamente, caso o pai dela achasse que seria bom. O homem, então, disse que ela estava bem. Tava ótima mesmo. Aham. Ajudou bastante, paizão.

“They tried to make me go to rehab,but I said,
"No, no, no"
Yes, I've been black but when I come back you'll
know, know, know
I ain't got the time and if my daddy thinks I'm fine
He's tried to make me go to rehab,but I won't go, go, go”

A moça tinha um relacionamento compulsivo com a bebida que foi piorando ao longo do tempo. Com seu namorado, tudo piorou. O relacionamento era dramático, onde um machucava o outro, não se desgrudavam para nada (nem para a reabilitação, anos depois) e Amy tinha muito medo de perdê-lo. Em meio ao caos que sua carreira tinha se tornado, ele era um porto seguro para ela. O problema é que ele também precisava de ajuda. Quando ele foi preso, ela foi para baixo muito rápido.

“I'm gonna, I'm gonna lose my baby
So I always keep a bottle near”

Quando tudo já estava muito ruim, aconselharam suas duas melhores amigas a se afastarem. Darem a Amy o “tough love” – amor difícil. Claro, isso parece uma ótima ideia. A mulher já está sozinha, perturbada, alcoolizada e drogada e o que podemos fazer pra ajudar? Tirar as amigas de perto, claro! Que tipo de suporte emocional ela tinha? Alguém que nunca quis ser famosa e que avisou que não saberia lidar com isso. E foi praticamente abandonada.

I don't ever wanna drink again
I just, ooh, I just need a friend

Enfim, depois de se bater em shows, cair de bêbada, não conseguir cantar, sinais óbvios de que tudo ia de mal a pior, acharam que seria justo e uma ótima ideia sequestra-la para fazer um show. Ela não queria, estava envolvida em outros projetos que a interessavam. Estava melhorando das drogas e queria parar de cantar o que escreveu em momentos horríveis na vida dela. Ao invés disso, o que ganhou foi um sequestro para o próximo show, onde foi vaiada. Acordou no jato particular, contrariada, e tudo o que os jornalistas falaram depois é que ela perdeu sua grande chance de se redimir e se reerguer.

O documentário foi feito de uma maneira maravilhosa, que te envolve em tudo. É fácil esquecer até que Amy não está mais por aqui, pela maneira que a montagem dos vídeos foi feita. Em alguns momentos parece que ela é só uma atriz. Assistir duas horas de tudo isso foi fantástico e triste ao mesmo tempo.

Terminei o documentário com raiva do pai dela, do namorado perturbado, do empresário e de todos (coincidentemente homens) que estavam ao seu redor. O pai de Amy fala que fizeram tudo o que podiam para ajudar, mas a minha impressão é que fizeram tudo o que podiam para mantê-la infeliz como uma máquina de fazer dinheiro.

Não foram as drogas que mataram Amy Winehouse. Foram as pessoas que estavam ao seu redor e todos nós.

0 comentários:

Postar um comentário

 

BLOG HORRORSHOW - CRIADO E DESENVOLVIDO POR ARTHUR LINS - TODOS OS DIREITOS RESERVADOS © 2015