Condenada, Chuck Palahniuk


Poucos escritores conseguem conquistar o leitor de maneira tão voraz quanto Chuck Palahniuk. Denominando seu próprio trabalho como “Ficção Transgressiva”, Chuck busca tramas absurdas ou surreais e transforma em algo cômico e até crível. Assim como em “Clube da Luta” e “O Sobrevivente”, Palahniuk cumpre seu cargo como um dos escritores mais originais do século XXI em Condenada.

“Está aí, Satã? Sou eu, Madison”, é assim que nossa protagonista inicia cada capítulo, tentando se comunicar com o senhor das trevas para obter respostas sobre sua súbita morte. Madison é uma menina mimada de 13 anos, filha de uma estrela de cinema e de um bilionário, que, logo no primeiro capítulo, percebe que está morta. Provavelmente por causa de uma overdose de maconha, o que causou sua condenação ao inferno.

“Talvez a gente não vá para o inferno pelas coisas que faz. Talvez a gente vá para o inferno pelas coisas que não faz.”

É com esse plano de fundo que a aventura de Madison pela vasta área do submundo começa. As descrições do inferno criadas por Chuck são feitas com o mais alto nível de criatividade e absurdo, sem medo de cair no nonsense. A ambientação cômica tira a densidade e a negatividade que conhecemos sobre o inferno e toda a história parece ter saída de um episódio absurdo de “South Park”.

Palahniuk não se limita em expor críticas a todos os estereótipos de seus personagens: desde os pais fúteis, com impulsos consumistas e que prezam apenas a aparência, até o simples medo da morte. A agilidade de sua escrita dispensa descrições longas e desnecessárias, deixando mais espaço para sua árdua exposição de defeitos e hipocrisias humanas, colocando o dedo na ferida e desafiando o ego do leitor a ponto de deixa-lo angustiado.

Com o desenrolar da trama criamos mais afinidade com Madison, a morta mais animada de todas. Em sua jornada de finalmente encontrar satã junto aos seus amigos, ela nos apresenta a vastidão do inferno, como as Grandes Planícies de Caco de Vidro, o Pântano de Abortos dos Semiformados ou até o Grande Oceano de Esperma Desperdiçado.

“O que faz com que a terra se pareça o inferno é a nossa expectativa de que deveria ser como o paraíso”

Andando de mãos dadas entre a tênue divisão entre “sem sentido” e “genial”, Chuck nos presenteia com esta obra – provavelmente com a trama mais criativa de todos os seus trabalhos – que irá deliciar o leitor, contendo desde críticas sociais até ao humor cômico e inteligente de um dos maiores escritores do século XXI.

1 comentários:

  1. Não sei como NÃO gostar desse livro.
    Apesar do non-sense ser óbvio e gritante acho que é exatamente ele que chega no que o Chuck quis tratar, ou pelo menos em um dos assuntos que ele quis tratar... Porque, assim, só de lembrar daqueles evangélicos que comeram grama a mando do pastor pra "se aproximarem de deus" ou daquele povo nos EUA que passavam cobras venenosas de mão em mão e, caso a pessoa fosse picada, tinha que morrer ali, por que "não confia o suficiente em deus". Então, ao mesmo tempo absurdo, o livro não deixou de ter esse lado realista, mesmo que esse realismo tenha sido feito de uma forma absurdamente satírica. A própria visão do inferno é algo que, se você entrar em certas igrejas, alguns líderes religiosos descrevem como sendo reais.
    No mais só posso dizer (sem repetir o que você disse) que Chuck é um autor fantástico, e que esse livro é absurdamente maravilhoso.

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