Clássico da literatura naturalista, O Cortiço apresenta como personagem principal o próprio - o cortiço de São Romão no Rio de Janeiro.
"Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de chumbo."
O cortiço foi construído após o enriquecimento praticamente ilícito de João Romão, um português avarento que tem mantém sua amante Bertoleza na ilusão de ter a carta de alforria da então ex escrava. O português conseguiu enriquecer com seu trabalho frenético de comerciante e pequenos roubos em suas vendas - e depois do cortiço, com os trabalhos incessantes de Bertoleza.
Com a construção do cortiço, João Romão passa a ter uma certa inimizade
com o vizinho Miranda, dono de um belo sobrado, que na verdade se dá pela inveja de João Romão ao título de nobreza que
Miranda ganhou após o casamento com Estela. No interesse de imitar o
inimigo, o dono do cortiço constrói uma pedreira e convida Jerônimo para ser o coordenador dos
trabalhadores, outro português importante para a
história.
Jerônimo representa o homem trabalhador, honesto, que vive
para trabalhar e manter sua casa. É casado com Piedade, uma portuguesa
lavadeira de clientela fiel que não deixa em nada a desejar nos afazeres
domésticos e cuidados com o marido. Até que Rita Baiana entra no
contexto.
Rita Baiana é uma mulata bastante sedutora, ela chega
(na verdade volta ao cortiço depois de um tempo na Bahia) e começa a
animar aquele lugar novamente. Jerônimo passa a se encantar por Rita ao
vê-la nas rodas de samba, e algumas vezes com seu amante, Firmo.
Com a aproximação de Jerônimo a Rita Baiana, mudanças no comportamento
do português começam a surgir e este passa a ser preguiçoso, grosso
com a esposa e a beber frequentemente. Fica claro o desejo mútuo
entre ele e Rita Baiana, provocando escândalos como o assassinato de Firmo
e a separação de Jerônimo e Piedade - no qual a portuguesa também se
entrega a um desgaste físico e moral e se torna alcoólatra.
Voltando ao dono do cortiço, João Romão acaba se aproximando de Miranda,
pois notam interesses semelhantes: João quer status de nobreza e
Miranda se interessa pela fortuna de João, pois todas as posses de Miranda
são herança da sua esposa, a qual odeia. Após o incêndio no cortiço,
João o reconstrói voltado para a classe média, o que aumenta o interesse
do vizinho e logo arranjam o casamento de João Romão e Zulmira, filha
de Miranda.
Contudo, para se casar com Zulmirinha, João teria que
se livrar de Bertoleza e ao mesmo tempo conseguir ser bem visto na
sociedade. João Romão denuncia aos donos de Bertoleza o seu
paradeiro para que eles capturassem. No dia da captura, um grupo de abolicionistas vai
até o cortiço para elogiar a índole de João Romão - algo particularmente
insano, pois no momento em que os abolicionistas estavam na sala de
estar, a escrava tirava a própria vida ao ser notificada que iria voltar
aos seus antigos donos.
O cortiço é um livro de linguagem
rebuscada, porém fácil de compreender. Com os personagens, o autor mostra
mudanças na personalidade de acordo com o local onde vivem, interesses e
até mesmo o clima é relacionado, por exemplo, é associado o fato de
clima no Brasil ser muito quente com a preguiça dos brasileiros. O
contexto histórico do livro se passa num momento de grandes mudanças
urbanísticas no Rio de Janeiro, onde é retratado a realidade sem
idealizações. Ocorre o mesmo no Realismo da classe média, o Naturalismo
lida diretamente com a realidade das classes mais baixas.
Vejo O
cortiço com grandes críticas sociais e morais, e algumas situações até
então inusitadas que ainda são vistas assim hoje, mas que com o livro
percebo que já era comum naquela época, como o envolvimento de Pombinha, uma
moça pura, a "flor do cortiço", com Léonie, uma prostituta que
"desvirtua" Pombinha e faz a mesma largar tudo para viver com ela na
luxuria. Podemos dizer então que não houveram grandes mudanças
comportamentais desde O cortiço até hoje, e que esse livro é um tapa na
cara da sociedade conservadora. Um ótimo livro!
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