Não Conte a Ninguém, Harlan Coben

 
"Lembranças machucam. As boas, mais ainda."

Todo casamento carrega segredos de seus cônjuges, mas aparentemente David e Elizabeth contam absolutamente tudo um para o outro. Desde que eram crianças eles sabiam que pertenciam um ao outro. Aos doze compartilharam seu primeiro beijo e, para nunca esquecerem, escreveram as iniciais de seus nomes no tronco de uma árvore e, ano após ano, colocavam uma barrinha no Dia do Aniversário do Beijo.

No ano do oitavo aniversário, David decide revelar a Elizabeth um grande segredo, mas chegando ao lago onde a árvore se encontrava, Elizabeth é raptada e David golpeado com um taco de beisebol, caindo na água e ali afundando. De alguma forma ele consegue sair e solicitar uma ambulância. Algum tempo depois o suposto corpo de sua esposa é encontrado, com marcas e feridas que apontam para KillRoy, um serial killer que agia na região. Caso encerrado.

Oito anos se passam e David ainda sente tanta falta de sua falecida mulher que ainda se encontra sozinho. Mas ao descobrirem dois corpos enterrados no lago onde o sequestro de sua esposa acontecera (lago este que pertence à família de David), o passado volta para afrontá-lo: como ele conseguiu sair sozinho do lago? Elizabeth realmente foi assassinada por KillRoy ou ela está viva? A polícia começa a cercá-lo, acusando-o do assassinato de sua mulher e de casos interligados.

Foi o meu primeiro contato com uma obra de Harlan Coben e, pelo visto, comecei com o pé direito. Ele é dotado de um dom que admiro em qualquer autor e todo autor precisa ter: saber conduzir o enredo sem prolongar exageradamente a narrativa.

Do início ao fim do livro não há tramas sem soluções ou sem necessidade. Desde o instalador de antenas metido a malandro até o antigo fugitivo que faz da floresta sua morada, tudo tem conexão, seja por um pequeno ou grande motivo. Outra coisa que ajudou a me prender: a originalidade. Sim, livros sobre casais, brigas de casais e afins é o que mais tem por aí, mas não com uma jogada tão rápida e certeira. Aqui não resta dúvida sobre a inocência do marido, ele é a vítima. E a partir do momento em que começa a receber estranhos e-mails enviados por Elizabeth, ele larga tudo para reencontrar seu amor, pouco se importando se vai ser preso ou não por burlar as leis. Ele precisa dela e ponto final.

Os personagens secundários de "Não conte a ninguém" são cheios de si, possuem personalidades fortes e bem delineadas, como Shauna, a modelo plus-size e mulher de sua irmã; a advogada Hester Crimstein, que sabe que é a melhor advogada da cidade e nada a tira de seu pedestal, portanto pode fazer o acordo que bem entender com a polícia; o magnata (e grande vilão) Griffin Scope; o arrogante policial Hoyet, pai de Elizabeth e, claro, o célebre Tyrese, um traficante de drogas com propósitos de sempre ajudar a quem precisa; até mesmo a monótona Linda tem sua participação na história.

Em "Não conte a ninguém" nada é irrelevante, tudo precisa ser aproveitado e lembrado para o grande final. Em relação à dúvida se Elizaberh estava viva ou não, é mais que óbvia a resposta, a explicação para seu sumiço é plausível, aceitável e a deixa para o maravilhoso desfecho bolado pelo autor.

Penso que grande parte do que o autor quis passar é a ideia de que "o verdadeiro amor tudo suporta". Foram anos de escravidão emocional por um terrível luto para David e Elizabeth. Eles passam todo o livro juntos, mas separados por uma terrível morte, longe de ser física, mas ainda assim dolorida. Dado o final, erros são consertados, justiça é feita com as próprias mãos e o grande segredo de David é revelado, deixando um enorme gosto de "mais um capítulo, por favor" na boca. Mas não precisa. Em um parágrafo Harlen leva nosso coração a um excitante ataque cardíaco.

Em alguns momentos a história me lembrou "Garota Exemplar", especialmente porque ambos trazem maridos com suas esposas desaparecidas e eles tentando provar sua inocência. Mas apenas isso, até mesmo porque "Não conte a ninguém" é do ano de 2001 e tem uma pegada um pouco mais light do que a história de Nick Dune. Já quero ler mais títulos do autor, que já me ganhou sem nenhuma sombra de dúvidas. O livro já foi adaptado para o cinema em uma produção da França. A capa do livro também merece uma atenção especial, é bem simples e traz somente a imagem de um lago ao escurecer. Sombria, assim como os segredos de todo casal.

"Nós nos abraçamos e adormecemos. Amanhã de manhã acordaremos juntinhos. Depois de amanhã também. Seu rosto será o primeiro que verei todos os dias. Sua voz será a primeira que ouvirei. E isso, sei bem, é tudo de que preciso."

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