A Incrível Viagem de Shackleton, Alfred Lansing



Lá estava eu viajando nas férias, em um lugar distante de qualquer outro. Até tinha levado uns livros meus pra ler, mas quando encontrei uma mini biblioteca ao lado do meu quarto, preferi explorar um pouco. Então me apontaram esse título e disseram que era "muito legal, conta a história de uns caras que fizeram uma expedição pro Atlântico Sul em 1900 e pouco, naufragaram e tiveram que se virar". Pensei "por que não?" e levei o livro comigo.

Não me arrependo nem um pouco da escolha, pois o livro é fascinante, mais do que "muito legal". Ele não é fascinante pela narrativa em si, mas pelo testemunho que dá de uma história real de companheirismo e superação. Parece meio clichê dar esses atributos ao livro, mas o que ele guarda é realmente bonito, mesmo diante da catástrofe imensurável que aqueles homens viveram.

Vou explicar melhor: Alfred Lansing reconstruiu a história da tripulação do Endurance, navio que partiu em 1914 para uma expedição que seria a primeira a cruzar a Antártida. Para isso, o autor do livro se valeu de diversos documentos e entrevistas, inclusive os diários escritos por diversos membros da tripulação – trechos desses relatos são frequentemente transcritos durante a narrativa, o que a enriquece. O navio partiu num contexto peculiar, a eminência de uma grande guerra, mas todos os outros aspectos que cercavam a partida da expedição (o que inclui a ambição de Sir Ernest Shackleton, líder da tripulação) a fizeram acontecer mesmo assim.

O livro conta então a saga desses 28 homens a bordo do navio, e fora dele principalmente, já que o Endurance não demorou muito a ser vencido pelas forças do gelo. A história é comprida e muita coisa acontece, muitas dificuldades são enfrentadas e parece até haver um ser maior que quer se vingar daquela tripulação a qualquer custo, lançando todas as suas armas para impedir o retorno dos homens às suas casas com vida. Me senti lendo uma fantasia maldosa, e o clima é de uma; mas tudo é real, tudo aconteceu. Todos os detalhes são levados em conta na narrativa, apesar de somente os episódios mais relevantes serem contados com destaque – afinal, foram anos no frio inconcebível do Pólo Sul e em seus cenários devastadores.

E aí você deve me perguntar: cadê a beleza nisso tudo? Eu te respondo: a beleza está na forma como aqueles homens lidaram com a situação. É claro que há momentos de altos e baixos, nem sempre se pode manter as esperanças. Mas na maior parte do tempo elas estiveram acesas, e foi, além da inteligência com que Shackleton liderou seu grupo, a irmandade dos homens que os mantiveram vivos. Muitas cenas ilustram o companheirismo ao qual me refiro, mas seria inútil tentar recontar qualquer uma delas.

Ao final, cria-se um certo carinho por cada um dos 28 tripulantes, cada um à sua maneira de ser e de encarar as situações de agonia, de se relacionar com os demais. É certo que uns são muito mais contemplados do que outros durante a leitura, mas a lição maior é aquela que insistirei: a unidade que eram aqueles caras, mais do que aquilo que eram individualmente.

Apesar de a narrativa ser intensa, ela é feita de uma forma leve, que prende o leitor mas não o deixa em estado eufórico. O livro é dividido em cinco grandes partes, cada uma com vários capítulos curtos, o que dinamiza a leitura. Os trechos transcritos dos diários dos tripulantes ajudam a nos puxar para dentro da história, e a composição final é bem agradável.

É difícil descrever com alguma precisão o sentimento que esse livro traz. Não é um sentimento que faz rir ou chorar. É uma comoção diferente, não sei explicar. Um relato emocionante de uma história verídica, apesar de mais parecer fruto de uma mente fértil – não seria tão deslumbrante se fosse diferente.

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