O Menino Sem Imaginação, Carlos Eduardo Novaes





Eu queria muito ter tido a sorte de ler só livros muito bons, que tivessem acrescentado muito na minha vida e que eu não esqueceria jamais. Pelo menos posso dizer que não esquecerei jamais desse livro. Infelizmente, não é por ele ter acrescentado e ser muito bom. Foi indicado pela minha professora de português da quinta série, em 2005. Eu já gostava de ler e essa professora já tinha indicado livros que eu realmente gostei.

Primeiro, gostaria de dizer que não pretendo elogiar esse livro. Caso eu ainda não conhecesse o mundo da leitura e não fosse apaixonada por livros previamente, com certeza este livro teria me desmotivado. Talvez seja um problema meu, e somente meu, com o livro, já que ouvi alguns elogios e boas referências a este livro ao longo dos anos. Já adianto que não tive nenhum tipo de “revolta” com o livro, até porque nunca fui muito fã de televisão. Também não acho que o autor seja ruim, de maneira nenhuma. A escrita é fluida e muito apropriada para a faixa etária a que este livro se destina. Porém, ao meu ver, a história é falha e contraditória, além de bem exagerada.

Tavinho é um garoto um tanto incomum. Ele tem três televisões (como toda criança normal, certo?) e as adora, a ponto de tê-las nomeado: Babá, Plim-Plim e Fantástica – entenderam as referências? –, e assisti-las o tempo todo. Ele é dependente do que assiste, e chama seu próprio cérebro de “telinha interior”. Até que as televisões de todo o país param de funcionar e o caos se instala. Manifestações nas emissoras, feitas por indivíduos insatisfeitos, sem suas novelas e seus jogos de futebol. Tavinho, por sua vez, fica completamente perdido e desolado.

Entendo que o autor quis fazer uma crítica e mostrar que as pessoas, e as crianças em especial, estavam tornando-se cada vez mais alienadas e presas nesse mundo, que na época era a televisão e hoje em dia evoluiu para a internet e aparelhos digitais em geral. Eu concordo. Concordava até mesmo quando era criança. Não significa que isso se encaixe bem em um enredo. Gosto bastante da mensagem do livro, sobre abandonar a tecnologia em alguns momentos e viver o que o mundo tem a nos oferecer, aproveitar a companhia dos amigos e da família, exercer a imaginação. Mas só disso.

O livro tem alguns momentos bastante contraditórios. A cena que eu nunca vou esquecer deste livro é o momento em que a professora de Tavinho pede que os alunos desenhem uma galinha. Como Tavinho nunca tinha visto uma galinha (nem na televisão, só isso já parece meio errado, não?), ele tentou montar uma com objetos conhecidos, incluindo uma pizza. Considerando que o nome do livro é “O Menino Sem Imaginação”, eu não consigo entender como ele conseguiu montar uma galinha tão complexa quanto aquela. Não tem sentido algum. Isso, pra mim, foi o ápice da imaginação dele, mas para o autor, demonstrou a falta de imaginação do menino. Tentem montar uma galinha com objetos na sua cabeça. Eu tentei na época. Falhei miseravelmente.

Já que estou fazendo aqui uma crítica, peço licença para contar o final. Caso você queira descobrir por si mesmo (sério, não recomendo, mas vá em frente se quiser), pare de ler por aqui.

Um belo dia, quando as televisões param de funcionar, Tavinho começa a assistir a interferência da televisão. Aqueles chiados e ruídos horríveis que a televisão fazia fora do ar, anos atrás, lembram? Pois é. Aquele barulho insuportável é a cura para a falta de imaginação dele. Então, ele volta a ser um garoto normal, com horas de televisão controladas pelos pais, duas horas por dia no máximo. O que eu pensei quando li o final: “É sério isso?”. Esse livro foi uma junção de tantas coisas absurdas que eu nem consegui levar a sério, quase 10 anos atrás. O suficiente pra me marcar até hoje. Esse foi, de longe, o livro que menos me agradou em toda a minha vida, sem exagero algum.

1 comentários:

  1. Achei, e ainda acho, esse livro tão interessante... Sobre essa questão do número de televisões em casa, representa claramente a classe média alta, com a empregada doméstica, e número elevado de televisores (no caso 3). Pena que tu não gostou... Eu depois desse livro, li alguns do Novaes, ainda moleque, "Quiabo Comunista", "Capitalismo para iniciantes", com sensacionais ilustrações do Vilmar, e com um veio crítico fascinante... Esse "O menino sem imaginação" e "A árvore que dava dinheiro" (que também tem uma crítica à sociedade moderna), do Dominos Pellegrini, eram dois livros que eu gostei bastante e li e reli várias vezes.

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