O Mundo Perdido, Michael Crichton


Até onde a mania do homem de brincar de Deus pode prejudicar o todo? No caso de Hammond, o simpático senhor que criou o Jurassic Park, essa mania o levou a, pelo menos, criar uma outra ilha. Isla Sorna é a ilha usada para produção dos animais que viravam entretenimento em Jurassic Park, e se o “produto” final deu problema, imagina a bagunça na linha de produção...

O Mundo Perdido é a continuação direta de Jurassic Park. Nele temos Ian Malcoln, único personagem do primeiro livro a retornar, em direção a Isla Sorna para resgatar o Dr. Levine, um paleontólogo que foi investigar a ilha. Ian não acreditava antes, mas descobre que a ilha é o lar de dinossauros e parte para ajudar Levine, que está em perigo. Nessa equipe de resgate ainda contamos com funcionários de uma empresa de biotecnologia que, contrariando todo o conceito de “observar e aprender”, querem ovos de dinossauro para criar um, wait for it, parque temático. Mas o melhor personagem do livro é, sem dúvidas, Sarah Harding. Ah, temos também a clássica dupla de crianças que não deviam nem estar ali perto. Agora junta essa gente toda numa ilha dominada por dinossauros, em sua maioria Raptors.

Mundo Perdido foi lançado originalmente em 1995, dois anos após o sucesso estrondoso de Jurassic Park, o que dá margem para especulações sobre os motivos da sequência. Embora diretamente após o primeiro livro, podemos notar uma diferença bem clara em relação aos dois volumes. A primeira delas, e a mais gratificante, é em relação a Dra. Harding. No primeiro livro tínhamos Ellie Sattler, uma personagem estereotipada ao limite, em contraponto à Dra. Harding que é a pessoa mais corajosa e com atitude que vemos nesse segundo volume. Não sei se tal mudança foi fruto de críticas ao sexismo, mas aconteceu. Também notamos uma mudança em Ian Malcoln, mas essa está no leitor mesmo. No primeiro livro, ele passa a ideia de ser o chato pessimista, mas no segundo é o chato pessimista que está certo, você concorda com ele e quer ouvir tudo o que tem a dizer, afinal nós sabemos o que dá não ouvi-lo, certo?!

No meio da crítica, ainda bem presente, aos limites da ciência e o impacto que pesquisas e experimentos têm no mundo, Crichton ainda tem espaço para tratar do bullying através das crianças Kelly e Arby. Ambos são nerds que não se encaixam no padrão pré moldado de criança daquela idade. Há, inclusive, uma relação muito bacana de se ver entre Kelly e a dra. Harding, onde a criança a vê como sua mentora e um exemplo máximo a ser seguido. Na habitual crítica à ciência, temos ela direcionada a dois fatores: o exagero em nome do dinheiro e em nome do conhecimento. Sim, Crichton explora o que a obsessão pelo saber pode causar, se não controlada. Ambos os pontos são muito bem levantados através de dois personagens: Levine, o tolo que foi parar na ilha em primeiro lugar, em busca do conhecimento, e Dodgson, da empresa de biotecnologia.

Um problema que alguns leitores podem encontrar nesse livro é a descrição científica. Algumas vezes temos parágrafos inteiros dedicados à explicação de um termo ou desenvolvimento de uma teoria, e isso pode ser um pouco chato para aqueles que buscam apenas um livro de ação, mas como o público dessa obra é o de leitores de ficção científica, esse “problema” na verdade se torna um pró. Eu poderia ler capítulos e mais capítulos do ex-chato Ian Malcoln descrevendo ramificações da teoria do caos.

O Mundo Perdido é um livro que, contrariando as estatísticas de continuações, supera o primeiro. Tem um enredo muito empolgante, com personagens muito mais aprofundados e questões a serem debatidas expostas de maneira um pouco mais óbvia, mas com mais desdobramentos possíveis. Em uma edição linda da Editora Aleph, esse livro é daqueles para guardar para os filhos para que eles leiam num carro voador em direção a um parque temático com alguma espécie que extinguimos.

0 comentários:

Postar um comentário

 

BLOG HORRORSHOW - CRIADO E DESENVOLVIDO POR ARTHUR LINS - TODOS OS DIREITOS RESERVADOS © 2015