Whiplash, Damien Chazelle


Essa é a primeira resenha conjunta do Horroshow! Não que tenha sido planejada, mas houve uma espécie de Hunger Games entre os resenhistas para fazer a resenha de Whiplash, que, diga-se de passagem, já é considerado pelos participantes dessa arena como “um dos melhores filmes que já vi”. Seria isso tudo?

Passeando pelo twitter, onde sigo vários perfis de humor, me deparo com um fazendo uma sátira aos indicados ao Oscar, definindo cada filme de uma maneira sarcástica. Em Whiplash, o autor do perfil disse ser “Black Swan for men” e eu acho que concordo, embora seja muito mais que isso. Whiplash é um filme com uma premissa simples, parecida com Black Swan, admito, onde um artista, nesse caso um baterista, busca incessantemente a perfeição em um determinado campo. A grandiosidade de um filme se dá em transformar coisas simples em grandiosas. Lembra-se da “premissa simples”? Pois bem, ela é grandiosa! Fui assistir o filme com as expectativas lá no alto; indicado ao Oscar de melhor filme, todo mundo falando bem, notas altíssimas no Imdb e Filmow, e etc. Fiquei curioso sem nem mesmo conhecer a história direito, sabia apenas que era sobre um jovem baterista obcecado em se tornar o melhor. Acontece que é basicamente isso mesmo.

Andrew Neiman, interpretado por Miles Teller, é um baterista que frequenta uma das melhores escolas de música do país e tenta provar seu talento para Terence Fletcher, brilhantemente retratado por J.K. Simons, maestro de jazz da escola, com o intuito de ser integrante de sua banda. Neiman (Teller) é um bom baterista e sofre do complexo de “ser o melhor”, característica revelada desde o princípio do filme, levando-o a treinar incessantemente até que os pratos estejam respingados de sangue, numa cena bruta e metaforicamente bela. O filme nos leva guia pela trajetória de Andrew em direção ao posto desejado e através dos vários obstáculos no caminho. Fletcher (J.K. Simons) é um professor com uma didática questionável, que usa de medo e agressividade verbal como incentivo aos seus alunos. Como a banda de Fletcher é um grupo muito seleto, os que estão lá aceitam esse tratamento em virtude dos possíveis benefícios futuros. É aí que a coisa começa a ficar séria, Fletcher possui métodos rígidos de ensino e a convivência com Andrew transforma o sonho do jovem em uma obsessão, colocando em risco sua saúde física e mental.

Damien Chazelle dirigiu o filme de modo que os 107 minutos passassem voando e ficássemos sem fôlego durante boa parte deles. Ficava extremamente tenso toda vez que Andrew e Fletcher ocupavam o mesmo espaço, ou nas cenas de apresentação. Whiplash segue um ritmo eletrizante o tempo todo e mesmo com a quase total ausência de conflito físico, transmite mais tensão do que a maioria dos filmes de ação que vemos por aí. Whiplash é um filme empolgante no mais puro sentido da palavra. Ao assisti-lo, me surpreendi apertando os braços da poltrona em diversas ocasiões e segurando o fôlego em outras. A tensão e suspense da obra são fisicamente reais! Pode parecer exagero, mas não fui o único. Houve quem aplaudisse o filme após a sessão. Há cenas de ação e drama presentes, mas em razão da tensão criada, o espectador se encontra na ansiedade da perfeição junto com o protagonista e quase que não as percebe. O drama proveniente de ser o irmão artista entre os outros atletas quase não é explorado e nem precisa. O espectador passa, muito facilmente, a compartilhar dos interesses de Andrew. Só importa a perfeição.

Whiplash não tem uma fotografia inovadora ou uma direção de arte surpreendente, mas isso não evitou que o filme fosse belo. Um dos recursos muito bem utilizados, que transformaram o longa em uma obra de arte, foi a edição. Editado por Tom Cross, os cortes são absurdamente precisos e com um timing impressionante. Sabe aquela ansiedade pela batida no prato ao final de uma música? Ela pode ser substituída por uma cena igualmente importante ou pode ser silenciada deixando quem assiste preocupado, procurando algo de errado. Teller, embora ignorado pela academia, merecia, na minha mais humilde opinião, a indicação e talvez o troféu. A entrega do ator ao personagem é claramente visível, mesmo para quem não sabe que ele de fato está tocando bateria nas cenas. J.K. Simons conseguiu a indicação, e provavelmente conseguirá a estatueta, e não é menos que merecido! Suas feições de apreço pela música presente, de raiva por erros cometidos ou de empolgação transbordam de cada pedaço do ator na tela. Não consigo imaginar outro ator no lugar dele fazendo um trabalho melhor. Simons conseguiu a indicação a melhor ator coadjuvante e provavelmente receberá o prêmio. Mais que merecido. 

Whiplash é um desfile de acertos que constroem uma sequência narrativa inquietante e, ao mesmo tempo, convidativa. O filme se transforma em um lindo poema desprovido de palavras. Whiplash é eletrizante, pesado, forte e sanguinolento, revelando-nos os confins da força de vontade. Justin Hurwitz, responsável pelas músicas, traz o que há de mais eficiente em matéria de jazz, deixando o mais saudosista satisfeito. A sonoridade não se resume apenas às cenas musicais, mas é engrandecida nelas e empolga o espectador. Em vários momentos, a vontade é de levantar e aplaudir de pé. De fato, a montagem do filme merecia uma hora de aplausos. O filme culmina num clímax extremo com um final digno de todos os adjetivos recebidos no pôster de divulgação, principalmente da frase “Whiplash é empolgante desde o inesperado começo até o encerramento de cair o queixo”.

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