As Aventuras do Caça-Feitiço, Joseph Delaney

Me lembro, como se fosse ontem, do dia em que minha mãe veio até mim e disse: “Arthur, vou te levar para um lugar mágico”. Acho que você pode deduzir para onde ela me levou. Agora, imagine a frustração de um garoto de 8 anos ao chegar em uma livraria, esperando se deparar com um lugar repleto de monstros e criaturas fantásticas. Minha mãe falou para eu escolher um livro e fui direto em uma obra com capa intrigante e uma mensagem atrás dizendo: “Cuidado: não deve ser lido à noite”. Ah, maldita psicologia reversa. Fiquei louco por aquele livro e por sua história; minha mãe comprou e é claro que eu resolvi começar a ler no período da noite! Me arrependo disso até hoje, pois confesso: fiquei morrendo de medo... Mas isso é outra história. No fim, eu acabei recebendo o que queria. Era um livro repleto de monstros e criaturas fantásticas, com uma história que me deixava fascinado. Esse foi o livro que me fez gostar de ler: O Aprendiz, o primeiro livro da saga As Aventuras do Caça-Feitiço.

Esta é uma série de livros britânicos de fantasia, sem dúvidas uma das melhores que já li. Joseph faz uma boa narrativa, nos prendendo à história facilmente. "As Aventuras do Caça-Feitiço" nos apresenta o protagonista Thomas Wards, que é o narrador da série. É como se lêssemos o seu diário. Ele é o sétimo filho de um sétimo, o que lhe dá o dom de enxergar coisas que os outros não vêem e sentir quando o perigo é iminente. É algo necessário para ser um caça-feitiço. Quando Tom tem idade pra trabalhar, seu pai não sabe o que fazer, pois os 6 ofícios disponíveis já foram ocupados pelos outros irmãos. Sem opção, o ofício escolhido para Thomas Ward é ser um aprendiz de caça-feitiço. É um trabalho duro e solitário, consiste em derrotar feiticeiras e ogros, exorcizar fantasmas e combater demônios e criaturas de todos os tipos. Por esse motivo, os caça-feitiços não são muito bem-vindos, pelo fato de sempre atraírem o mal. Em tal ofício, quando você não tem um aprendiz, o seu único amigo é o bastão.

É assim que Tom entra em um dilema: ficar com a família, sem dinheiro e trabalho ou salvar o Condado do mal que o ronda. De início, Thomas sente medo, pois terá que enfrentar as criaturas que sempre temeu. Sua mãe, notando o temor do filho, o encoraja, dizendo que tempos sombrios se aproximam e que Tom deverá ser o responsável por expulsar as trevas de vez do Condado. Toda a confiança da mãe lhe dá coragem e o jovem decide encarar o trabalho. O caça-feitiço é, então, chamado. Chama-se John Gregory e é um velho (e um tanto rabugento) que usa uma capa negra e segura seu bastão com a mão esquerda. Ele diz que levará Tom para um teste e depois irá voltar para esclarecer se o jovem foi aceito ou não. Os dois, então, partem na manhã seguinte e, bem depois do quintal da casa dos pais de Tom, a coragem do garoto é testada quando o caça-feitiço começa a subir o Morro do Carrasco. 

Ah, o Morro do Carrasco. Ele é tão marcante para mim quanto foi para Tom. Durante toda a sua infância, o jovem ouvia ruídos atormentadores vindo de lá e, certas vezes, podia ver a silhueta dos que foram enforcados naquele lugar. Embora sua mãe tenha ido lá várias vezes, as assombrações cessavam por um tempo e depois voltavam novamente. Compartilhei o medo com Tom, quando ele e o caça-feitiço subiam na direção das silhuetas dos enforcados lá em cima. O caça-feitiço explicou a Tom que não havia o que temer, eram apenas sombras; lembranças que ficaram marcadas ali para sempre. Eram inofensivas. E, então, as aparições e os ruídos cessaram por um momento. Não havia o que temer, por enquanto. Os dois partem na direção da cidade onde ocorrerá o tal teste.

Eles enfim chegam à tal cidade. É nesse momento que Tom vê o quão assustadas ficam as pessoas na presença de um caça-feitiço. Padres fazem o sinal da cruz e rezam; as pessoas evitam olhar. John Gregory enfim revela a Tom o teste: o jovem deverá passar a noite em uma casa mal-assombrada. Lembra quando eu lhes disse que decidira começar a ler no período da noite devido à psicologia reversa da contracapa? Bem, foi um erro. Eu tinha apenas 8 anos e me lembro muito bem de ficar arrepiado com essa parte. Tom passa no teste e é aceito como aprendiz de caça-feitiço. Uma nova etapa na vida do garoto tem início.

Na minha opinião, os três primeiros livros servem apenas para nos apresentar ao Condado, os personagens e a atual situação do reino. Entretanto, isso não quer dizer que não são especiais. O livro 1 mostra o começo do aprendizado do Tom, e como ele entra em um perigoso negócio após conhecer Alice, uma feiticeira que se diz benevolente. Após começar a fazer favores para ela, o aprendiz se vê cara a cara com uma situação que pode pôr em jogo a sua vida e a de todos ao seu redor. O livro 2 é eletrizante do começo ao fim, focando-se em como a sociedade encara a presença do caça-feitiço, e como sua pessoa pode interferir na religião. É aí que se encaixa o Flagelo, um perigoso demônio que John Gregory nunca conseguiu derrotar e que agora está desperto novamente. Quanto ao livro 3, um dos meus favoritos, ele passa-se em uma área do Condado que não conhecemos muito bem, e em uma época em que criaturas sombrias estão à espreita. A medida que o tempo passa, o aprendizado de Tom passa a ficar mais arriscado e rigoroso, mas será que o aprendiz está pronto para encarar o passado sombrio de seu mestre? 

Enfim, o livro 4! Por mais que a saga tenha 7 livros lançados no Brasil, só irei comentar especificamente até esse. É onde as coisas começam realmente a acontecer e o caos se instaura. Retrata os tempos sombrios do Condado, enquanto os clãs de feiticeiras se unem para trazer ao nosso mundo o próprio mal encarnado. 

Os personagens são muito bem-construídos, embora você só consiga entendê-los ao longo da história. Devo dar uma menção especial à Alice, uma garota que Tom encontra na floresta. O caça-feitiço é bem rígido quando se trata de mulheres e não fica nada satisfeito com a aproximação de seu aprendiz com a possível feiticeira. Durante o decorrer da história, você se pergunta de Alice é benevolente ou malevolente e confesso que até hoje não consegui ter certeza do que ela realmente é. Uma coisa eu te digo: se Tom não tivesse encontrado ela, talvez levasse uma vida normal (ou paranormal) como aprendiz de caça-feitiço, e muitos problemas ou mortes teriam sido evitados. 

O que acho bem interessante é como o autor detalha o aprendizado de Tom. Junto com o aprendiz, aprendemos a identificar quando uma é criatura perigosa ou inofensiva, quais são os clãs de feiticeiras e os tipos de ogros e fantasmas. É tudo bem complexo e é isso que nos prende à história. Quando o Caça-Feitiço não está enfrentando o mal com seu aprendiz, ele dá a nós (e a Tom) mais detalhes sobre o ofício. É tudo muito bem elaborado. Para nos deixar ainda mais por dentro do que é ser um caça-feitiço, Joseph Delaney lançou um spin-off da saga, chamado "O Bestiário do Caça-Feitiço", que é supostamente escrito por John Gregory e apresenta todas as criaturas que ele já enfrentou. É isso que diferencia "As Aventuras do Caça-Feitiço" das outras sagas de fantasia. No momento em que começamos a ler um livro da saga, é como se entrássemos em um novo mundo tão complexo como o nosso e é quase como se estivéssemos dentro da história. 

Devo lembrar novamente que "As Aventuras do Caça-Feitiço" é minha saga favorita, entre Percy Jackson, Divergente, Jogos Vorazes e todas as outras. Não só porque marcou minha infância, mas também por sua história incrível e a capacidade excepcional de Joseph Delaney para criar um mundo medieval tão complexo e rico em detalhes, como o Condado. Devo mencionar também que a saga tem uma adaptação para o cinema, adiada para 2015, estrelada por Ben Barnes, Jeff Bridges e Julianne Moore.

0 comentários:

Postar um comentário

 

BLOG HORRORSHOW - CRIADO E DESENVOLVIDO POR ARTHUR LINS - TODOS OS DIREITOS RESERVADOS © 2015