Ovelha – Memórias de um pastor gay, Gustavo Magnani



Gustavo Magnani é o criador do Homo Literatus, um site de literatura que foi um enorme sucesso no país; também participa do podcast “30 Min”, que era o que eu conhecia e por onde descobri o livro. O combo título + subtítulo, por si só, já é um tanto chamativo e até um pouco intimidador para os que são adeptos de algumas religiões. Para mim, predizia polêmica.

Acredito que a polêmica tenha sido o intuito do autor, já que em pleno 2016 ainda ouvimos muito sobre a rejeição de algumas pessoas dentro das religiões por conta da sua sexualidade –e não vou nem começar a falar sobre a rejeição fora das religiões. E essa é uma ferida que precisa ser cutucada e limpa, até que se cure.

Ao começar a história, tive dois grandes receios. O primeiro era de que houvesse muitas cenas de sexo desnecessárias ao longo do livro, medo esse que foi reforçado por amigos, que então me recomendaram não começar a ler. O segundo era que a história envolvesse um pastor pedófilo, independente do abuso ser com meninos ou meninas.

Felizmente, meus receios se mostraram desnecessários. O livro contém sim cenas de sexo e linguagem bem característica, mas muito bem colocadas para mostrar o objetivo do livro, assim, não incomodaram a leitura de forma alguma. Acredito que possa ter faltado um pouco de verossimilhança nas relações homossexuais do protagonista, mas estou me baseando apenas no que conheço de amigos e pessoas próximas, afinal, quem sou eu para falar sobre isso, não é mesmo? Além disso, o meu segundo receio passou ainda mais longe. Em nenhum momento vemos cenas de abuso infantil, o que estava acontecendo muito no mundo real no momento do lançamento do livro e anos antes. Acho que desviar dessa bala foi meu maior alívio.

O personagem fala muito sobre preconceito, tanto o dos outros quanto o dele mesmo. Um relacionamento conturbado com a mãe religiosa e controladora contribuiu muito para essa visão, que no momento da escrita ele já considera absurda. Seu relacionamento com seu irmão é outra coisa que melhora apenas com a chegada de muitos anos de vida. O problema que eu vi é que apesar de considerar absurdo, ele não parece arrependido e recuperado de seu preconceito, apenas do seu próprio sofrimento. Nada teria mudado se o afetado pela ojeriza não fosse ele.

O pastor é, sim, perturbado e se mostra muito arrependido pelas mentiras e enganações que fizeram parte de toda a sua vida. O que eu questiono é a motivação desse arrependimento: ele acha que tudo o que pensava é ridículo e sem fundamento algum ou só está arrependido porque está com AIDS e infeliz? Esse tipo de questionamento é muito importante para mim e me diz muito sobre as pessoas – ou os personagens.

Ao fechar o livro, alguns pensamentos que passaram pela minha cabeça foram o de que a história poderia ser maior, escrita com mais calma e com maiores descrições dos personagens que não são o protagonista. A esposa, a mãe, o irmão e o amante são peças chaves na trama. A impressão que tive é que se trata de um livro de um homem só, o que, por mais que se trate de um livro de memórias, deixa um pouco a desejar. Apesar dos problemas que apontei, é um avanço na área e vale a pena ler este livro e acompanhar os próximos lançamentos do autor.

0 comentários:

Postar um comentário

 

BLOG HORRORSHOW - CRIADO E DESENVOLVIDO POR ARTHUR LINS - TODOS OS DIREITOS RESERVADOS © 2015