Ex Machina, Alex Garland



Todas as gerações passam por discussões contemporâneas semelhantes. No começo do século XXI, o assunto era os ataques terroristas, ligados também com o medo de algum desastre que pudesse impactar na destruição do mundo; assim como era discutido na década de 80. Já a ideia de seres artificiais, às vezes semelhantes aos humanos, vem de muito tempo, como a lenda de Cadmus; passando ao Golem, do mito Judaico; até chegar em 1921, quando a palavra “robô” foi usada pela primeira vez, por Karel Capek. Logo após, Isaac Asimov surgiu para continuar a esculpir a história dos autômatos. Philip K. Dick deu uma outra visão dos robôs, denominada de “Replicante”. Sendo uma ideia que percorre milênios, por que esses seres continuam a nos fascinar a ponto de continuarmos criando histórias sobre eles?

Caleb (Domhnall Gleeson) é um jovem programador buscando um futuro promissor. A grande oportunidade para alavancar a sua carreira surge quando ganha um concurso para passar uma semana na casa de Nathan Bateman (Oscar Isaac), o presidente da companhia em que Caleb trabalha. Ao chegar ao local, ele é encarregado da missão de avaliar Ava (Alicia Vikander), um robô com inteligência artificial muito avançada, o que acaba surpreendendo-o. No decorrer de suas entrevistas para analisar o comportamento e “humanidade” de Ava, Caleb é colocado nos seguintes impasses: Nathan é mesmo quem ele diz ser? Quem é o verdadeiro vilão: máquina ou criador?

Apesar da proposta do filme não ser inovadora – discutir o papel de autômatos em nossa sociedade e até que ponto eles são apenas máquinas –, ele ganha pela simplicidade. Sem se preocupar em criar algo megalomaníaco estilo Christopher Nolan, Alex Garland opta em criar um ambiente com apenas três ou quatro atores e uma casa durante duas horas para depositar um assunto reflexivo sobre “o que é ser humano?”. Robôs são apenas máquinas, mas se colocamos sentimentos, emoções, raciocínio lógico – entre outras coisas – dentro deles, o que eles passam a ser? Até que ponto podemos humanizá-los sem perdermos a nossa humanidade? E trazendo a “Sindrome de Frankeinstein” à tona: podemos confiar nessas máquinas?



Em relação à parte técnica, a execução de Ex Machina beira o impecável. Com um orçamento de $15 milhões – uma quantia relativamente baixa para um filme de ficção científica – Alex consegue trazer qualidade e realidade para todo o longa. A estética de Ava é realista e bonita ao mesmo tempo, assim como suas locações, todas condizentes e equilibradas, tanto em questão de cores quanto na harmonia de elementos em tela, com muitas cenas filmadas em locais amplos e com poucas coisas para preenchê-los. Isso nos dá a sensação de estarmos em um lugar incompreensível. A falta de elementos nos remete à falta de conhecimento diante um assunto tão complexo e revolucionário quanto ao que somos apresentados.

Uma ficção científica leve, porém, que traz muitos assuntos a serem refletidos. Apesar de não estar totalmente dentro dos padrões Asimovianos, é mais do que evidente que o autor foi uma das principais fontes para criar Ex-Machina. Mais para o final do filme há acontecimentos um pouco inverossímeis – não em questão de roteiro, mas na execução que pareceu um pouco descuidada –, contudo, nada que desmereça toda a obra. Um filme simples e bem feito, uma das melhores pedidas para os fãs de uma ficção em anos. Não sabemos o futuro dos autômatos, então continuaremos criando histórias para tentar descobri-lo.

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