Sobreviveu a Auschwitz, Emanuela Zuccalà




Liliana Segre, uma das últimas testemunhas da Shoah

Este livro foi uma cortesia da editora Paulinas

O momento histórico da segunda guerra mundial, talvez a maior atrocidade causada na trajetória humana, foi “espetacularizado” pela mídia cinematográfica à exaustão e a obra de Emanuela Zuccalà resgata justamente o que há de mais importante: a perspectiva do oprimido. 

Liliana, na época da invasão nazista, era uma jovem garota judia que, apesar de perceber os eventos que se desenrolavam desfavoravelmente na sua família, não tinha ideia do horror que iria contemplar nos campos de concentração pelos quais passou. Ela e o pai chegaram a escapar para a Suíça, mas foram covardemente deportados, capturados em pouco tempo pela polícia do partido nazista, presos e passando por vários campos. 

Os horrores da guerra, da incerteza sobre o amanhã, do arbítrio assustadoramente malicioso da polícia nazista e todas as outras dificuldades enfrentadas pelas comunidades perseguidas durante a segunda guerra são temas que muitos evitam. Neste caso, eu recomendo particularmente esta obra, não porque estes temas não se façam presentes, mas porque o foco da narrativa é outro. 

Liliana conta sua visão das coisas, sua subjetividade aparece fortemente, e narra as terríveis situações pelas quais passou, mas ao mesmo tempo conta como voltou a se sentir um ser humano depois da guerra. A mensagem por trás da obra como um todo não está na dor, está na memória. Devemos nos lembrar de Auschwitz para nunca o repetir, devemos nos lembrar do relato daqueles que viveram o horror para nunca mais cairmos na tentação do totalitarismo. 

A vivencia pessoal de Liliana reforça o que Adorno apresenta em sua famosa obra “Educação após Auschwitz”, refletindo sobre o horror, conclui que as mortes foram assustadoras, mas a frieza com que a polícia nazista tratava os presos era ainda mais assombrosa. Os prisioneiros eram catalogados, classificados, enumerados de acordo com critérios que variavam de região para região e, invariavelmente, condenados a se tornar objetos de experimentação médica, trabalhadores forçados ou qualquer outra sorte de ocupações.

Nas letras de Zuccalà é possível sentir e acompanhar um ser humano verdadeiro, que se agarra a fios inócuos de esperança, que se engana e narra o engano daqueles que esperavam não serem atingidos pela guerra. O livro conta a dor da perda e do encontro e como é reocupar um lugar no mundo. O que talvez seja o momento mais interessante da obra: como retornar ao mundo, voltar a amar, a sentir e a confiar em outros seres humanos, como não incorrer na mesma mentalidade nazista e resistir a ideia de culpar uma nação inteira ou um povo pelo sofrimento sentido por tanto tempo. 

A verdade é que Liliana conseguiu vencer o tempo que passou nos campos de concentração, a perda da família e vencer o fantasma da guerra, que normalmente vive dentro daqueles que experimentaram o totalitarismo na sua pior forma.

Encontre a editora Paulinas através do link

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