#projetorelendo: Harry Potter e O Cálice de Fogo



Essa resenha contém spoilers

No quarto livro da saga, acompanhamos Harry e seus amigos (Rony e Hermione não acompanham o bruxo no esperado desafio que sempre acontece no fim do livro) no desenrolar de uma história cheia de guinadas que valem a pena serem relidas. Este volume é como um divisor de águas na saga, é nele que Lord Voldemort retorna a vida em um corpo adulto e os planos para recuperar o antigo poder aparecerão no próximo livro. 

O cálice de fogo é um artefato mágico que gera um contrato com os bruxos selecionados que voluntariamente tiverem colocado seus nomes para competir no torneiro mais famoso da história da bruxaria. Harry acaba tendo o nome expelido pelo cálice, ainda que não tenha colocado seu nome. Obviamente uma conspiração está por trás da série de eventos que fizeram seu nome ser indicado pelo cálice. Há uma trama para eliminar Harry e garantir o retorno do lord das trevas. Tudo isso através de um feitiço antigo e poderoso que será revelado no fim da obra.

Até que estes eventos culminem em um final muito bem narrado, Harry acaba tendo que aceitar participar das tarefas exigidas aos bruxos indicados pelo cálice de fogo. Aqui faço um paralelo entre o filme e o livro, acho que é inevitável tal comparação. O filme homônimo acerta nos recortes, mas erra na importância dada a algumas tarefas, por exemplo, o desafio final, no labirinto, é muito mais relevante e mostra muito da evolução do personagem que o enfrentamento com o dragão, mas como a película precisa em alguma medida de pontos altos acabaram elegendo a cena com o rabo-córneo húngaro como a mais impactante. Nada disso prejudica o desenrolar da história, somente elimina a possibilidade de mostrar como Harry abandona aos poucos sua infantilidade e começa a finalmente assumir um papel mais adulto.

Reler O Cálice de Fogo foi um tanto mais interessante que O Prisioneiro de Azkaban. Neste quarto volume os personagens começam a ter suas vidas complicadas não só pelos planos maléficos do lado negro da magia (perdoem o trocadilho), mas começam também a revelar uma vida repleta de demandas e angústias que não têm relação direta com a trama. É bom que uma obra do tamanho dessa tenha histórias periféricas e é melhor ainda perceber na releitura o quanto elas são bem amarradas.

O que mais me chamou a atenção foi em como nos esquecemos dos detalhes e como os filmes os atropelam. Não estou dizendo que os filmes sejam ruins; é necessário reduzir a história à sua essência para dar conta de quase 500 páginas em menos de duas horas. Mas é realmente muito interessante rever o papel de alguns personagens que acabam sendo esquecidos após alguns anos de leitura, e especialmente após assistir os filmes depois de ter lido os livros há um tempo. Me refiro ao elfo doméstico mais adorável de toda a história, talvez o personagem mais inocente e mais gentil de toda a trama. Dobby acaba salvando Harry na véspera de uma de suas tarefas e, somente graças a sua intervenção (ainda que manipulada por outro personagem), é que o jovem bruxo consegue avançar no torneio.

Existe um momento extremamente cansativo neste volume, que numa das minhas primeiras leituras não havia sido tão óbvio. A discussão de Harry e Rony é maçante ao extremo e só faz sentido no texto porque os personagens realmente precisavam ganhar um tom mais humano. Suas vidas não podem se resumir a cumprir o ano letivo e enfrentar desafios provenientes de comensais da morte ou do próprio Voldemort. Mas é importante ressaltar que apesar da monótona sequência de desencontros entre Harry e Rony, que acabam dizendo muito sobre a maturidade dos personagens (ou a falta dela), ainda se destaca um aspecto muito necessário na saga de qualquer herói: ele tem defeitos. Esses defeitos humanizam os personagens e dão a eles aspectos críveis. Fico imaginando se Dumbledore fosse escolher alguém para ser a pessoa que cumpriria a profecia, certamente Hermione ou outra aluna ou aluno mais equilibrados seriam indicados.

Harry é preguiçoso, desleixado, um péssimo líder, possui uma mania de herói que beira o ridículo e justamente por isso é a melhor pessoa para ocupar o papel que o personagem ocupa. Neste quarto livro observamos como ele sempre deixa suas tarefas para o último momento, mesmo tarefas essênciais como descobrir o próximo desafio do torneio que pode lhe custar a vida. O fato de Harry fazer jus a muitas das críticas que Snape lhe faz o tornam um herói em aprendizado, fazem a história ficar mais emocionante, ainda que às vezes seja exasperante, faz com que seus progressos morais, intelectuais e afetivos sejam tão fascinantes de serem acompanhados.

Rony poderia ser analisado da mesma forma? Acredito que não, afinal, Rony possui outra mentalidade. Era realmente preciso que Harry possuísse algumas das características que possui para fazer sentido ocupar seu papel. Tudo isso aparece com muita clareza numa releitura mais fria, como eu me propus a fazer; o encanto da narrativa envolvente de J. K. Rowling certamente não diminui e imagino que não diminuiria mesmo que a análise fosse técnica e textual.

Retomando a sequência de fatos da obra, Harry acaba enfrentando os desafios do torneio e se depara ao final junto de seu colega de competição em um cemitério, onde Lord Voldemort aguardava para finalmente conseguir se reerguer. O sangue de Harry, retirado à força, e misturado a outros elementos de um feitiço das trevas garante o retorno a vida de Voldemort e é por um triz que Harry consegue escapar. Cedrico não compartilha de tanta sorte, perece assim que chega ao cemitério. De volta à escola, se apressa para alertar a todos do retorno do mais temível bruxo das trevas que já existiu.

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