Perdido em Marte, Andy Weir




Acredito que os gêneros que rotulam os livros hoje em dia devam ser repensados. Usando-os como base, não há como categorizar “Perdido em Marte” de Andy Weir. Não é policial nem romance. Aproxima-se de ficção científica, mas com os avanços no campo da exploração aeroespacial e a proximidade com a realidade alcançada, é difícil chamar de ficção. É algo científico, isso com certeza, mas ainda falta algo para definir a dose de quase 400 páginas de pura ação. Tem drama, tem uma pontinha de romance, mas tem ação demais. Muita mesmo. Tá pronto?

Mark Watney é a décima sétima pessoa a pisar em Marte. É sim, deixa rolar. Um dos seis tripulantes da missão Ares 3, que explorava o planeta vermelho, Mark é deixado para trás porque sua comandante toma tal decisão acreditando que ele estava morto. Mark então começa seu diário em Marte e é basicamente nisso que consiste o livro: Watney contando seus dias tentando sobreviver na atmosfera hostil do planeta. E põe hostil nisso. Estando sozinho, ele deverá fazer uso do estoque limitado de coisas que possui para sobreviver até que a outra missão tripulada chegue até Marte e possa resgatá-lo. Os problemas nisso: tal missão só chegará em alguns anos, Marte não possui solo cultivável ou atmosfera respirável e sua comida não vai durar um quinto desse tempo. Mas ele vai tentar.

Paro de falar do plot do livro aí porque há muito desenrolar da história. Em cada página, somos inundados com problemas que acontecem ao passo que Mark pensa e aplica soluções. Sua situação é crítica e, mesmo beirando a uma morte horrível, o astronauta mantém o humor. Algumas passagens são realmente engraçadas, embora sempre embebidas numa tensão constante, afinal ele está morrendo. O aspecto da morte iminente do astronauta torna seus diários curiosamente mórbidos, mas não do tipo dramático. Mark, a partir do momento em que é abandonado, sabe que vai morrer. Toma como óbvio seu destino, mesmo que faça de tudo para muda-lo. Ele vai morrer. Só quer se manter ocupado. Esse pensamento, é claro, muda ao longo do livro. Várias vezes. Há momentos de esperança, quando há soluções planejadas sendo colocadas em prática, assim como há momentos de perda, quando tudo planejado e aplicado falha.

O livro todo é escrito em primeira pessoa e, em sua maior parte, em formato de diário. Demora muito para aparecer outros núcleos de história que não o de Mark porque ninguém, além de você lendo, sabe que ele ainda está vivo. Então há o problema, além de todos os outros, de conseguir contato para obter ajuda. A ajuda até é tentada. Várias vezes, mas deixo para você especular e, eventualmente, descobrir.

Weir, que parece ter conhecimento total sobre o que escreve, lança uma enxurrada de termos e nomenclaturas científicas no livro. Antes do fim do primeiro capítulo, o leitor já estará sabendo o que é uma expedição extra veicular ou veículo de ascensão de Marte. Embora muitos termos sejam absurdamente complicados, ele explica apenas uma vez e não precisará de lembranças (mesmo que ele, às vezes, as faça). As siglas são assimiladas imediatamente pelo leitor e torna o diálogo de Mark conosco natural e aí que o realismo é notado. O leitor passa, então, a ser um especialista espacial conversando com um homem fadado a morrer em Marte. Prepare-se para sofrer junto com ele.

Perdido em Marte já ganhou sua adaptação para o cinema e eu estou muito ansioso para assistir. Dirigido por Ridley Scott, o filme promete e me tranquiliza por ter a direção nas mãos de um diretor que sempre entrega um bom resultado mesmo através de um filme ruim. Parece confuso? “Êxodo” explica o que quero dizer. O papel principal é de Mark Whalberg que nem tirou o EAV (você saberá o que é isso) de Interstelar e já foi relançado ao espaço.

Além de uma rica história com diversas subtramas em um mesmo ambiente, Perdido em Marte é um livro que preenche muito bem todas as suas páginas. Sua ação não é forçada e a tensão se torna natural de tão constante. O livro começará e terminará com o leitor virando as páginas com pressa, lendo as frases rapidamente, ávido por saber do resultado das ações do astronauta. E quando você pensar que está tudo tranquilo, sempre haverá mais coisas acontecendo. Quando a solução parece certa, ela será arrancada sem aviso. É realmente um livro para mover o leitor. E move.

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