Warriors, Sol Yurick

Este livro foi uma cortesia da editora Darkside Books

Desde muito tempo, a violência é "glamourizada" no cinema como forma de entretenimento. É cada vez mais comum que filmes contenham tiros, pancadaria e sangue e que eles tomem os espaços de exibição, arrecadando bilheterias cada vez mais gordas. Mas muito antes de haver um homem “duro de matar” ou ser um “tempo de violência”, haviam seis guerreiros se protegendo à sombra de uma tumba. Eles estavam cansados depois de uma longa corrida...

Assim começa a história das gangues (muitas delas) que se reúnem num parque para promover uma trégua. O líder de uma delas, Ismael, convoca a reunião a fim de promover a paz entre os grupos, ou uma simulação temporária dela, e voltar a atenção a quem seria o verdadeiro inimigo: a sociedade de maneira geral. Com uma excelente oratória, até surpreendente, Ismael consegue atingir alguns membros das gangues, mas, ao final de seu discurso, é mal interpretado e uma confusão generalizada se inicia. Correria, agressões e facadas tomam o lugar até a chegada da polícia. A partir desse momento, o leitor passa a acompanhar a fuga desses indivíduos, pois, no meio do tumulto, alguém importante acaba sendo assassinado. O resto fica para você descobrir.

O aspecto principal da obra de Sol Yurick é a linguagem. Com palavrões e termos nocivos, o livro não é uma leitura politicamente correta. É rude propositalmente. E isso é necessário. Porém, não confunda a aparente grosseria das palavras escritas com ignorância. É fácil reparar nas influências sociológicas presentes no livro. Há todo um discurso politizado e bem estruturado na história, que funciona como uma eficaz crítica ao modelo de sociedade em que vivemos. As gangues formadas em locais que a supervisão do Estado é mínima, ou nenhuma, é uma clara alusão ao estado da natureza humana hobbesiana, onde o homem, um sujeito anti-social e violento, entrará em um modo de guerra de todos contra todos. As organizações que surgem são as gangues que, unidas em torno de objetivos comuns, funcionam como mini aglutinações sociais, o que lhes é o bastante. Outro aspecto abordado é a segregação racial. Os membros são costumeiramente descritos como negros, latinos e adolescentes sob a tutela do Estado; grupos que eram marginalizados na época da obra e, portanto, mais propensos a serem atraídos pela ideia de pertencer a uma gangue, já que não pertenciam à sociedade.

É importante ressaltar que, dada a época em que foi escrito, esse livro possa parecer um tanto inadequado aos padrões morais de hoje. Há um machismo naturalizado no livro. Não que Sol Yurick o seja, não o conheço, mas dentro da história é cabível e esperado. Há inclusive uma cena em que usam seus pênis para uma competição de distância em urina, a fim de verificar quem é o mais “homem” dentre eles. Mas isso é fichinha perto do estupro coletivo de uma menina. Há também a tentativa em uma senhora. Tudo isso poderia funcionar muito bem como um adorno ao que é relatado: uma história violenta sobre pessoas violentas; uma linguagem hostil para relatar hostilidades. No entanto, Warriors não é um dos melhores livros que você vai ler. Nem mesmo o autor acha isso. O uso da linguagem e dos termos sai pela culatra e a leitura, em alguns momentos, soa apenas como uma agressão literária sem propósito. Por sorte, esses momentos são poucos.

Warriors foi publicado pela Darkside numa edição típica da editora: linda. Com capa dura, excelente arte e uns extras muito convenientes. Há um prefácio escrito pelo próprio autor, onde ele compara o livro com o filme, de forma breve, e o impacto da obra, segundo ele. 

Warriors é um livro envolvente. Se aceitar o contexto de quando foi escrito, será uma leitura incômoda e fascinante, onde o leitor será surpreendido pelo misto de emoções que uma história o fará sentir. É uma forma de expressão dos marginalizados crua e visceral. Antes de Chuck Palahniuk ou Anthony Burgess darem voz aos oprimidos, eles já gritavam através das palavras cruéis de Sol Yurick.

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