Por que Indiana, João?, Danilo Leonardi




Sendo bem sincera, apesar de fazer parte de um blog que também fala sobre livros, não conheço muitos outros blogs e canais literários, assim, não conhecia o Cabine Literária e muito menos sabia quem diabos era Danilo Leonardi. Comprei o livro porque estava barato e o título me pareceu um trocadilho legal com Indiana Jones. Quando o livro chegou, li na contra capa que era sobre bullying. Depois de Extraordinário, nenhum escrito sobre bullying faz sentido e tudo o que vejo é só um bando de babacas, me desculpem.

Por sinal, foi o que eu vi nesse livro: um bando de babacas. Em primeiro lugar, vou explicar que o livro tem suas partes boas e suas partes ruins. Pra mim, é ruim. É a minha opinião, que vou explicar adiante, mas é só isso. Não sou uma crítica especialista nem quero impor minha opinião a nenhum de vocês, entendam bem.

Em primeiro lugar, o João representa o autor quando era criança. Isso é perceptível até nos cachos do garoto, além de ser mencionado. O que me leva a crer que ou o autor era babaca quando criança, ou transformou seu personagem em um babaca pra conseguir chegar até onde queria no final. João está no segundo colegial e sofre bullying na escola por um valentão alto, forte e loiro chamado Guilherme, obviamente popular, até porque os outros deveriam ter medo dele. Ele nunca menciona esse bullying pra ninguém, nem para seus pais nem para a diretoria. Ok, muitas crianças fazem isso de verdade e entendo que seja um ponto a ser combatido, mas isso por si só já está errado. É realmente difícil combater um problema que ninguém percebe que existe. O professor, que sabe e também pratica bullying, é um problema muito comum, inclusive tive vários professores com esse tipo de comportamento.

Guilherme é o garoto popular que atazana João o tempo todo. Leo é seu fiel escudeiro, que na verdade só está interessado em ser o valentão também, já que muda de turma o tempo todo. Daniel, amigo de João, na verdade não é lá muito amigo. É outro babaca que só não inferniza a vida dos outros por falta de oportunidade, assim como João, que agarrou a primeira chance que teve para enfrentar absolutamente todo mundo, incluindo a mãe. O pai de João é jornalista e é sempre idolatrado pelo filho, não importa o quão imbecil seja a escolha de qualquer um dos dois. Cacá é o assessor de imprensa “contratado” pelo pai depois que um vídeo de João chutando o saco de Guilherme fica famoso na internet. Denise é a coordenadora da escola, que é uma boa personagem, mas muito diferente de qualquer coordenadora que eu já tenha conhecido.

Consigo fazer uma colagem imensa com frases machistas e comentários imbecis feitos por João ao longo do livro, ou apenas fatos. Frases como “Acho que o que ela precisa é de um marido” (p. 68), “(...) tive uma discussão besta com a Raquel sobre planos pro futuro. Algo sobre ela ter o sonho de ir morar na Inglaterra pra fazer faculdade e eu não conseguir aceitar isso” (p. 86), “Esses dias, sonhei que ela estava namorando com aquele garoto da foto que vi pela internet, então resolvi que voltaríamos a conversar” (p. 73), “O que eu acho é que tem alguma coisa te perturbando (...) Uma garota? Você está gostando de alguém?” (Cacá, p. 97) “(...) Denise, que agora parecia mais bruxa que princesa. O que ela fez no cabelo? Parece todo desgrenhado hoje.” (p. 102), “Essa Mari é louca” (Rodrigo, enquanto Guilherme grita com Mari, p. 115) e por aí vamos por muito tempo. Também devo mencionar o completo descaso com Mariana, que no começo já era o “troféu” do garoto popular, vítima de revenge porn, que mereceu apenas a menção “Trocou de turma. Dizem que tá fazendo terapia também. Vai saber.” (p. 197). O combate ao bullying não vale pra todos então? Opa. Júlia também sofre bullying, mas João não faz nada para ajudá-la, exceto conversar com ela no programa de televisão e... ah, contar para todos os amigos que transou com ela.

Também reforça o estereótipo de que a mãe é sempre a culpada, por ser superprotetora e se preocupar com a educação do filho em primeiro lugar. O pai, que parece adorar a fama do filho, seja ela por um motivo digno ou não, está mais interessado em enfrentar a mãe do que em ajudar o filho. Os pais são separados e mal conversam. Tudo isso além de reforçar estereótipos de “macho”, de “mulheres não gostam de homens tímidos”, de abuso de poder e muitos outros. João também mente sobre cometer crimes (riscar o carro da professora), mente sobre seu apelido, que ele mesmo criou, somente pra triunfar sobre Guilherme.

Acho que bullying seja um problema sério, não me entendam mal. Não acho que a culpa seja da vítima. Minha opinião, embasada pelo que eu conheci até hoje, dos dois lados do problema, é que os pais deveriam se envolver mais no que acontece com os filhos e a escola também. A responsabilidade não é pura e simplesmente de um ou de outro. O pai do Guilherme também é babaca. O pai de Cacá era um babaca quando ele era menor. Os pais parecem sempre causar os maiores desvios comportamentais dos filhos.

Demorei duas horas para ler o livro inteiro, considerando que eu parava para fazer comentários sobre todos esses fatos e mais alguns com os outros membros do blog. Não porque o livro seja bom, interessante e envolvente. Dizem que a arte só é arte se causar alguma reação em quem a aprecia. Esse livro é com certeza arte, me deixou bem brava... com quem deveria ser o mocinho e despertar empatia.

O livro não é atemporal. Várias gírias e várias frases como “late mais alto que daqui eu não te escuto” logo deixarão de fazer sentido. Inclusive, o livro retrata uma escola particular, não pública, e, tendo estudado em escolas particulares quase minha vida inteira, devo dizer que nunca vi, em meu universo limitado, alguém escrevendo “nohs” no lugar de “nós” em mensagens na internet ou no celular. Não força.

A parte boa do livro é que, sim, João reflete sobre suas ações e toda a situação causa alguns avanços e melhoras, mas está muito, muito longe de ser bom o bastante. João ainda termina o livro como babaca. Gosto de Júlia porque desde que os dois se conhecem, ela parece alterar um pouco a visão de mundo machista de João. Nem perto do suficiente, mas altera.

Honestamente? Esse livro é um clichê e um desserviço contra o preconceito. No livro, João fala que queria que o bullying parasse, e não que fosse transferido. Não parece muito, olhando o livro como um todo. O final também é um clichê. O triângulo amoroso é um clichê. Minha conclusão é: o mundo realmente não precisa desse livro.

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