Golem e o Gênio – Uma fábula eterna, Helene Wecker




Esse livro foi uma cortesia da editora Darkside Books

Algumas coisas devem ser ditas antes de nos aproximarmos do fio condutor dessa história que certamente me marcou. Primeiramente ela é de fato uma fábula eterna, vou deixar o julgamento sobre essa afirmação para o leitor, mas já antecipo que qualquer elogio desmesurado é culpa da forma envolvente como Helene Wecker escreve e não da minha paixão pela obra. Em segundo lugar, é importante ressaltar que Golem, neste caso é uma golem, então em todos os momentos direi a golem e nunca o golem porque mesmo sendo uma palavra masculina a nossa personagem é “a” e não “o”. Por fim, ressalto o trabalho maravilhoso da DarkSide, tem ficado difícil fazer elogios a essa edita, afinal todas as menções aos livros publicados pela DarkSide acabam arrancando elogios mesmo dos comentadores mais críticos.

Focando, porém, na nossa golem de nome Chava, feita por um rabino envolvido em estudos de cabala, que usa o barro para dar vida a sua criação, e focando também no nosso gênio, Ahmad, feito de fogo, nascido no deserto sírio onde acaba preso em uma antiga garrafa de cobre; encontraremos uma amizade improvável e um choque de culturas (árabe e judaica) profundamente significativo. O mais interessante é que esse relacionamento, esse encontro, acontece em Nova Iorque, na virada do século XX, quando diversos imigrantes ocupam os bairros mais pobres da região.

Como Ahmad e Chava se tornam improváveis amigos, você poderá descobrir na leitura e ter o prazer de acompanhar os desencontros que acontecem, afinal, eles acabam se separando, se reencontrando e a superação de suas naturezas opostas é algo muitíssimo significativo para quem precisa aprender a conviver com a diferença. A obra é muito bem escrita, os personagens são muito críveis, o contexto é muitíssimo verossimilhante e toda a trajetória de Chava e Ahmad tem um tom de realidade tão grande que parecem ter de fato vivido os riscos e prazeres narrados, a existência colocada na beira do abismo, as escolhas difíceis, e as opções que acabam definindo o futuro de ambos garante horas de leitura muito proveitosas.

As duas criaturas de naturezas opostas, nos proporcionam uma série de analogias ou mesmo de alegorias sobre os opostos que uma cultura pode encontrar em relação a outras, mesmo pessoas de grupos sociais que se distinguem por possuírem identidades morais e afetivas dissonantes. Essa alegoria tira seu folego do sentimento de “não pertencimento” encarado em vários momentos pelos personagens. A própria ideia de Chava ser uma criatura que deve obediência cega e que acaba rompendo com o próprio destino, superando as limitações que lhe foram impostas pela condição em que foi criada reflete muito sobre a possibilidade de superação que é inata a seres reflexivos.

Se você gosta de conhecer detalhes de outras culturas, se tem interesse por uma aventura épica que implica no conhecimento da mística e da ritualística de povos diferentes e se gosta de literatura fantástica; este livro é para você. Se por outro lado, você não consegue entender porque tantas pessoas gostam de narrativas fantásticas por considera-las mal desenvolvidas ou pouco reflexivas, ou mesmo machistas e até um tanto infantis; este livro também é para você. Afinal sabemos que muitos livros de fantasia são tudo isso e as vezes ainda comentem insultos a inteligência do leitor que chegam a ser risíveis. Bom, a Golem e o Gênio é outro nível, nele as coisas acontecem como tem que acontecer, não porque os leitores quisessem que algo acontecesse, mas porque a trama da história flerta com seu desfecho, tornando-o o único cabível.

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