O Pesadelo, Lars Kepler


De novo, o casal sueco com o pseudônimo de Lars Kepler, aquele de O Hipnotista, nos surpreende. É mais um livro com personagens bem construídos (ainda que alguns, como o protagonista Joona Linna, sejam um tanto quanto clichês) e com histórias com ligações sutis. O Pesadelo faz jus ao comentário da BookPage: “Um thriller policial arrebatador, com personagens multifacetados e ritmo implacável”.

O ritmo do livro é muito bom; apesar de ser um livro longo, não se trata de uma história cansativa, apenas dinâmica. O livro começa com o corpo de uma mulher, encontrado em um barco no arquipélago de Estocolmo. A mulher tem água em seus pulmões, o que indica que morreu afogada, porém, com as roupas secas e o barco intacto.


Temos, em seguida, Penélope, uma ativista que comenta sobre o comércio de armas ao redor do mundo, sem saber o quão perigoso isso se tornaria para ela e seu namorado, Björn. Temos também um executivo, encontrado enforcado em seu apartamento, o que dá a entender que se trata de um suicídio. Quando Joona chega até o local, percebe que não vê ali uma morte comum. Por que eu gostei tanto desse livro? Vamos lá.

Pra começar, é um livro policial. Tenho um fraco por livros policiais, especialmente os nórdicos, pelo suspense e mortes mirabolantes. Pensem que a taxa de suicídio por lá é bem alta (deve ser complicado aguentar todo aquele tempo na neve e quase sem sol), então as pessoas acabam ficando criativas no quesito ‘morte’. Se algum dia eu quiser me matar, já sei onde vou procurar ideias – brincadeirinha.

Não sou exatamente fã do Detetive Joona Linna, apesar de ele ser um personagem cinza, por ser meio babaca e cretino. Na verdade, tenho mistos de amor e ódio por ele, mas bom... ele é um personagem cinza. Honestamente, gosto bem mais dos vilões. Em certos momentos, a falta de conexão inicial entre tantos personagens diferentes pode ser desanimador, mas a dinâmica é grande o suficiente para que isso não seja um incômodo.

Apesar de tudo, o que eu mais gostei no livro veio um pouco adiante. Boa parte do livro é ligada à música. Um violinista famoso, sendo mais específica. Joona procura o irmão do violinista e chega até ele, com uma pista extremamente sutil e complicada, uma foto de um quarteto de cordas. O que ele quer saber? Qual é a peça que está sendo tocada naquele momento.

O livro gira em torno do "Contrato Paganini", derivado de Niccolò Paganini, um violinista italiano muito famoso (e devo adicionar que ouvir uma orquestra tocando uma de suas peças é algo impressionante), que foi influência de muitos outros músicos famosos, como o próprio Chopin. Existe uma lenda sobre Paganini ter realizado um pacto com o demônio (não como o da Xuxa, pessoal). Honestamente, o nome do livro seria muito mais instigante em tradução literal.

“Não se pode romper um Contrato Paganini nem mesmo morrendo”
O nome do livro em Sueco é Paganinikontraktet. Trata-se exatamente do Contrato Paganini, que é um contrato que transcende a morte. O seu pior pesadelo se tornará realidade, e não há nada que você possa fazer sobre isso. Esse contrato é realizado por um psicopata egocêntrico que se preocupa apenas em controlar todos à sua volta, com um conceito deturpado de lealdade.

O violinista, Axel Riessen, também tem uma história conturbada e foi, de longe, o personagem que mais me impressionou. Sua ligação com Greta, Beverly e seu irmão Robert são, para mim, o melhor do livro. Ele não consegue dormir. E isso é tudo o que direi sobre ele. Gosto também de outros detalhes que ele traz para o livro, como alguns trechos de músicas famosas e que me agradam bastante, como The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars, que é um álbum de David Bowie.

“Pegarei qualquer avião, pensa. Islândia, Japão ou Brasil. Se Raphael Guidi realmente me quisesse morto, já teria me matado. Pontus Salman vai até sua garagem e salta.”

Para finalizar: sim, o livro tem uma quantidade incontável de personagens, e isso não me incomoda. São muitos fios soltos e nós dados que a história fica complexa e interessante, o que a torna razoavelmente difícil de descrever. Talvez você não seja cativado por todos eles, como eu não fui, mas são tantos personagens diferentes e peculiares à sua maneira, que algum vai te conquistar. Espero que não seja o protagonista.

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