Prince of Thorns, Mark Lawrence



A vingança é um assunto já relatado em diversos livros, filmes etc, mas em nenhum houve tanto entusiasmo quanto em Prince of Thorns. Mark Lawrence escreveu e entregou um narrador tão conturbado, problemático e vingativo que nos faz quase temer que tanto ódio seja real. “Nossa, que exagerado...” Ah é? Sou mesmo? Ok então:

Jorg Ancrath é um príncipe que viu seu irmão mais novo e sua mãe serem brutalmente assassinados. E presenciou isso preso em uma espinheira, que agradável. Após isso, ele é treinado e jura vingança. Até aí a história é comum e já foi vista em outro lugar, mas nem de longe é só isso. Jorg é um ser mau, no mais puro sentido da palavra. Ele matou, estuprou e se orgulha. Tudo que Jorg quer é ser rei e nada parece que vá impedi-lo. E isso tudo vindo de apenas 13 anos de idade. As cicatrizes existentes em Jorg vão muito além de físicas. A roseira (entenda como metáfora se quiser, funciona) parece ter injetado doses massivas de desejo na criança e agora isso se tornou uma doentia trajetória destrutiva. Jorg provoca sentimentos muito polarizadores nos leitores: muitos o amam e muitos o odeiam. Não existe meio termo. Ele é um exemplo de anti-herói, mas que para mim ficou mais como vilão mesmo. Ele é, antes de mais nada, uma bela leitura de uma distorcida mente humana.

Ambientado no que parece ser uma era medieval, o livro surpreende ao fazer referências a Nietzsche e Shakespeare, e levanta questões bem atuais sobre cristianismo e paganismo. Tais citações provocam um deslocamento abrupto, como se fôssemos arremessados da história e logo tragados de volta, repetidas vezes, até começarmos a aceitar a possibilidade de se passar em um futuro onde a humanidade tenha regredido a uma nova era medieval. O livro tem capítulos bem curtos, todos iniciados por uma citação sobre algum companheiro de Jorg, às vezes com um certo humor macabro, dando um toque bem mais tenebroso à obra. Por falar em toques tenebrosos, espere muita magia também.

O começo do livro soa exagerado, com assassinatos cometidos por motivos fúteis e tudo parece sem propósito. Demora umas 60 ou 70 páginas para engatar de fato, mas vale a pena esperar. Este não é um livro altamente descritivo, aliás, é bem pouco mesmo. O foco principal são as emoções de cada personagem. Você sabe exatamente o que Jorg quer, quem ele pretende matar, mas não deve saber como é sua cidade, por exemplo. A construção dos cenários fica, embora levemente conduzida, a cargo do leitor.

Outro aspecto relevante sobre o livro é a edição. A editora Darkside faz edições lindas, e essa foi uma das primeiras dela. O livro é em capa dura e o toque lembra uma espécie de veludo. A arte é muito bem feita e, dentro do livro, antes de cada capítulo, tem uma página preta com uma pequena citação em branco. Aparenta ser um trabalho minimamente planejado e executado. Prince of Thorns é claramente um marco, que te fará ler atrocidades provindas de uma pessoa terrível e se animar com elas. Até torcer por ele. Ou pelo fim dele. De alguma forma o livro despertará emoções intensas no leitor; se boas ou ruins, isso é difícil de prever.

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