A Outra Volta do Parafuso, Henry James

Henry James, nascido em Nova York em 1843, foi um influente escritor no período denominado realismo na literatura do século XIX. Além de “A Outra Volta do Parafuso”, escreveu outros romances, contos e críticas literárias. É importante ressaltar que Henry James é um autor que consegue tecer tramas psicológicas com uma maestria raríssima e é justamente essa a grande questão de “A Outra Volta do Parafuso”.

A postura adotada por H. James é a de manter o mistério em aberto, desenvolvendo a possibilidade de uma história genuinamente de fantasmas ou de viés psicológico; o grande feito nesta obra é a permanência do suspense e do terror, mantidos independentemente da perspectiva do leitor, que ficará preso as páginas do livro, quer entenda a “Senhorita” como uma transtornada por problemas psicológicos, quer a entenda por assombrada por um fantasma. Essa dualidade de interpretações somente ocorre pela forma inteligente como o autor desenvolve sua escrita: os acontecimentos são narrados pela personagem principal (a Senhorita, sem nome), que afirma ver os fantasmas, sem que ninguém além dela os veja ou endosse suas visões.

A trama é aparentemente bem simples pois se resume a poucos personagens principais e a um local bem circunscrito: uma senhorita, religiosa, de família e educação humildes, mas que se prepara para ser professora, e um cavalheiro de boa posição social que a contrata para cuidar dos sobrinhos, Flora e Miles, sob a condição de jamais ser incomodado por problemas provenientes das crianças. No campo, em Bly, Essex, arredores de Londres onde se situa a mansão, a Senhorita conhece a Sra. Grose, cozinheira, de quem se torna amiga e confidente.

Ao chegar a Essex, a jovem nota duas aparições, atribuídas a antigos criados da casa, já falecidos, e, do momento em que esta visão ocorre até o final da obra, a jovem luta para vencer o abismo que impossibilita o diálogo entre ela e seu patrão e as crianças.

A outra volta do parafuso é repleto de mistérios. A dificuldade de diálogo, a possibilidade da Senhorita ser somente um louca que vê fantasmas e a forma como estes fatos são apresentados tornaram este livro polêmico e sobre o qual não há consenso até hoje. 

A construção do mistério se dá logo nas primeiras páginas, pois é uma história dentro de outra. Em uma reunião de amigos e entusiastas de histórias de terror em Londres, ocorre uma troca de relatos de histórias de terror. Douglas, um dos participantes, garante que contará uma história inédita, que é terrível e capaz de causar calafrios, ultrapassando todos os limites do fantástico, e que nada chega perto desta narrativa.

Todos são despertados por uma forte curiosidade, tanto o leitor quanto os personagens da primeira camada. Henry James garante a possibilidade de várias interpretações e a dúvida sobre o destino dos personagens dá um toque especial. É uma obra única e que garante o foco no seu desenvolvimento do começo ao final. É extremamente bem escrita, de fácil leitura e os personagens e diálogos são muito bem construídos. Vale a pena conferir essa disputa entre psicologia e existência factual, e, o melhor é que, o juiz sobre este aspecto é o próprio leitor.