Transformer, Victor Brockis


Este livro foi uma cortesia da Editora Aleph

Lou Reed foi, acima de tudo, um poeta. Um artista com uma vida excêntrica (e qual deles não têm, certo?!) e que tinha como principal arma contra a sociedade a sua identidade, que era valiosa demais para ser modificada ou adaptada. Assim era Reed, definido da maneira mais simplista que eu consegui: autêntico, poeta... Mas esqueci de mencionar problemático. Mas, de novo, qual de nós não é, certo?!

Nascido em uma família tradicional judia, Lewis Allan Reed era um jovem um tanto antissocial. Sofria constantes ataques de pânico e crises de ansiedade, teve uma vida escolar um pouco conturbada, mas acabou indo para a faculdade. Pela vontade de tocar, Reed resolveu lidar com seus problemas psicológicos, mas isso levou a algo pior. Convencidos pelo psicólogo, os pais de Reed optaram por ministrar no filho uma terapia eletroconvulsiva, que marcou tanto o guitarrista que até refletiu na letra de uma música. Nesse trecho, retirado do livro clássico sobre a história do punk “Please kill me”, ele explica sua passagem pelo tratamento:

“Eles colocam uma coisa na sua garganta para que você não engula sua língua, e então põem eletrodos na sua cabeça. Isso foi recomendado pelo Hospital Estadual Rockland para desencorajar sentimentos homossexuais. O efeito era que você perdia a memória e se tornava um vegetal. Não poderia ler um livro porque você chegaria na página 17 e teria que voltar para o começo.”

Reed foi expulso por apontar uma arma a um superior. Com seus estudos interrompidos, começou a trabalhar como apresentador numa rádio local. Esse, provavelmente, teria sido o momento decisivo na vida do artista. Foi através desse contato mais íntimo com a música que Reed teve suas principais influências e foram elas vindas do Jazz e Blues. Se mudou para Nova York onde trabalhou como compositor para uma gravadora. Nesse trabalho foi onde conheceu seus companheiros que formariam o The Velvet Underground. A banda teve reconhecimento de seu valor quase que imediato. O artista plástico Andy Warhol foi, provavelmente, o principal contribuinte para o sucesso. Seu nome atraiu atenção para a banda que conseguiu, então, gravar seu primeiro álbum. A partir daí, a história que já não é pública, está nesse livro.

Transformer apresenta uma versão mais humanizada do músico. Enquanto a anterior, escrita por Howard Sounes, demonizou o músico, incluindo acusações de violência doméstica, Bockris tentou tornar a figura Lou Reed em apenas músico. Até que daí se extrai uma falha do livro.

Um ponto que me desagradou em Transformer foi o excesso de atenção dado a épocas da vida de Reed que não importam muito aos fãs como, por exemplo, ao álbum gravado com o Metallica, que nem os fãs ou a crítica curtiram muito. Faltou dar atenção ao casamento de mais de dez anos com uma travesti. Na época, isso era o ato máximo de justiça ao que se sente. Reed era bissexual e nem eletrochoques tiraram isso dele, mas Victor Bockris tentou novamente. Porcionar a vida de um artista de tanto peso quanto Reed parcialmente, colocando ênfase nos seus problemas com drogas e o seu único álbum ruim é um crime. Pior ainda é deixar de lado sua contribuição para a mentalidade das pessoas. Lou Reed foi violento através de melodias suaves, foi romântico com letras brutas, mas, acima de tudo, Reed deixou uma legião de fãs mudados pelo que fez.

Apesar dessas falhas apresentadas, Transformer é indispensável para quem é fã de música. Para quem é fã do músico, especificamente, pode ter a sensação de informação repetida. Em uma edição lindíssima da Editora Aleph, o livro vem em capa dura com textura e relevo, com uma arte interior de dar inveja a qualquer outra editora que se proponha a fazer uma edição especial de algum livro.

Não sei até que ponto a parcialidade de um autor influencia no resultado de uma biografia. No entanto, se tratando de Lou Reed, um músico que falava por si só em qualquer situação, a influência do autor é mínima. Reed foi casado com uma travesti numa época preconceituosa, se assumiu bissexual dentro de uma família tradicional e usava drogas (ou ao menos simulava) em pleno palco. Lou Reed era tudo aquilo que o chamavam: ele era “bicha”, “viciado” e “fudido”, mas, não se pode negar, que Lou Reed era Lou Reed da mais perfeita forma. Não, definitivamente nada o influenciaria em vida, nem ao menos após sua morte. Morte não, pode ser apenas um passeio pelo lado selvagem.

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