Objetos Cortantes, Gillian Flynn


Objetos Cortantes é o romance de estreia da escritora americana Gillian Flynn e talvez não houvesse melhor maneira de começar. O livro rendeu à autora dois Britain’s Dagger Awards, sendo o primeiro livro a ganhar em duas categorias no mesmo ano.

Camille é uma repórter de Chicago que, por ordem do editor do jornal onde trabalha, precisa voltar à Wind Gap, cidade onde nasceu e cresceu, para investigar dois assassinatos até então sem relação e escrever uma matéria para o periódico, se aproveitando da, ainda, exclusividade. Ann e Nathalie eram duas crianças queridas na comunidade e, com o espaço de um ano entre elas, apareceram mortas. O assassino, além de estrangulá-las, removeu todos os dentes de suas bocas em um gesto que deixou a pequena cidade em estado de pânico. Wind Gap é uma cidade povoada pelos “bullys” do ensino médio da escola local. Pessoas plásticas, rasas e fofoqueiras. Esse último adjetivo acaba se tornando um dos mais importantes na hora de descrevê-los.

Um dos pontos mais interessantes do livro é o relacionamento de Camille com sua mãe Adora e sua irmã Amma. Adora é extremamente superprotetora mas paira, no leitor inclusive, uma nuvem de incerteza sobre as intenções ou sanidade dela. Amma é outro poço de emoções confusas, alternando entre a filha ideal recatada que Adora espera e ser uma usuária de drogas promíscua de apenas 13 anos. Camille também tem uma relação paternal com seu editor e... Percebe? O livro é um relato sobre pessoas. Ok, há dois crimes a serem solucionados, mas o foco principal da história é o comportamento dos indivíduos. Há todo um leque de estereótipos a ser analisado pelo leitor enquanto a autora destrincha um a um, em detalhes, diante de nossos olhos. É como olhar um show de horrores, em matéria de personalidade, e não conseguir desviar a atenção.

“Queria ter sido assassinada. Dessa forma eu nunca teria que me preocupar de novo. Quando você morre, se torna perfeita. Eu seria como a princesa Diana. Todo mundo a ama agora.”

Gillian Flynn mantém o leitor (muito facilmente, devo dizer) virando as páginas incessantemente. Não é um livro fácil de olhar fechado na mesa sem saber o que vem a seguir. Embora com um mistério bem construído e apresentado, a solução do crime é possível de ser obtida e algumas pessoas podem achar até óbvia. Eu consegui acertar, e vejo isso como um ponto positivo. Quem lê um romance policial tenta descobrir o que aconteceu e aqui é bem possível. Algo que pode não conquistar alguns leitores é a falta de ação. Não que ela não exista, mas não é algo freneticamente desenvolto. É como se houvesse uma constante tensão no ar, como uma sala cheia de gás, e, a todo momento, acontecem pequenos eventos perigosos, como fagulhas. Você fica na expectativa de que tudo vá pelos ares a qualquer minuto.

Li Objetos Cortantes depois de ter lido Garota Exemplar, e talvez por isso eu tenha notado uma retração na qualidade narrativa, mas o livro foi o primeiro escrito pela autora e, ao lembrar dessa ideia, a percepção muda e me encontro admirado pela qualidade atingida já no primeiro livro. Algo constante nas duas obras é a familiaridade que o leitor passa a ter com cada personagem por conta das descrições minuciosas do comportamento de cada. Esse caleidoscópio comportamental em cada personagem reforça o teor psicológico presente nos livros da autora. Objetos Cortantes é mais do que um livro policial sobre um crime. É sobre as pessoas envolvidas, em qualquer grau, com o ambiente da sociedade em que ocorreram. É um relato cru e direto sobre seres humanos comuns, alguns deles com segredos especiais, mas ainda assim, comuns. E você, o que tem feito?

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