O Artifíce, Tony Ferraz


Existem, infelizmente, poucos autores policiais brasileiros. Não raros, mas ainda poucos. Tony Ferraz é um autor que se aventurou por esse campo pouco explorado na literatura nacional e trouxe uma ótima obra em seu primeiro livro.

Haryel Kitten é um detetive britânico de certo renome. Sua carreira é sólida e ele aparenta ser bastante competente em seu trabalho. Haryel acaba sendo envolvido no caso de um serial killer, posteriormente conhecido como “o artífice”, que fabrica complicadas engenhocas para matar suas vítimas. São, invariavelmente, armadilhas bem pensadas, feitas manualmente que promovem uma morte sofrida e inevitável para quem cai nelas. Um outro fato que traz um aspecto soturno às cenas de assassinato é que todas acontecem em dias chuvosos. Haryel, então, se empenha na solução do caso com seu parceiro Paul, obtendo ajuda no processo de um monge budista que tenta introduzir ao detetive a filosofia do Tao, que é relacionada a um dos casos de assassinato em um determinado momento. 

A filosofia do Tao é frequentemente citada na obra. Com claras influências da cultura oriental, o autor mostra ter conhecimento do campo e o aplica na trama com competência, introduzindo ao leitor questões filosóficas que são respondidas com simplicidade pelo mestre budista. Esse contraponto do mestre budista e do detetive quase cético é bem divertido de se acompanhar. A falta de conhecimento de Haryel com as tentativas de ensinamento de Cheung Chizu provocam divertidas cenas.

O livro alterna pontos de vista entre Haryel e o assassino, sendo referido em seus capítulos como “o demônio”, causando no leitor uma sensação de onisciência. Não muito antes do final do livro fica claro quem é o planejador das mortes e acompanhar a investigação de Haryel, sabendo de mais que o detetive, torna a leitura muito mais interessante. 

O clima durante a obra é bem sombrio e isso é proposital. As descrições dos dias chovosos e cinzentos em Londres são realistas e adequadas. Tudo no livro parece ser bem planejado para criar a atmosfera que se deseja e é executado com bastante eficácia. Percebi uma semelhança no aspecto da história com Mons Kallentoft, onde o ambiente é montado e atua quase que como fator decisivo no desenvolver da história. Nesse caso, é mesmo verdade, já que os assassinatos só são cometidos em dias chuvosos. Os capítulos são curtos e bem preenchidos com ação e sempre dão um motivo para ler o próximo. Separados como cenas em um filme, é muito simples seguir a história pelo rumo que ela tomar, facilitando a compreensão geral dos casos sem ter aquela sensação de que estamos deixando passar algo ou que não sabemos de tudo ocorrido até então, muito comum em livros do gênero. 

Em seu romance de estreia, Tony Ferraz teve um grande acerto. Criou um livro envolvente, com uma história bem planejada e feita, que será capaz de entreter mesmo os leitores mais exigentes. Garanto isso. Sou um dos tais exigentes. O autor já trabalha em mais projetos e, assim que pusermos as mãos nos próximos, faremos questão de contar para vocês.

1 comentários:

  1. Adoro resenhas assim! Que falam muito e não revelam nada, mas te deixam com uma baita vontade de ler o livro logo!
    Parabéns!

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