Projeto Relendo: Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban





AVISO: CONTÉM SPOILERS

Devo dizer antes de mais nada que a continuação deste projeto me colocou numa posição privilegiada, pois o assumi no ponto alto da história, em um dos melhores livros da saga: O Prisioneiro de Azkaban. Como todos sabem, Harry agora inicia o terceiro ano na escola de magia e bruxaria de Hogwarts e finalmente está abandonando algumas características chatas da infância. Obviamente, algumas persistem até o fim da saga, mas existem mais momentos de lucidez neste volume de suas aventuras que nos anteriores. Talvez Hermione esteja finalmente lhe incutindo a maturidade que faltava a ele e a Rony. Me parece que nem mesmo somando a idade mental dos meninos que compõem o trio teríamos a metade da astúcia e inteligência emocional e prática de Hermione.

Bom, pela minha defesa descarada de Hermione já dá pra ver quem é minha personagem favorita no trio de estudantes mais famoso da escola. Hermione é prática, ágil, perspicaz e extremamente consciente de tudo que acontece ao seu redor. Entre os estudantes, é possivelmente a mais preparada para os desafios que Harry acaba tendo de enfrentar. Isso, ao contrário do que alguns pensam (perdi a conta de quantos debates online defendiam que Hermione tivesse um papel mais ativo na série), não faz com sua figura seja menos interessante. Harry é a criança da profecia (isso será revelado nos próximos livros), portanto, ele precisa enfrentar as coisas que enfrenta da forma como enfrenta.

Deixando de lado minha defesa furiosa de Hermione, retornamos a análise do texto. O prisioneiro de Azkaban é ninguém menos que Sirius Black, o padrinho de Harry, que foi incriminado por Pedro Pettigrew e cumpriu uma pena longuíssima em Azkaban, a terrível prisão para bruxos extremamente perigosos, guardada por dementadores, criaturas assustadoras e que possuem habilidades tenebrosas. Gostaria de escrever um longo texto comparando os efeitos produzidos pelos dementadores com a depressão, algo que J.K. chegou a mencionar em uma de suas entrevistas, mas precisamos nos focar no livro.

Após fugir de Azkabam, Sirius procura se vingar de Pettigrew. Ele tem certeza que o criminoso está vivo, afinal, o viu em sua forma de animago no ombro de Rony quando a família do jovem bruxo foi fotografada após receber uma premiação importante em um sorteio na comunidade bruxa. Os animagos são bruxos capazes de se transformar em um animal específico. É uma habilidade rara, muito complexa de ser alcançada e altamente vigiada pelo Ministério da Magia. Pettigrew, Sirius e Tiago (o pai de Harry) em seu tempo de escola conseguiram, porém, dominar a magia necessária para se tornarem animagos, tudo isso na intenção de se manterem próximos de seu amigo lobisomem, Remo Lupin.

No desenrolar de uma trama muito bem elaborada, Harry se vê no meio de um fugitivo e acusado de assassinato, um professor lobisomem e uma história surpreendente sobre o passado de alguns bruxos que parece inacreditável. Tudo se resolverá a duras penas e às custas de muita disputa, pernas quebradas violentamente, salgueiros bravos, gatos suspeitos e viagem no tempo. Não há novidade em nada do que eu disse até agora, caro leitor, você se lembra da viagem no tempo, do vira-tempo de Hermione (olha ela aí de novo) e do estalo horroroso que a perna de Rony fez ao se partir, não tendo resistido ao puxão de Sirius e a força das raízes do salgueiro-lutador, o que importa agora é: o que mudou da primeira leitura para a releitura atual?

Primeiramente, devo confessar que essa não foi minha primeira releitura, mas foi a única na qual me preocupei em fazer uma análise o mais friamente possível. Acredito que o resultado foi muitíssimo satisfatório. O humor deste volume é especialmente agradável, a reviravolta com a breve viagem no tempo é caprichosamente construída. Não gosto muito dos eventos que acontecem na viagem do tempo, não sou particularmente fã de paradoxos, viagens no tempo que só acontecem porque houveram viagens no tempo não me envolvem tanto quando poderiam. Mas a insatisfação perde, e muito, quando comparada com a capacidade única de J.K. Rowling de valorizar algumas cenas. Ela faz o mesmo em Morte Súbita, sua primeira obra assinada fora do mundo mágico de Harry Potter.

Após redirecionar muitos dos eventos graças ao vira-tempo, Harry e Hermione (Rony estava hospitalizado – a perna quebrada aflitiva o impedia de qualquer movimento) ainda têm a possibilidade de salvar Sirius e o fazem. Talvez a única cena mais intensa no filme que no livro seja aquela na qual Hermione, usando uma magia poderosa, explode a grade da torre onde o padrinho de Harry estava preso. No livro, porém, ele só precisa saltar no hipogrifo voador, guiado por Harry e Hermione. No mais, o texto é muitíssimo superior ao filme, nos detalhes, nos personagens, nas aventuras e especialmente porque perdemos o brilhante ator que interpretava Dumbledore nos primeiros dois filmes; Richard Harris foi substituído pelo enérgico Michael Gambon, que, apesar de ser um ator muito competente e de ter dado conta de outras características de Dumbledore, deixa muito a desejar se comparado com o estilo introspectivo e o ar sábio que Harris emprestava ao personagem.

O Prisioneiro de Azkaban é o único livro no qual Voldemort não aparece de forma direta.Nos dois primeiros, ele fracassa tentando roubar a pedra filosofal enquanto possuía o professor Quirrell, e fracassa novamente após Harry destruir o diário que alimentava uma parte da alma do Lord das Trevas. Neste livro, Rabicho (Pettigrew), após uma fuga desesperada, retorna ao seu mestre, o que culminará, no próximo volume da saga, na ressurreição extraordinária de Voldemort. 

Termino este comentário com o convite à releitura. Harry Potter merece o esforço e o tempo dispensado ao exercício de reler. As impressões geradas após a leitura são muito interessantes; os detalhes esquecidos e relembrados, a maneira de agir dos personagens e acima de tudo a percepção de que Harry Potter foi e continua sendo uma das melhores obras de fantasia infanto-juvenil de nossa geração.

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