Honeymoon, Lana Del Rey








Talvez seja arriscado para um artista lançar um álbum de músicas inéditas apenas um ano após seu último trabalho, mas Lana Del Rey se jogou de cabeça em seu projeto. Em suas próprias palavras, "Honeymoon é um álbum retrô e futurista", numa tímida insinuação que voltaria às raízes de seu álbum de "estreia", Born to Die, mas não foi realmente o que aconteceu. O que Lana despeja nas 14 faixas é uma crua continuação de "Ultraviolence", com criações densas e letras intimistas, revelando seus medos e tristezas.
"Nós dois sabemos que não é agradável me amar."

A primeira frase dita já define todo o universo de Lana: você ama ou odeia, não existe um meio termo. Tristeza e solidão fazem parte do seu repertório, canções sobre a dependência do amor. Um mundo obscuro e realmente pesado. Com violinos, um piano e apenas sua voz tremulando pelos acordes, a faixa título já manda o recado de que não se pode esperar nada do que ela já tenha feito. Aqui escutamos o seu sonho, sua felicidade em estar com quem se ama em um momento especial, único.

Toda a primeira parte do álbum é dramática, até mesmo a pop "Music to Watch Boys Too", onde confessa sentir prazer em ver seu amor partindo enquanto aprecia sua própria arte, dando valor a si mesma, desconstruindo a falsa ideia de que em todas suas músicas a mulher é retratada como sendo dependente de um homem para manter sua felicidade. Aqui o amor é subtendido, há o prazer de amar e o de viver pelo amor.

O flerte com o jazz domina todos os gemidos açucarados do saxofone em "Terrence Loves You", uma triste história de separação e desilusão, a mais próxima do clima pesado de seu trabalho anterior, dando um gancho interessante para "God Knows I Tried", onde a cantora lamenta por todas as vezes que fracassou, mas ressaltando que Deus sabe quantas vezes ela tentou fazer o que era certo, intercalando tristemente entre as cordas de guitarra que carregam a canção.

O pop comercial também tem seu espaço no disco, tirando o peso das faixas anteriores e trazendo calma ao ouvinte. "High By the Beach", utilizada como carro chefe, mescla batidas com lentidão usando sensualidade para atrair, descarregar o corpo no balanço do conjunto. É o tipo de música que todos dançariam em uma festa. "Freak" rapidamente assume o posto de música caliente, mas ainda assim carrega uma letra marcante, sem se deixar vender como um produto apenas.
''Meu coração ama repleto de fogo, o amor está repleto de fogo"

A fase pop é encerrada com a psicodélica "Art Deco", que muitos julgam ter sido feita para Azealia Banks, amiga pessoal de Del Rey. Batidas genéricas, voz suave e clima sensual compõem a faixa, um belo destaque no álbum, dissertando sobre as faces que uma mulher pode usar para ser vista como inquebrável. Encerrando e voltando ao preto e branco, "Religion" reforça os ideais de amores conturbados e perturbadores de Lana, a fraqueza pela submissão, a ponto de seu amor ser sua única religião.

O álbum continua pintando retratos sádicos sobre o amor, partidas, estragos e mentiras. Refletindo sobre o estilo noir e glamouroso dos anos 40, 50 de Hollywood, como a potencialmente melhor música do álbum, "The Blackest Day", viciante com seu refrão icônico. Uma releitura de "Don't Let Me Be Misunterstood" de Nina, uma das cantoras preferidas de Lana, fecha o álbum com a mensagem de que a missão foi cumprida e , mesmo usando temas já trabalhados em suas músicas, ela conseguiu surpreender.

Num abismo de nostalgia, melancolia e conflitos, Lana joga cores em seu álbum. Há alegria em suas melodias, uma linda briga entre composições e arranjos, provando que há vida nos momentos difíceis e, mesmo se houver choro, na tristeza ainda se pode encontrar motivos para voltar a sorrir e pintar de neon o que um dia foi cinza.

6 comentários:

  1. Adorei, ótima percepção! Faço das suas, minhas palavras.

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  2. Hey, parabéns pela matéria está incrível! Uma das melhores que li sobre a Lana <3
    E concordo plenamente, no que disse ou você a ama ou a odeia. Eu não gostava nem um pouco das músicas e nem dela, e achava que não fazia bem ouvir músicas desse tipo, e hoje Born to die: Paradise edition é o meu álbum favorito EVER. Acredito que você deva procurar as razões pelo qual a música foi escrita e prestar atenção na letra, ai você saberá se é boa ou não <3

    Grande Abraço,
    Thiago.

    wwww.escritarelativa.com.br

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