Laranja Mecânica, Anthony Burguess


Horrorshow. Ultraviolento. Miserável.

Estes são os principais adjetivos que me passam na cabeça ao pensar na (trágica) história de Alex e seus druguis. A primeira vez que tentei chupar esta laranja literária detestei o sabor. Experimentei quatro páginas e coloquei-o de lado. Oito meses se passaram e resolvi descascá-la outra vez. Estranhamente, degustei cada palavra como se fosse o gosto de uma laranja normal, mas não, esta laranja tinha gosto de sangue fresco, do qual viciei.


Os fatos nos são narrados por Alex, um adolescente de quinze anos, que divide seu tempo entre roubar, espancar idosos, estuprar mulheres e, porque ele não é um criminoso medíocre, ouvir música clássica. Tudo começa numa noite escura e sem-vergonha. Alex é o líder de uma gangue da moda, juntamente com Pete, Georgie e Tosko ele parte em busca de emoção.
"Foi aí que brotou sangue, meus irmãos, muito lindo."
A primeira delas é espancar um velho num beco, em seguida um duelo com a gangue do seu pior inimigo: a do gordo fedido do Billyboy. Após a briga, os garotos ainda querem mais e, com um carro roubado, param em um chalé isolado de um vilarejo. Alegando ter consigo um amigo passando muito mal, pede para usar o telefone. Neste chalé há uma placa de "LAR", mostrando que ali há gente feliz. Assim que a mulher abre a porta, os jovens delinquentes invadem o local, rendendo-a com seu marido, um autor de livros que trabalhava no título "Laranja Mecânica", de onde sai o título da própria vida relatada de Alex. No fim, a mulher é brutalmente estuprada por cada um dos garotos diante de seu esposo, o mesmo sendo vigorosamente espancado. Não há riscos para os garotos, todos estão bem mascarados. De volta na cidade, um incidente coloca em pauta a liderança de Alex e seu reinado é ameaçado pela primeira vez.
"Que direitos ele tem de achar que pode dar ordens?"
Mais um dia surge e Alex tem uma animada tarde sexual com duas garotinhas (sim, garotinhas na faixa dos 12, 13 anos pela forma que as personagens são descritas). Até que chega a noite e é hora de barbarizar pelas ruas. Após uma idosa negar atender a porta, Alex invade sua casa, mas a velha tem a sorte de conseguir chamar a polícia. Por azar, Alex a mata acidentalmente e chama seus comparsas para fugir ao ouvir o som das sirenes. Mas uma garrafada o atinge na cabeça e ele é amarrado por Tosko, sendo largado para os policiais.

Socos. Chutes. Cuspidas. Tudo o que Alex usava em suas vítimas volta-se contra ele através dos policiais. Não tem saída, ele estava condenado. Na cadeia, outra morte acidental (e da qual era inocente) o coloca em péssimos lençóis. Mas ele sabe que o governo está experimentando um procedimento que regenera socialmente o presidiário em 15 dias, dando-lhe a liberdade. É um processo perigoso e doloroso, mas Alex o quer. E quer tanto que se faz de bom moço, lê a Bíblia para ser selecionado. Claro, ele consegue.

Há uma pergunta no ar: Alex quer ser um homem bom? Não, ele quer apenas sair dali. A experiência, como o próprio Alex diria, é ultraviolenta e horrorshow. Ele é transferido de ala, recebe suas roupas de volta, comida. Mas a sala é fechada, onde está a liberdade?

Laranja Mecânica é difícil de engolir, sua linguagem mistura gírias do vocabulário das gangues juvenis (não se preocupe, tem um glossário no final do livro). Mas, por favor, não faça como eu, leia-o quando tiver oportunidade imediata. Ele fala sobre escolhas, mas não escolhas do tipo de para qual faculdade você quer ir, o que quer cursar, se casar está em seus planos. Ele fala sobre a escolha de um homem ser do bem ou mal. É correto para o governo usar a própria violência para combatê-la? O governo tem o direito de invadir o livre arbítrio dos cidadãos do seu país? Um homem deixa de ser um homem quando o poder de suas escolhas lhe são tiradas?
Alex representa, no fundo, uma juventude transviada, numa história icônica e imortal.
Burguess criou uma experiência multifuncional, por assim dizer, é possível sentir o cheiro da podridão de Alex e seu bando durante seus ataques. Eles são inteiramente perversos, e estão em seus direitos. A crítica à sociedade, mesmo que futurista, é real. A violência invade as cidades, a impunidade reina. É, como se Burguess tivesse vislumbrado nosso tempo em suas letras. Ele (Burguess) merece meu abraço por ter criado esta pérola.

No mais é isso, Laranja Mecânica sempre será um livro atual, feito para impactar. Mas ele vai além: ele enoja nossa alma. Em todos os sentidos. Só posso dizer uma coisa: esprema bem esta laranja, sairá muito sangue. E você vai viciar. Leia acompanhado do bom e velho moloko para relaxar.

3 comentários:

  1. Drugui, parabéns pela resenha! Muito horrorshow hahaha Já li o livro e foi um tremendo impacto. Tinha abandonado da primeira vez, e quando li de novo, achei o livro sensacional. Burgess escreve uma história atemporal pra chocar a quem lê. Pretendo ver o filme muito em breve.

    Beijos e sucesso com o blog! Se precisarem de ajuda, é só falar ^^
    biblioteca-de-resenhas.blogspot.com.br

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  2. Comecei o livro ontem após terminar o quarto livro de As Crônicas de Fogo e Gelo. Desde então, estou viciada no livro! Sou fã do filme, e o Alex é um dos meus vilões favoritos.

    Adorei a resenha! Parabéns..

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