Open Up and Bleed, Paul Trynka

Esse livro foi uma cortesia da Editora Aleph

Eu conhecia Iggy Pop. Eu escutei seus álbuns e dos Stooges, banda da qual fez parte por cerca de 6 anos, e os que vieram com a reunião da banda. Ouvi seus álbuns que tiveram os palpites de Bowie. Eu gritava os “com’on” irritados de “I Wanna be your Dog”... Enfim, eu conhecia Iggy Pop. Daí chegou, em português, finalmente, a biografia do cantor “Open Up and Bleed”, do jornalista britânico Paul Trynka e eu percebi que eu não conhecia Iggy Pop.


Iggy Pop era um verdadeiro roqueiro. Essa afirmação, um tanto óbvia, acaba se tornando cada vez mais acurada e intensa conforme o passar das páginas de Open Up And Bleed, lançamento do fim de 2015 da editora Aleph.

No início do livro já somos apresentados a uma cena tumultuada que era a marca dos Stooges, sua banda: diversos objetos arremessados ao palco, em direção a uma banda sem perspectiva de futuro. Seu vocalista cheio de hematomas (fora espancado por motoqueiros dias antes), vestindo roupas femininas para, nas palavras de Trynka, “emputecer” a gangue de motoqueiros local, que Iggy havia desafiado para uma revanche naquela noite. E esse é Iggy Pop, um músico destinado a tocar para quem quiser ouvir, apesar de quaisquer circunstâncias, e transgressor de quase tudo, sejam as regras sociais no local ou mesmo a lei.

Um fato interessante sobre essa obra é que ela não explora em demasia a infância de Iggy, método utilizado por muitas biografias a fim de justificar comportamentos com base em acontecimentos do passado. Esse livro é uma biografia do cantor e sua infância é meramente ilustrativa. Com exceção a um ou dois acontecimentos, a infância de James Osterberg ficou no passado, assim como o nome James Osterberg, e Iggy Pop nasceu junto de uma história que passou com uma de suas bandas de ensino médio, The Iguanas, que somente ele saberia explicar inteiramente.

Há um relato sobre sua adolescência logo no primeiro capítulo e ele ajuda a explicar a aura de indestrutibilidade que cercaria Iggy por um grande período. Num verão, motorista amador, Iggy, ainda James apenas, capota três vezes com o carro recém comprado e sobrevive com apenas alguns arranhões. Retira a placa do carro arruinado e segue com a namorada para a praia a pé. Essa ideia de desapego das coisas e invencibilidade que cercariam a vida de Iggy Pop e, ironicamente, quase o destruiria mais tarde.

A carreira de Iggy começou como baterista. Um dos momentos mais significativos da vida do cantor (citado por ele em diversas entrevistas) foi o fato dos pais abdicarem de ter um quarto para que Iggy tivesse onde por sua bateria e praticar. Ele era bom. Muito bom. Começou então a chamar a atenção de outros músicos. Após arruinar uma noite de festa na casa do músico Bob Koester, Iggy fez, exatamente ali, enquanto eram enxotados da casa de Koester, a ligação primal com os demais Stooges.

“A gente deveria formar uma banda, e fazer alguma coisa nova”

Da formação dos Stooges para a frente, a carreira de Iggy decolou. O frontman de olhos profundamente azuis teria sua vida escancarada em tabloides por conta da mais perfeita aplicação da expressão máxima do rock: sexo, drogas e rock ‘n roll. Orgias envolvendo os membros da banda e várias outras pessoas, inalação de qualquer droga parada tempo o suficiente próxima a seu nariz, mas, acima de tudo, música!

Iggy foi, é, e ainda será, por um bom tempo, um expoente do que de mais puro sobre rock ‘n roll ainda existe. Voltemos ao começo desse texto (e do livro) e olhemos para o homem vestido com saia e xale, coberto de hematomas gritando ao som de “cock in my pocket” com a intenção de irritar uma gangue de motoqueiros, a mesma responsável pelo roxo ao redor dos olhos azuis. Iggy era um problema e sua indestrutibilidade, que nunca existiu, havia sido comprometida. Sem controle sobre o abuso das drogas, se interna numa clínica de saúde mental. Nessa clínica, recebeu visitas de um músico que havia conhecido alguns anos antes: David Bowie. A relação de Pop com Bowie começou em 72 quando produziram um álbum juntos. Esse projeto promoveu a reunião dos Stooges, mas, durante um certo show, o problema das drogas provocou a briga com a tal da gangue dos motoqueiros. Esse foi o estopim para a internação.

O que parecia ser o fim de uma carreira não passou de uma breve pausa. Iggy retomou os palcos, alguns membros dos Stooges e a amizade com Bowie. Bom, na verdade, essa amizade nem terminou. Os frutos que saíram daí, e foram muitos, estão detalhados no brilhante livro de Paul Trynka. Iggy é um leque de faces na música e Trynka explora cada uma delas. Os relatos são vívidos e intensos, assim como o cantor, e o compilado traz um conhecimento tão imersivo na personalidade de Iggy que faz o leitor se sentir como tendo feito parte. Em outras palavras: é uma excelente biografia! Minha felicidade ao saber que a editora Aleph ia trazê-la ao Brasil foi imensa. Todo fã de música precisa conhecer Iggy Pop, e provavelmente conhece, e todo fã de Iggy Pop precisa ler.

“Eu quero morrer antes de envelhecer”, pregava o The Who; “Errado!” gritava Jo Jones e Cobain apenas destruía seus instrumentos. O The Who envelheceu, mas não morreu; Jones errou e Cobain se destruiu. Iggy envelheceu, errou e se destruiu, mas continua ativo na música como só ele conseguiria: de uma maneira jovem, certa e intacta!

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