Lugar Nenhum, de Neil Gaiman



"- Desculpe - disse para o segurança aturdido, enquanto se soltava, e fugiu. - Entrei na Londres errada."

Essa frase define bem o tom de Lugar Nenhum (do original, em inglês, "Neverwhere"), livro que segue o contrário do padrão das adaptações: ele foi lançado depois de terem concluído a série de televisão de mesmo nome. Ainda, de forma irônica, o livro é consideravelmente mais famoso do que a série, que ficou praticamente restringida ao território do Reino Unido e a fãs da história e do autor.

O livro conta a história de Richard Mayhew, escocês que foi para Londres devido a uma oportunidade de emprego. Lá, ele acabou ficando noivo de Jessica Bartram (um pouco controladora, diga-se de passagem) e prosseguiu com sua vidinha monótona até que, um dia, indo a um jantar com sua noiva, eles se deparam com uma menina ensanguentada no meio da calçada. Jessica diz para irem logo, porque já estão atrasados, e que outra pessoa passaria por ali e ajudaria a garota, mas Richard resolve que precisa ajudá-la. Ele tenta levá-la ao hospital, mas a garota diz que não, ele não pode levá-la ao hospital. Jessica começa a fazer ameaças, dizendo que acabaria com o noivado deles se não deixasse a desconhecida lá. Richard levanta a garota nos braços, dá as costas à noiva e vai andando de volta ao apartamento.

O que ele não sabe é que a garota se chama Door ("Porta", em inglês) e há dois assassinos/ladrões/torturadores que estavam atrás dela, tentando capturá-la. Quando Richard aparece e a salva, ela tinha acabado de se deparar com os dois e conseguido fugir, usando seu dom de abrir coisas (agora o nome dela faz sentido, não é?) e pedindo por ajuda. A porta que ela abre, do nada, a leva diretamente a Richard, como se fosse algo do destino.

No apartamento, Richard tenta ajudá-la sem saber o que está prestes a acontecer a ele. Depois de fazer algumas coisas à ela, como sair a procura de um marquês, sem perguntar por que, Door vai embora com seu amigo, o Marquês de Carabas, e pede desculpa ao sair. É aqui que tudo muda: Richard parece não existir mais. Depois de seu contato com Door e tudo que a envolve, Richard parece não existir para ninguém. Ele tenta um táxi e ninguém para; quando um está prestes a atropelá-lo, ele faz uma curva, para evitá-lo, e continua no seu caminho. No seu emprego, ninguém o vê, ninguém o percebe. Sua mesa está sendo tirada do escritório. Ele tenta falar com a noiva, pedir desculpas, e ela, enxergando-o com muita dificuldade, não sabe quem é ele. Richard se vê desesperado e tenta ir atrás de Door para, finalmente, descobrir que existem duas Londres: a de Cima e a de Baixo; a de Cima sendo a sua monótona e cinza Londres e a de Baixo uma Londres mágica, perdida no tempo. Ao se deparar com Door na calçada, ele trocou de Londres, podendo nunca mais voltar para sua vida normal. Ele vai atrás daquela que mudou sua vida por completo e, então, a aventura realmente começa.

Com toques de humor e ironia, clássicos de Gaiman e outros autores ingleses, Lugar Nenhum é uma história fantástica, tanto pela sua nuance mágica quanto por sua qualidade. Os personagens, mesmo que não sejam todos carismáticos, são brilhantes por si próprios e prometem surpreender com suas decisões através do desenvolvimento do livro, até chegar ao último capítulo com sua brilhante conclusão. Richard é covarde, mas possui tanto de Arthur Dent (personagens de O Guia do Mochileiro das Galáxias), ainda mais no começo da história, que é difícil não gostar dele com o passar das páginas; Door, com seu Dom e sua busca para saber quem matou sua família e por que; De Carabas, arrogante e convencido, mas brilhante; Hunter, a guarda costas; Sr. Croup e Sr. Vandemar, os vilões; e muitos outros personagens que garantem o sucesso do livro.

Lugar Nenhum é construído pouco a pouco com uma história, apesar de mágica e louca, verossímil, maior qualidade de Neil Gaiman ao contar suas histórias. É um livro curto, com menos de 350 páginas, e garante boas horas de divertimento e de curiosidade enquanto explora o cenário de Londres de Cima e de Baixo, de maneira fabulosa, fazendo-nos acreditar que existe tudo aquilo na vida real. Seu final, digno de palmas por não ser apenas mais um final, mas um convite a pensar muito além, conclui o romance de maneira fantástica, garantindo o livro a minha lista de recomendados.

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