Os filhos de Anansi, Neil Gaiman

“Essa história começa, assim como a maioria das coisas, com uma música. Afinal de contas, no começo havia as palavras, e elas vinham acompanhadas de uma melodia. Foi assim que o mundo foi feito, que o vazio foi dividido e que a terra, as estrelas, os sonhos, os pequenos deuses e os animais vieram ao mundo. Eles foram cantados.”

Charlie Nancy é o personagem principal nessa obra de Neil Gaiman. No início do texto, ele é apresentado como um homem mais pacato do que o recomendável, extremamente rotineiro, previsível e que tem uma vida e um emprego que tendem à monotonia. Charlie está prestes a se casar e, à pedido de sua noiva, acaba concordando em convidar seu detestável pai para a cerimônia, em uma tentativa de reaproximação, desejada pela noiva.

O pai de Charlie vive na Flórida e, no momento em que fica decidido que ele será convidado para o casamento, o que acontecia era uma noite de karaokê, na qual o pai de Charlie canta, dança e cai morto em cima de três moças, turistas semi-bêbadas e extremamente atraentes. Assim termina a vida daquele que posteriormente será revelado como Anansi, o antigo deus pagão que é o dono e contador de todas as histórias. Charlie sempre tentou manter distância de seu pai e somente a morte e algumas conversas com as vizinhas do deus desconhecido o fazem se interessar pelo passado do pai e, sem querer, entrar numa trama de ódio e inveja entre deuses, de magia entre mortais e divindades e de castigos malsucedidos.

“As diferentes criaturas têm olhos diferentes. Olhos humanos (ao contrário, digamos, dos olhos de um gato ou de um polvo) são feitos para ver apenas uma versão da realidade de cada vez. Fat Charlie via uma coisa com seus olhos, outra coisa com sua mente e, no espaço entre as duas coisas, a loucura o aguardava.”

Charlie tem que viajar até os Estados Unidos para o funeral e depois de um pequeno vexame no cemitério encontra-se com as vizinhas de seu pai, descobre que tem um irmão gêmeo e que este irmão pode fazer as coisas mais improváveis. De um momento para o outro, sua vida fica mais perigosa, interessante e cheia de mistério. No decorrer do relacionamento com o irmão acontecem intrigas, tramas dentro do trabalho de Charlie, romances paralelos entre Spider (o irmão de Charlie) e a noiva, viagens para fugir da polícia e um grande plano de um deus invejoso para roubar o direito pelas histórias que pertence a Anansi e seus filhos.

Os deuses são narrados de forma densa e lendas são relidas com imagens contemporânea sem perder o charme clássico. Neil Gaiman consegue fazer o leitor mergulhar na história, que é repleta de bom humor e mistérios. Para garantir o interesse do leitor, ainda existe uma trama policial a ser resolvida. Apesar de todo o rancor que Charlie sentia pelo pai e de toda a trama com relação a questões legais, tudo acaba sendo resolvido de forma muito crível. Gaiman não extrapola os limites das relações causais; todos têm limitações, inclusive os deuses, estejam eles encarnados ou não.

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