O Menino do Pijama Listrado, John Boyne




Falar de “O Menino do Pijama Listrado” parece uma tarefa um tanto complicada e polêmica, ou mesmo simplória, na contramão, especialmente para alguém com sentimentos controversos em relação ao livro. Embora muito doce e amável, Bruno é mais uma daquelas crianças cegas e presas dentro de uma bolha criada pela família – e pelo dinheiro. Ele sai de Berlim com a família, muito contrariado, por causa do emprego do pai.

Seu pai era um soldado nazista, e a história se passa durante a II Guerra Mundial. Como criança, não sabia que havia uma guerra. O pai de Bruno é extremamente rígido, como é de se esperar de um soldado, e seus empregados e até mesmo sua família são apenas seus subordinados. O livro mostra alguns detalhes muito problemáticos da vida elitista, com a separação extrema da época. Não estou dizendo que hoje a situação social seja igualitária, mas não vemos com frequência crianças sendo contratadas (no caso, sem pagamento) para polir taças de cristal.

No que considera uma aventura pela nova cidade, em busca de crianças da sua idade, acaba deparando-se com uma cerca. Do outro lado da cerca havia um menino, Shmuel. Preciso falar que ele usava um pijama listrado? Bruno percebe que o garoto é diferente dele, mas não percebe o quanto, e nem que suas realidades e seus destinos são completamente opostos – ou pelo menos deveriam ser.

Ao longo das conversas, Shmuel conta alguns fatos da sua vida, por exemplo, como ele fala alemão sendo polonês. Sua mãe era poliglota e professora, uma mulher inteligente. Bruno também conta alguns fatos de sua vida, mas sempre soa um tanto arrogante, diferente do amigo.

Essa arrogância e ingenuidade de Bruno me incomodaram e me aborreceram o livro todo. Eu entendo que crianças são, em teoria, inocentes, e na época deveriam ser ainda mais. Entendo também que tudo era mantido em segredo. O que eu não entendo é como ele pode conhecer um garoto, notar que o garoto não está em boas condições de saúde, e então comer a comida que levaria para o dito garoto, num trajeto pequeno, e pouco depois de uma refeição.
“’Eu nunca tinha reparado antes.’ (...) Os meninos olharam para baixo ao mesmo tempo e a diferença era evidente. (...) Sua mão parecia saudável e cheia de vida. (...) A mão de Shmuel, entretanto, contava uma história muito diferente.”
A cena onde Shmuel está na casa de Bruno também me incomodou muito. Não sei se o objetivo do autor era enfatizar essa inocência e ingenuidade, ou mesmo a visão elitista de que tudo está bem e que todos vivem bem como eles. Se era esse, foi muito bem feito. Caso contrário, o efeito foi esse da mesma maneira.
“’Bem, porque a Alemanha é o maior de todos os países’, respondeu Bruno, lembrando-se de algo que ouvira o pai comentar com o avô em certo número de ocasiões. ‘Somos superiores.’”
Para mim, a enorme repercussão desse livro está apoiada em fatos simples. 1) Ele se passa na Alemanha nazista, durante a guerra; 2) Toca na questão da tortura e das péssimas condições de vida nos campos de concentração; 3) Envolve crianças; 4) É uma história sobre a amizade e sobre o acaso. (Puro azar, na minha opinião); 5) Vocês conhecem o final. Todos os itens chamam a atenção.

O livro é muito bem escrito, de leitura rápida e simples (acabei lendo-o em uma única noite), mas, como dito, alguns pontos dele me irritaram bastante. A visão do livro é bem interessante e ele possui alguns detalhes muito bem colocados. Foi um presente e, sabendo da minha irritabilidade, a pessoa que o deu para mim acabou dando boas risadas com meus comentários.

0 comentários:

Postar um comentário

 

BLOG HORRORSHOW - CRIADO E DESENVOLVIDO POR ARTHUR LINS - TODOS OS DIREITOS RESERVADOS © 2015