Azealia, Azaleia e Cefaleia



Olhe para sua mão agora e entenda o aparelho que está usando como uma arma. Vê dessa forma? Não? Eu vou te mostrar algo. A internet deu voz a muitas pessoas de todo lugar e isso pode ter se tornado um problema quando diversas pessoas se unem em prol de algo negativo. Eu coloquei o nome da Azealia Banks no título do texto, mas ainda não chegaremos a ela. Vamos primeiro falar de você.

Em 1968, o professor de Stanford, Philip Zimbardo, concluiu através do famoso experimento da prisão quais seriam os 3 elementos base que constituem um comportamento mau. E eu observei cada um deles no movimento contra a rapper americana e me preocupa onde está a pior falha: nela ou em nós. Segundo a teoria de Zimbardo, nós nos encaixamos nos fundamentos necessários: desumanizamos a vítima, tornando-a apenas uma figura pública ignorando sua vida pessoal ou família, justificamos através de princípios morais, alegando que apenas estamos retribuindo o ataque feito previamente por ela, e, por fim, constituímos um efeito manada, onde estamos indo junto com os demais afinal somos muito nacionalistas, não é mesmo?

Azealia Banks, rapper americana de 25 anos, é alvo de críticas durante toda sua carreira. Por defender a maneira como acreditava que a indústria da música deveria funcionar agressivamente, denunciou comportamentos que julgava errado e foi acumulando fama de briguenta. Boicotada da “elite” da indústria, teve dificuldades enormes para conseguir contrato ou sequer lançar seus singles. Recentemente disse, em suas redes sociais:

“Quando esses anormais do terceiro mundo vão parar de fazer spam com esse inglês errado falando sobre algo que não sabem? É hilário ser chamada de vadia negra por brasileiros brancos. Eles deveriam se preocupar com a economia primeiro”

Tal comentário provocou a ira de internautas brasileiros que promoveram, de maneira assustadoramente orgânica, um multirão contra a cantora que envolve avaliações negativas em seus vídeos, comentários nocivos em suas páginas e ofensas. Sua página foi retirada do ar e muitos já pedem que a artista perca também seu Instagram.

Agora chegamos na parte “Black Mirror” da coisa.

Algumas comentários de Azealia eram racistas e segregacionistas. Demais! Além disso, a cantora já havia tido (mais) má publicidade com declarações homofóbicas e sexistas. Isso tudo deu um certo ar de justiceiros nos internautas que resolveram tomar o problema nas próprias mãos. Agora vamos relembrar a ótima série da Netflix. Da mesma maneira que muitos fingem estar assustados ao assistirem episódios onde a dor de alguém se torna entretenimento, os internautas perseguindo a cantora com ofensas raciais estão seguindo o mesmo padrão. Era como se Azealia fosse Lacie, no episódio Nosedive, onde devido a um erro ela merece ser punida indefinidamente sem chance de perdão. Ok que Azealia é mesmo muito teimosa e briguenta e não tenha se desculpado, mas não é como se tivéssemos dado a chance, não é? Além disso ela tem sua privacidade invadida e atacada de diversas formas por diversas pessoas, inclusive tendo sua conta no twitter desativada. Se houvesse algo constrangedor dela, eu tenho certeza que alguém estaria tirando vantagem disso como em Shut Up and Dance.

Estou bem longe de defende-la. Achei seus comentários altamente rudes e não tenho menor intenção de acompanhar sua carreira ou comprar um disco. Se ela vai cair no esquecimento ou estrelar um reboot de “Fresh Prince of Bel-Air” não faz a menor diferença para mim. O que me importa é não virar uma pessoa vidrada no celular filmando a desgraça alheia em uma versão latina, porém com internet (deixaram isso bem claro para ela), de White Bear Park. Ah, favor não confundir com as sandálias, pediram para avisar!

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