Cinco Livros bons, cinco filmes ruins.



Alguns filmes adaptados de livros são grandes acertos pela fidelidade à história, outros são ótimos por fazerem a escolha certa do recorte que melhor representa a temática que envolve a trama. Alguns são bons por funcionarem melhor na mídia cinematográfica que na mídia escrita, mas outros simplesmente não funcionaram pelas escolhas feitas por quem os dirigiu ou roteirizou. Confira a lista dos cinco filmes que não deveriam ter saído das páginas dos livros que os criaram. 



O primeiro deles, e certamente o mais decepcionante para quem gosta da trilogia que acabou se tornando “quadrilogia”, foi a saga Eragon de Christopher Paolini. Como todos devem saber, Eragon é o nome do personagem principal da história. É um jovem agricultor que vive num mundo levemente parecido com a Terra Média criada pelo Tolkien. Este mundo também possui elfos que também vieram de um além mar desconhecido e não descrito. Os livros são muito bem desenvolvidos apesar de toda a semelhança com o Senhor dos Anéis. A história toma um rumo completamente diferente do esperado e vários dos personagens são muito curiosos como a herbolária Ângela e a elfa Arya. Existem algumas falhas nos livros mas o final ocorrido em “A Herança” é muito satisfatório. 

O grande problema foi realmente a adaptação para o cinema. O filme falha em roteiro, em efeitos, em atuação e, acima de tudo, desconsidera a história original da pior maneira possível. Não haveriam problemas na adaptação se ela tivesse feito escolhas interessantes, mas as falhas são tão gritantes e a história é tão mal amarrada que este filme fica no topo da lista das cinco piores adaptações dos anos 2000 pra cá. Eragon poderia ter sido um filme muito bom, mas, mesmo nos personagens, os erros de caracterização saltam aos olhos de quem leu pelo menos o primeiro dos livros. O resultado foi o esperado: os filmes sobre os próximos livros foram cancelados e devo dizer "ainda bem"; seria impossível recuperar o estrago causado pelo primeiro. 

Outro filme que destrói a magia de seu livro de inspiração é Coração de Tinta, o típico exemplo de produção que vista sem que, se tenha qualquer notícia do livro, ainda pode ser considerada razoável, mas quando se colocam as duas obras uma do lado da outra, se torna gritante como o livro é infinitamente superior. Cornelia Funke é uma das autoras contemporâneas que acredito ser muito subestimadas, afinal, escreve bem, rompe tabus, cria personagens fortes e profundos, não tem medo de desagradar o leitor, ela conta a história que tem que contar e isso é mais de uma vez declarado nos livros, em Sangue de Tinta principalmente (sim são três livros: Coração de Tinta, Sangue de Tinta e Morte de Tinta). 

Os personagens são fracos no filme. Elinor Loredan é a mais próxima do livro e mesmo assim somente por comparação aos outros personagens que beiram a apatia como Dedo Empoeirado, um dos mocinhos que chega a mudar de lado mostrando (no livro) como nossa natureza é complexa. No filme ele passa a ideia de um vira-casaca sem causa. Capricórnio, o grande vilão assustador, é retratado pelo ator como um mero bobo ganancioso. O final do filme resolve todos os problemas mais complexos da trama, que seriam resolvidos com muito mais sentido e coerência se outros filmes fossem produzidos. Em termos de bilheteria o objetivo foi alcançado, em termos de qualidade o filme deixa muitíssimo a desejar ainda que seja infinitamente melhor que Eragon.

Mas como eu dizia, alguns filmes erram pela escolha do recorte feito na história do livro. É o caso de Água para elefantes, que até tenta ser profundo e romântico, mas falha miseravelmente. O livro é singular e apaixonante por mostrar a realidade de Jacob Jankowski esperando a morte em uma casa de repouso para idosos. As melhores cenas são aquelas nas quais ele compara cenas do seu passado com o presente deprimente ou quando conversa com sua enfermeira, tentando desesperadamente demonstrar sanidade num ambiente em que todos são tratados como crianças sem capacidade de reflexão. As lembranças representam mais da metade do livro, mas as pequenas aventuras do idoso é que dão um ar de realidade para o que deveria ter sido no cinema um romance/drama. 

A adaptação de Água para Elefantes foca quase que unicamente na história do passado de Jacob. O ator (Robert Pattinson) que faz a versão jovem do protagonista se sai bem, mesmo deixando a desejar na intensidade de seus atos. O personagem, afinal, é um rapaz recentemente órfão que, perdeu os estudos e a casa onde vivia em um golpe só, e Pattison parece ainda estar com a atuação voltada para o vampiro deprimido, de modo que sua performance funciona muito bem nos momentos mais calmos, mas deixa a desejar nos momentos mais enérgicos. 

Nem mesmo Christoph Waltz pôde salvar a adaptação. No filme ele representa o dono do circo - na verdade ele representa uma fusão mal sucedida entre o dono do circo e o cuidador do elenco. No livro, eram dois personagens e a decisão de torna-los um ou de eliminar um até faria sentido se a história não perdesse tanto quanto perdeu. Não sei dizer exatamente se tantos erros foram fruto de uma má direção/roteiro ou se a história simplesmente não funcionaria de forma alguma nessa mídia. Seja como for, Água para Elefantes fica em terceiro lugar na lista de decepções de adaptações. 

A Bússola de Ouro já decepciona por outros motivos. O recorte na história foi justo e o filme isolado do livro é quase bom, mas um erro crasso foi a finalização da história que era muito melhor concluída no livro. Cortaram o final da história, possivelmente para segurar a atenção do expectador para o próximo filme, que diga-se de passagem, não será produzido. O filme sofreu duras críticas de certo seguimento da igreja católica por incentivar um certo tipo de ateísmo, mas nada que tenha prejudicado a bilheteria.

A trilogia de Philip Pullman também foi duramente criticada pela igreja, e com muito mais “razão” que o filme; no livro sim existem diálogos finalizados em aporia que dão muito mais margem para críticas que o filme de conversas muito mais rasos e de história muito pouco concluída. Outro ponto de crítica é que existem autoridades religiosas no filme e no livro que são retratadas como perversas e mal intencionadas. No livro, elas são apresentadas com muito mais complexidade, não se espera que num filme tal característica seja apresentada dado o fato de ser uma mídia muito mais curta, porém, o filme erra em diversos aspectos como a má associação da história com o livro que como dito termina com um bloco de histórias fechado, ao contrário do filme, que parece um devaneio mal resolvido. 

Por último, As crônicas de Nárnia que, sim, tem filmes muito bons e, sim, segue a ordem correta, digo isso porque muitos acusam a produtora de não ter seguido a ordem cronológica, mas a que se segue é a que o autor, C.S. Lewis, escreveu a história, o que faz muito sentido no universo proposto. 

O problema com as adaptações é a adaptação em si. Nárnia é um mundo com informações demais em páginas de menos, com isso quero dizer que a mídia cinema não suporta o tamanho do universo que Lewis criou. Para se ter noção, a intenção do autor era escrever a história bíblica da salvação para crianças, remetendo suas narrativas a fatos importantes que foram selecionados com base em seus critérios pessoais. Para completar existem incontáveis utilizações de figuras das mitologias nórdica, germânica e principalmente celta, tudo isso num texto escrito por um gênio da argumentação e que ainda visava apresentar ensinamentos morais de viés teológico para crianças, que são um grupo desafiador por natureza. 

Os filmes das Crônicas são os melhores dessa lista, mas mesmo assim deixam momentos essenciais da história de lado simplesmente por não caberem numa tela, nesse caso nem roteirista nem direito leva a culpa. Da lista apresentada, eu recomendo que este último seja visto, pois, introduz o mundo lewisiano, mas somente deve ser feito se o expectador estiver disposto a se tornar leitor. Muito é perdido no filme e as lacunas preenchidas pelo livro vão agradar a quem já viu os filmes. As outras películas da lista sequer merecem o tempo gasto, exceto, talvez, a Bússola de Ouro, mas ainda assim é um montículo perto da montanha que é o livro. 

Vale ressaltar que é possível indicar o contrário do que ocorreu com os filmes dessa lista, existem poucos, mas bons filmes, que se saíram melhor que seus livros de inspiração. Uns pela mídia funcionar melhor e outros pela escolha do recorte mencionado, outros ainda pelo fato de atores tão geniais darem vida a personagens tão interessantes.

1 comentários:

  1. Boa lista. Concordo muito, mas acho que ficaria mais didático se apresentasse os nomes dos livros num tópico e discorresse os motivos abaixo dele.

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