Rebel Heart, Madonna

Após mais de 30 anos de carreira, algumas obras-primas e polêmicas lançadas, Madonna retorna ao universo musical com seu décimo quarto álbum intitulado “Rebel Heart”. Com a colaboração de diversos produtores e estilos diferentes, Madonna orquestra uma verdadeira salada musical, onde incrivelmente consegue soar concisa e estruturada. Conhecida por sua mão-de-ferro, foco e perfeccionismo, a artista faz transbordar suas melhores qualidades em seu novo álbum.

Felizmente o lugar comum do pop acaba logo na primeira faixa, Living For Love, que mesmo com uma construção já batida, ainda consegue empolgar, mesmo que não seja uma faixa verdadeiramente memorável. Rapidamente somos apresentados a Devil Pray e Ghosttown que nos faz, mais uma vez, afirmar o verdadeiro talento da artista em criar ótimas melodias. E é em Devil Pray que o conceito do álbum se apresenta. A rebeldia, não só nas atitudes, mas também em se mostrar disposta a desconstruir o próprio gênero em que tanto contribuiu na sua carreira. Com uma mescla de uma infinidade de gêneros que vão desde o house, folk, reggae, hip-hop e r&b, sendo estes últimos as verdadeiras estrelas do álbum, usados como construção básica praticamente em todo o álbum, presenteando o ouvinte com uma energia natural e a sensualidade marcante do soul, raiz dos dois gêneros, muito bem trabalhados pelos produtores.

Como num resgate a trabalhos anteriores, Madonna traz de volta a inquietação e a inovação de seu estilo musical que estiveram presentes nos memoráveis Ray of Light e Music, só que em vez de um folk eletrônico ou uma reconstrução pop do trance, temos um R&B fora de seu habitat natural, mas completamente confortável na reconstrução proposta pela Madonna. Não poderia dizer que foi uma proposta original ou inovadora quando o próprio Diplo, um dos produtores, repetiu suas próprias fórmulas já mostradas em álbuns como o Maya, da M.I.A, ou mesmo em seu álbum posterior, Matangi, que mesmo sem a produção dele possui semelhanças estruturais e estilísticas com o Rebel Heart. Porém, diferente de seu álbum Hard Candy, que também usa o hip-hop e R&B como estrutura básica, a Madonna se empenhou em apresentar um trabalho finalizado com grande esmero e qualidade estética, ainda que não seja um álbum verdadeiramente comercial, mas com grande potência para ser não só um dos melhores álbuns do ano, como também de sua extensa e valorosa carreira.

Ao passo que o álbum evolui, somos introduzidos cada vez mais profundamente neste coração rebelde. Ao passar das músicas o álbum vai se tornando mais introspectivo e sensual, com destaque para o trio “Best Night”, “Veni Vedi Vici” e “S.E.X”. que transbordam essas qualidades sem perder o apelo comercial graças às suas melodias agradáveis e construções envolventes. “Rebel Heart” teve seu conceito baseado numa espécie de dualidade entre o passional e a rebeldia, onde esperava-se uma clara divisão de estilo e lirismo, porém o álbum em vez de mudar sua cara, progride. Não há uma distinção, há uma evolução musical que percorre o álbum conforme ele avança, proporcionando uma profundidade que havia sido negligenciada pela Madonna em seus dois álbuns anteriores.

Ainda é cedo para afirmar até onde Rebel Heart irá, mas com certeza abriu o ano com grande entusiasmo e energia. Madonna afirma novamente, mesmo sem precisar, seu incrível potencial para a música, seja em criar letras e melodias sempre agradáveis ou para dirigir a produção de sua música para que atinjam suas exatas expectativas. A artista que trouxe ao universo musical obras-primas, shows e performances espetaculares, que construiu e reconstruiu diversas vezes um estilo, parece ainda ter muito o que mostrar (ainda bem!) aos seus 56 anos. Em meio a um acômodo generalizado na música, Madonna é, definitivamente, a vanguarda do pop.

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