Minha mãe é uma peça, Paulo Gustavo





"Pra sua vida dar um livro, tem que ser uma história sofrida, cheia de emoções fortes, drama sem solução, sacrifícios, ingratidão e, claro, grandes lições de sabedoria... Exatamente a minha vida."

Como a própria D. Hermínia já avisa na introdução de seu livro, sua vida é recheada de emoções. Afinal, não é fácil ser mãe de dois jovens problemáticos e ainda por cima sem a presença constante do marido. Com anotações sobre seu dia a dia, quase como um diário, ela nos dá conselhos preciosos de forma afiada e sem rodeios.

Sobra para todos, desde a imensa de gorda de sua filha Marcelina, o filho afeminado que reproduz as coreografias "daquela cantora negra, a Cebion", vulgo Beyoncé. "A vaca da Soraia", que levou seu marido Carlos Alberto é mencionada diversas vezes, tanto para o bem e como para o mal. E, por ultimo, mas não inferior, temos a eterna Valdeia, a empregada doméstica "que prefere ser chamada de secretária, mas ainda não chegou lá."

Paulo Gustavo recria nestas páginas a personagem que o consagrou na comédia nacional. Iniciada no teatro, migrando para a tv e em seguida para as telas do cinema, D. Hermínia é a mesma de sempre. Desbocada, atrevida, sincera, emotiva e, sem dúvidas, rainha do Brasil, e o melhor, com histórias inéditas.

Baseada em sua própria mãe, o ator e escritor imprime tamanha realidade que lemos e vemos nossa própria mãe nas situações. Qual mãe nunca quis arranjar um emprego para seu filho com seus próprios meios? Que mãe nunca forçou seu filho a comer verduras e legumes ou, indo além, já deu aquela conferida básica nas coisas do filho para saber se ele está metido com drogas?

É isso que D. Hermínia faz, pois ela é mãe. Está ali representando milhares de mulheres no mundo, que passam a noite acordadas até que a porta abra e o filho chegue (mesmo que, para isso, ele receba uma surra de tablet) e ela veja com seus próprios olhos que nada lhe aconteceu nas festas da vida. Todos os conselhos, todas as tiradas, todas as implicâncias, por mais que sejam um saco e, admita, às vezes dá vontade de sair quebrando tudo e nunca mais pisar dentro de casa, é o que as mães tem que fazer. É o seu papel, fiscalizar e dar amor, dos mais variados modos, até sufocante em alguns momentos.

O livro tem uma linguagem bem simplificada e teatral, bem humorada e ácida. Fica explícito que Paulo usou alguns trechos para satirizar sua profissão e alguns colegas de trabalho, com muita discrição e sem nomes. Os capítulos são bem curtos, contendo algumas fotos do espetáculo e filme homônimos e também alguns recortes de jornais, anúncios e montagens que servem para ilustrar certos momentos da narrativa. Paulo contou com a colaboração de Ulisses Mattos e Fil Braz na escrita e organização do volume.

Muitos filmes e livros brasileiros se beneficiam do sexo para criar cenas supostamente engraçadas, aqui (e no filme) isso não é necessário. É uma história para toda a família, sem constrangimento para assistir com os pais ou emprestá-los o livro.

E, por favor, que seja feito um filme com as historias desse livro, porque estão sensacionais e de fazer dar altas gargalhadas, tanto que minha mãe perguntou se sou algum retardado enquanto lia um dos capítulos. Paulo e seus colaboradores acertaram em cheio nesse projeto e esperamos que tenham mais, é o livro perfeito para ler entre uma leitura "pesada" e outra; tendo tempo, pode ser lido em duas horas.
"Falo do amor que tenho por eles? Ah, deixa pra lá. Deus sabe. Todo mundo sabe. Se bobear, até as crianças sabem também. Essas pestes."
Este livro foi uma cortesia da editora Suma de Letras 

0 comentários:

Postar um comentário

 

BLOG HORRORSHOW - CRIADO E DESENVOLVIDO POR ARTHUR LINS - TODOS OS DIREITOS RESERVADOS © 2015