Gravidade, Alfonso Cuarón






“Houston, do you copy? Do you copy? Anyone?”¹

Gravidade foi um dos filmes mais aguardados de 2013. Não saberia dizer se pelo tema abordado, que não havia sido levantado em filmes há algum tempo, ou se pelo nome na direção. O mexicano Alfonso Cuarón é um diretor multifacetado, uma hora entrega um filme de magia com pouca magia e muitos relacionamentos interpessoais, como em Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, outra hora entrega um filme sobre guerra com uma emotividade fora do comum, como no lindíssimo Labirinto do Fauno.


O filme gira em torno da caloura Dra. Ryan Stone e do veterano Matt Kowalsky, que, ao realizar uma missão de reparos na parte externa de uma estação espacial, são atingidos por uma chuva de destroços provenientes de uma explosão de uma estação russa antiga. Você, nesse momento, já viu o trailer, o cartaz, e sabe que eles terão problemas, mas a ansiedade para que consigam retornar a salvo para dentro da estação é inevitável. Ambos são atingidos e ficam a deriva no espaço tentando encontrar um caminho, que parece impossível, de retornar em segurança à Terra ou a outra estação espacial. E elas estão logo ali! Você as vê, mas não há meios de chegar e uma agonia começa a tomar conta de todo espectador. Acredito que somente Buzz Aldrin² assistiria o filme com alguma dose de tranquilidade.

O filme parte então para a exploração do relacionamento entre o casal (não exatamente) protagonista. Eles têm uma relação de amizade concisa e Matt consegue, mesmo em vias de morrer no espaço, manter o humor. George Clooney, embora aclamado por esse papel, me pareceu mais um mero adicional. Lógico que seu papel tem importância, mas poderia ser substituído sem grandes danos à narrativa. Sandra Bullock, opção à Angelina Jolie que declinou o papel, traz toda sua arte de interpretar apenas para o rosto, pois em macacões espaciais não há expressão corporal que sobreviva, e todos amaram. Bom, quase todos. Ainda a acho pouco para um filme tão incrível e não vi merecimento de um Oscar ali. Mas eu não sou crítico. Outro personagem do filme, talvez o único outro, é a voz do controle da missão em Houston. Nada menos que Ed Harris, conhecido por Christof em Show de Truman e por Gene em Apollo 13, outro filme espacial. Ambas atuações lhe renderam indicação ao Oscar de melhor ator coadjuvante. Mesmo com esse elenco pequeno, o filme consegue ser grandioso, mostrando que é bem mais que um aglomerado de atores bonitos na tela.

Gravidade é um espetáculo visual. Desde os primeiros segundos, quando um som ensurdecedor é substituído pela imagem da Terra vista do espaço e silêncio, até a cena final, que de tão simples seria boba, mas que adquire um significado surpreendente após se presenciar o desenrolar do filme. As cenas são bem equilibradas entre momentos de close, característicos para emoções, e panoramas que mostram a vastidão de nada que os cerca e é, ao mesmo tempo, lindo e perturbador. Ryan é mantida sob o olhar da câmera o tempo inteiro e a simpatia com a doutora é grande o bastante para se sentir no lugar dela. Cada nesga de esperança que é dada, e empolga, causa também raiva ou desespero quando é tirada.

Pode parecer exagero falar que Gravidade é um dos melhores filmes sobre o tema, mas não é. O longa traz quantias certas e muito bem colocadas de ciência, drama e, por que não, humor. Usando uma tecnologia que foi desenvolvida especificamente para esse projeto durante 4 anos, Cuarón traz até o espectador um filme com roteiro simples, sim, bem simples mesmo, assinado por ele e por seu filho, mas que se transforma em um caleidoscópio de imagens, sons, emoções e drama, que de tão bem dosados e misturados saem como um delicioso coquetel para qualquer amante de cinema. Ou espectador casual. Ou qualquer um.
¹ "Houston, tem alguém aí? Tem alguém aí? Alguém?" (adaptado)
² Astronauta americano presente na missão à Lua em 69

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