Froot, Marina and the Diamonds



Com uma ácida ousadia, Marina and the Diamonds lança seu terceiro álbum de estúdio, ''FROOT'', sucessor de ''Electra Heart'', trabalho que lhe rendeu a maior (se não toda) visibilidade que hoje possui, não apenas nos EUA, mas em grande parte do mundo. Se em ''The Family Jewels'' a dona de ''Hollywood'' se apresenta com um pop excêntrico e até mesmo maçante em alguns momentos, no próximo capítulo de sua carreira já traz múltiplas facetas em um delicioso personagem, tão vivo que empresta seu nome ao projeto. ''Electra Heart'' é uma crítica ao sonho de milhares de garotas americanas, uma ânsia de ser famosa e adorada, mesmo que fosse o atual momento de Marina.


A única coisa que ambos os discos têm em comum é a sagacidade e ironia de Marina, além de sua poderosa voz. Resolve tirar, então alguns anos de descanso em gravações, mas continua ativa em suas composições e logo anuncia o atual material de trabalho. Dedicação, criatividade e empolgação motivam Marina a criar uma ''máquina de frutas'' para ir lançando suas novas canções para os fãs. O previsto seria um single mensal, acompanhado pela fruta que o representa. Tudo ia bem, até que hackers vazaram o álbum finalizado e as surpresas acabaram, mas, forte como em suas próprias criações, Marina continua seu projeto e aos poucos vai divulgando seu trabalho.

Para descrever ''FROOT'', podemos jogar todas as faixas do álbum em um liquidificador, acrescentar doses cavalares de sarcasmo, ironia, decepções, luxúria e liberdade. Temos pronta a melhor vitamina que o cenário indie pop produziu recentemente. Marina descarrega neste, talvez seu melhor e mais produzido título, suas melhores composições e uma auto confiança inabalável e invejável. Tudo em ''FROOT'' mostra o poder feminino de alguém que cresceu, viveu o mundo e ele a fez mais forte mesmo nos momentos de fraqueza.


O primeiro single e carro-chefe para anunciar essa nova era foi ''Froot'', uma agradável surpresa. A balada dançante nos remete aos velhos tempos da disco music, por um segundo é como se estivesse tocando ''Hung Up'' da Madonna e todos em sua volta estivessem se acabando. ''Happy'', o segundo single, foi uma escolha estranha, ela começa suave e só ganha força no final, fazendo com que o seu início soe cansativo, quase como aquelas músicas que o artista coloca no final da tracklist, ou até mesmo na edição deluxe se não tiver escapatória; mas a sonoridade ficou digna de nota, com os vocais tristes e sinceros de Marina. O terceiro single foi representado com ''Immortal'', uma pegada melancólica, uma letra que reflete a vontade de ser lembrada nesse mundo.

''Eu estou sempre correndo atrás do tempo, mas todo mundo morre
Se eu pudesse comprar o 'para sempre' a um preço, eu iria comprá-lo duas vezes"

A sequência de músicas foi algo que não gostei; pessoalmente, achei meio bagunçada, sem uma organização específica. Para começar, ''Happy'' não merecia abrir o cd, ao contrário, devia ser algo que prendesse o ouvinte logo de cara, como ''Blue'' e sua letra potente, batidas perfeitamente criadas e vocal açucarado; ''Forget'' fecha um pequeno ciclo de músicas animadas e significativas. Suas letras nos instiga a querermos conhecer a Marina, pois sabemos que este é um álbum bastante autoral e coloca em pauta problemas pessoais da cantora, relacionamentos conturbados e sua vontade de ser ''alguém''. ''Gold'' fica num meio termo, uma música boa, mas não do tipo que a gente gosta de ouvir várias vezes. De repente começa a parte realmente maliciosa e impressionante de todo o álbum até então. ''Can' pin me down'' inaugura uma seção que, com facilidade, poderia ser chamada de ''Marina superpower'', porque a partir daí sua voz vai do grave ao agudo, do suave ao lírico com um magnetismo palpável e fascinante de se ouvir. A voz de Marina rasga as emoções, descostruindo todos os arquétipos criados em seu ''Electra Heart'' e assume seus medos e angústias. Por trás de ''Solitaire'' há uma garotinha assustada, com medo dessa mesma solidão que diz enfrentar.

Uma das polêmicas recentes sobre Marina é a história de que a letra de ''Better than that'' seria sobre sua ex-amiga e colega de profissão, Elie Goulding. As duas começaram na mesma gravadora, mesmas festas, amigos e, consequentemente, disputas. Entre um prêmio e outro, Ellie acabou faturando o (ex?) namorado de Marina. Isso teria sido o estopim da já findada amizade.

''E ela vai fazer favores pelos outros até que seus sonhos estejam realizados
Mesmo que isso signifique ir para a cama com você
Amiga de todo mundo, soa familiar?
Eu sei um pouco demais, mas eu nunca vou contar''

No mesmo clima cruel, ''Weeds'' é introduzida por acordes suaves de guitarra e, timidamente, cresce até atingir o ápice da suavidade da voz de uma esquecida ''Primadonna'', um amor perdido em seus versos, capazes de nos prender e viciar como ervas. ''Savages'' é agressiva como o tema retratao em sua letra. A raça humana em seu pior prisma, seus fracassos, pecados e sujeiras escondidos e modificados em nossos DNA. Nada melhor e nenhuma outra poderia substituir ''Immortal'' na missão de fechar esse grandioso trabalho. A letra já diz, ''Eu quero ser imortal como uma deusa no céu'' e é exatamente isso o que Marina e seu ''FROOT'' conseguiram fazer. Cravar sua contribuição no mundo da música, em tempos em que qualquer letra ou feat musical vira hit e é rapidamente apelidado de ''hino''.

''FROOT'' no possui um hino ou outro, ele é o próprio grito e registro de força superior e uma saudável autoestima. Assim como suas notas, que Marina alcance o céu de diamantes que sua promissora carreira lhe reserva. E, claro, que 2015 ainda nos traga mais álbuns como este. Um pop ouvível, digno, sem apelação sexual, com voz e letras marcantes.

2 comentários:

  1. Marinão, poderosíssima. Como sempre.

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  2. Conseguiu entender o álbum de maneira completamente poética Jordy, a resenha tá ótima ♥

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